Com a redução no tamanho das redações americanas, alguns cargos começaram a desaparecer. Um deles é o inusitado posto responsável pela cobertura de execuções de penas de morte. Estes jornalistas testemunham as execuções de criminosos condenados em estados onde ainda existe este tipo de pena.
Michael Graczyk, repórter da Associated Press em Houston, no Texas, é um desses profissionais. Desde a década de 1980, ele acompanha execuções no estado e, sempre que possível, entrevista os condenados e suas famílias. Quando Graczyk começou no cargo, cobrir uma execução era algo obrigatório em um jornal. Esta prática, entretanto, foi diminuindo com o tempo. ‘Há momentos em que eu sou a única pessoa presente sem envolvimento e interesse em como o episódio vai acabar’, diz o jornalista.
A AP acompanha cada execução, prática que os jornais do Texas encorajam. ‘Nossa equipe tem metade do tamanho que tinha há três anos, por isso é mais difícil enviar alguém. Mas sabemos que podemos contar com a AP’, diz Jim Witt, editor-executivo do Fort Worth Star-Telegram. Poucos jornais, como o Houston Chronicle, ainda cobrem execuções rotineiramente quando estas são nas redondezas, mas não nas cidades mais distantes. Apenas o Huntsville – pequena publicação perto de uma penitenciária onde ficam os condenados à morte – cobre todas, não importa em qual lugar do estado.
Graczyk especializou-se neste tipo de cobertura há quase trinta anos, pouco depois de o Texas ter voltado a executar criminosos condenados. Ele geralmente cobre os crimes, os julgamentos e as apelações. No começo, lembra, havia poucas execuções por ano, mas o ritmo foi aumentando consideravelmente. Desde 1982, o estado executou 441 pessoas – o número do Texas ultrapassa o total de execuções dos outros seis estados americanos com pena de morte. Somente de 1997 a 2009, foram 334.
Noite Feliz
Nestas décadas, Graczyk passou por situações marcantes. Ele conta que, nos últimos momentos de condenados antes da injecão letal, alguns já o chamaram pelo nome, outros cantaram e rezaram e, certa vez, um deles cuspiu uma chave de algema. Ele também já ficou lado a lado com testemunhas que desmaiaram, viraram as costas, encararam, choraram e até comemoraram.
Nenhum jornalista, policial, chefe de segurança ou padre viu tantas execuções no Texas quanto Graczyk, que tem 59 anos. Na verdade, provavelmente ele bateu o recorde de frequência de execuções nos EUA. O seu trabalho pode ser encarado como pesado emocionalmente, mas ele tenta encará-lo de maneira leve, evitando se envolver e dizer se é contra ou a favor da punição. Se tem escolha, prefere ficar na sala da família da vítima do que na do condenado, em parte porque termina a matéria mais rápido. ‘O ato é muito clínico, quase anticlimático. Quando chegamos na câmara de morte, o condenado já está amarrado com a agulha em seu braço’, conta. Ele fica do outro lado do vidro, onde pode ouvir o condenado por meio de alto-falantes. Os criminosos tomam um coquetel de remédios que os faz dormir em segundos. A morte acontece em poucos minutos.
Antes disso, o condenado tem direito a um último depoimento. ‘Um deles cantou Noite Feliz e não era nem perto do Natal’, lembra. ‘Não consigo mais ouvir a música sem pensar nele, ficou realmente na minha mente’. Informações de Richard Pérez-Peña [New York Times, 21/10/09].