Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

ABI protesta contra demissão de jornalista

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI), pela sua Diretoria, fiel às suas tradições que remontam aos princípios erigidos por seus fundadores, vem a público lamentar o episódio envolvendo o jornal A Tarde e a demissão do jornalista Aguirre Peixoto, que impactou a classe dos jornalistas da Bahia. Entende a entidade que nenhuma força – econômica, política ou social – se impõe sobre os valores maiores dos homens livres. À frente de tais valores, se agiganta a força da liberdade de imprensa, da livre expressão, do livre dizer, do direito de informar e de ser informado.


Em uma síntese, é nesse conjunto de valores que se sustenta a democracia, essência que alicerça os homens iguais. A ABI lamenta e entende o fato como um retrocesso descabido, que se registra, justamente, quando a imprensa baiana está prestes a completar 200 anos de existência e tem sido, no decorrer do tempo, uma intransigente defensora das liberdades dos cidadãos e da democracia. O episódio desmerece a luta empreendida pela imprensa livre desta terra, que sempre encontrou no povo da Bahia o seu principal aliado e defensor. [Salvador, 9 de fevereiro de 2010]


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Carta Aberta da Redação de A Tarde


Hoje é um dia triste para não só para nossa história pessoal, mas também para A Tarde e, principalmente, para o jornalismo da Bahia. Um dia em que A Tarde, um jornal quase centenário e que já foi o maior do Norte e Nordeste, e que tinha o singelo slogan ‘Saiu n’A Tarde é verdade’, se curvou. Cedeu a pressões econômicas difusas e demitiu um profissional exemplar.


Aguirre Peixoto teve a cabeça entregue em uma bandeja de prata a empresas do mercado imobiliário em uma tentativa de atração/reaproximação com anunciantes deste setor. Tentativa esta que pode dar certo ou não. Uma medida justificada por um suposto ‘erro grosseiro’ não reconhecido pela diretoria de Jornalismo, pelo editor-executivo, pelo editor-chefe, por secretários de Redação, editor-coordenador ou editores de Política. Uma medida, enfim, que só pode ser entendida como uma demonstração de força excessiva, intimidatória à autoridade da direção de Jornalismo, à coordenação de Brasil e à editoria de Política. Uma demonstração de força desproporcional porque forte não é aquele que age com força contra algo ou alguém mais fraco; forte seria enfrentar, como o jornalismo de A Tarde estava enfrentando, empresários que, iludidos pela promessa do lucro fácil e rápido, põem em risco recursos financeiros de consumidores, o meio ambiente da cidade e que aviltam, desta forma, toda a cidadania soteropolitana.


Tempos medievais


Aguirre era o elo mais fraco da corrente. Acima dele havia editores, coordenador, secretários de redação, editor-executivo, editor-chefe, diretor de Jornalismo. Todos, em alguma medida, aprovaram a pauta, orientaram o trabalho de reportagem e autorizaram a publicação da reportagem. Isso foi feito sem irresponsabilidades, pois não foi constatado nenhum erro, muito menos um ‘erro grosseiro’. Se algum erro foi cometido, o erro foi o da prática do jornalismo, uma atividade cada vez mais subversiva em época em que propositadamente se misturam alhos e bugalhos para confundir, iludir e manipular a opinião pública, a sociedade, a cidadania. É de se estranhar que uma empresa que se coloca como defensora da cidadania aja de tão vil maneira contra um de seus melhores profissionais.


Recapitulando, Aguirre foi pautado para dar sequência às reportagens que fazia sobre a Tecnovia (antigo Parque Tecnológico). O fato novo era uma liminar concedida pela 10ª Vara Federal em que cassava multa aplicada ao empreendimento pelo Ibama. Era essa a pauta. No dia seguinte, a Tribuna da Bahia publicou matéria em que dizia que a liminar (decisão que pode ser revista) acabava com o processo criminal contra o empreendimento, que envolve governo do estado e duas poderosas construtoras. A matéria de A Tarde – dentro do padrão de qualidade que um dia fez deste um jornal de referência – ouviu o MPF e mostrou que se tratavam de dois processos distintos. O da multa, que foi cassada liminarmente e que o MPF afirmava que recorreria da decisão; e o criminal, que continuava em tramitação normal. A matéria de A Tarde estava tão certa que o MPF, posteriormente, publicou nota oficial na qual desmentia o teor da reportagem da Tribuna da Bahia (jornal que serve a interesses não republicanos, para dizer o mínimo). Essa foi a razão suficiente para o repórter ter a cabeça entregue como prêmio a possíveis anunciantes.


O interesse público? A defesa da cidadania? O histórico ético, de manchetes exclusivas, de boas e importantes reportagens? Nada disso importou a A Tarde. Importou a satisfação a um grupo de empresários, a uma, duas ou três fontes insatisfeitas. Voltamos a tempos medievais, quando fontes e órgãos insatisfeitos mandavam em A Tarde, colocavam e derrubavam profissionais. Tempo em que o jornalismo era mínimo.


Credibilidade pelo ralo


‘Jornalismo é oposição. O resto é balcão de secos e molhados.’ Essa é uma famosa frase de Millôr Fernandes. Dispensado o radicalismo dela, é de se ter em mente que Jornalismo é uma atividade que incomoda. Defender o conjunto da sociedade, seu lado mais fraco, incomoda. É preciso que a direção de A Tarde entenda que a sustentabilidade do negócio jornal depende do seu grau de alinhamento com a sociedade civil (organizada e, principalmente, desorganizada). A força de um veículo de comunicação não está nos números de circulação ou de de anunciantes, mas nas batalhas travadas em prol dos direitos coletivos e individuais diariamente aviltados pelo bruto e burro poder econômico.


Credibilidade é um valor que se conquista um pouco a cada dia e que se perde em segundos. E, graças a ações como esta, a credibilidade de A Tarde escorre pelo ralo a incrível velocidade, assim como sua liderança, assim como seus anunciantes. Sem jornalismo, o jornal (qualquer jornal) pode sobreviver alguns anos de anúncios amigos. Mas com jornalismo, um jornal sobrevive à história. {Seguem-se 132 assinaturas]


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Jornalistas de A Tarde acusam jornal de demitir repórter por pressão de empreiteiras


Izabela Vasconcelos # reproduzido do portal Comunique-se, 9/2/2011


Profissionais do jornal A Tarde acusam o veículo de ter demitido o repórter Aguirre Peixoto após uma matéria que prejudicou grandes empreiteiras, algumas anunciantes do jornal. Segundo os jornalistas, que divulgaram uma carta aberta nas redes sociais, o veículo cedeu à pressão de anunciantes.


‘Aguirre Peixoto teve a cabeça entregue em uma bandeja de prata a empresas do mercado imobiliário em uma tentativa de atração/reaproximação com anunciantes deste setor. Tentativa esta que pode dar certo ou não’, diz a carta-aberta escrita pelos colegas do jornalista.


Denúncias de crimes ambientais


Peixoto, que trabalhava há três anos no jornal, publicou a matéria ‘Tecnovia é denunciada por crime ambiental na Paralela’ no dia 02/2 e foi demitido no dia 8/2. Em agosto do ano passado, Peixoto foi alvo de ações judiciais, criminais e cíveis, por uma série de reportagens sobre crimes ambientais na construção do Centro Tecnológico do Governo do Estado da Bahia.


Na última semana, Aguirre foi pautado para dar sequência à série e falar da liminar concedida pela 10ª Vara Federal, que cassava multa aplicada ao empreendimento pelo Ibama. No dia seguinte, a Tribuna da Bahia divulgou que a liminar acabava com o processo criminal contra o empreendimento. No entanto, A Tarde ouviu o MPF e mostrou que havia dois processos diferentes. O da multa, que foi cassada liminarmente, e o criminal, que continuava em tramitação normal. ‘Essa foi a razão suficiente para o repórter ter a cabeça entregue como prêmio a possíveis anunciantes’, diz a carta-aberta.


Fim de anúncios


De acordo com Peixoto, após a série de reportagens, as construtoras deixaram de anunciar seus empreendimentos no jornal. No entanto, A Tarde não deu explicações para o jornalista sobre a demissão. ‘Um dos diretores disse que era contra minha demissão, mas que era uma decisão da empresa’, afirmou Peixoto.


O Comunique-se tentou contato com a direção do jornal, mas ainda não teve resposta. Por meio do Facebook, o superintendente de A Tarde, Renato Simões Filho, defendeu o jornal ‘A quem interessa achincalhar A Tarde? Com que objetivo’? E continuou. ‘Se a empresa toma uma atitude de acordo com seu julgamento, que se ouçam os argumentos antes de condená-la à execração. Os incendiários e indignados, por favor, se acalmem e venham para o entendimento’.


O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia protestou contra a demissão do jornalista e afirmou que pretende se reunir na Redação do jornal na tarde de quarta-feira (9/2), em uma Assembleia, para discutir o caso.


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A Tarde poderá rever demissão de jornalista e Redação aguarda em estado de greve


A direção do jornal A Tarde afirmou em reunião com a Redação e representantes do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia (Sindjorba), que poderá rever a demissão do repórter Aguirre Peixoto, dispensado do jornal na quarta-feira (9/2).


Segundo colegas de profissão, o jornalista foi demitido por pressão do mercado imobiliário, que se sentiu prejudicado com uma série de reportagens, assinadas por ele, com denúncias sobre crimes ambientais. No entanto, o veículo nega e diz que a demissão aconteceu por questões administrativas. Antes disso, Peixoto já havia sido processado por uma das empreiteiras pelas matérias.


O jornal também se comprometeu a redigir uma linha editorial clara. Até que isso aconteça, a Redação anunciou que está em estado de greve. Ontem [9/2] à noite, alguns profissionais cruzaram os braços por duas horas, para pressionar a direção da empresa a explicar a demissão de Peixoto.


Para uma fonte do veículo, que não quis se identificar, apesar de o jornal admitir rever a demissão, essa decisão pode ser apenas simbólica, sem grandes mudanças na vida de Peixoto. (Izabela Vasconcelos, 10/2/2011)


 


 

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Presidente da ABI-BA