‘Aos inimigos até a calúnia.’ Nunca esqueci deste lema, apregoado por um chefe dessa capital federal, onde vivo, a um grande amigo meu, segundo ele como se fosse um grande, inesquecível e inestimável ensinamento.
Quando, ainda estupefato, o amigo me contou o que ouviu, lembro de ter refletido com ele sobre a capacidade da luta pelo poder de revelar toda mesquinhez dos seres humanos. Será que somos todos assim, capazes das maiores crueldades, seguidores do lema ‘os fins justificam os meios’?
Vivemos o espetáculo da notícia. Não há lugar para bons modos, bons moços. Há menos espaço ainda para lembrar dos feitos do Presidente Lula no que diz respeito a dossiês e acusações infundadas, que ele sempre recebeu e tratou cuidadosamente, como o famoso e fraudulento dossiê das Ilhas Cayman.
Há quantos anos vivemos este toma-lá-dá-cá nas relações do Executivo com o Legislativo? Põe anos nisso: desde a ditadura militar, quando o Congresso se manteve aberto para dar legitimidade a um regime de exceção e o governo ‘linha dura’ tinha como base aliada o partido da Arena.
Será que se a imprensa investigativa fosse mais atuante teríamos reeleito tantos políticos viciados nesses costumes de barganhas tão enraizados nesses poderes da República?
Por que a imprensa ‘livre’ e investigativa deixou de informar sobre a trajetória de políticos que publicamente se beneficiaram do poder? Será que não foi essa omissão que ajudou a reeleger políticos de comportamento questionável? Ou será que nesse caso também houve uma espécie de barganha, de recompensa pelos serviços ‘não prestados’ por meio de concessões de rádios e televisão?
Nunca a Polícia Federal atuou tanto contra o crime de colarinho branco na máquina do Estado como no governo Lula. No entanto, segundo a divulgação da pesquisa Datafolha, a percepção é de que a corrupção tem crescido. Será culpa da comunicação do governo Lula a falta de visibilidade da repressão aos assaltantes do Erário ? Ou será que são excelentes informações para se criar clima de grandes negócios entre o poder privado e político de oposição?
Impeachment é o golpe final dos que sempre se locupletaram do poder público. Existe barganha para a desonestidade intelectual? Não é possível. Confio nos profissionais que são o alicerce da lisura e do bom jornalismo. Meu desabafo e minha gratidão.
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Servidora pública federal, pós-graduada em Ciência Política, e especialista em políticas públicas no Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB)