Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘NA SEMANA PASSADA, aconteceram no Rio de Janeiro incidentes dramáticos, decorrentes de situação já crônica de insegurança pública provocada pelo tráfico de drogas em algumas regiões da cidade, o que não é uma exclusividade sua e existe, em graus diferentes, em outras metrópoles do país.


Trata-se de gravíssimo problema nacional, que não tem tido resposta eficaz nem dos poderes públicos nem da sociedade. A comoção provocada pelo abate de um helicóptero da PM por traficantes e pelos combates que se seguiram com mais de 30 mortes foi ótima oportunidade para o jornal dar elementos para o leitor entender as causas desse estado de coisas.


Infelizmente, até a sexta pelo menos, jogada fora. A cobertura dos acontecimentos foi em geral insípida, superficial, sem garra; mal chegou a arranhar os temas nevrálgicos da questão.


Um artigo na segunda-feira que criticava a atitude meramente reativa da polícia, uma entrevista com especialista na terça sobre erros da política do Estado, segundo ela com uma só diretriz (a do enfrentamento) e uma reportagem na quinta revelando que o governo do Rio retém a verba de segurança pública e quase não faz investimentos novos no setor foram os únicos bons momentos das páginas noticiosas. Fora isso, um ou outro colunista propôs ideias estimulantes ou ofereceu informações relevantes.


Os textos nem se acercaram de explicações sobre a intricada relação que existe entre práticas ilegais, como jogo do bicho e narcotráfico, e informais, como muitas atividades econômicas, e destas com práticas estabelecidas, quase institucionais, de clientelismo e corrupção e prestação de serviços, como proteção individual e de patrimônio e até educação e saúde.


Nada foi dito sobre o nível de organização das facções criminosas que atuam no Rio nem dos contatos que mantêm entre si ou com as de outras cidades e Estados. Não se fez uma comparação sobre a atual política estadual de combate ao crime com a dos antecessores do atual governador. Nem se examinou qual o papel que cabe à administração federal nessa situação e se ele está sendo cumprido ou não a contento.


Assuntos como a conveniência do regime de progressão de pena para pessoas sentenciadas e quais as alternativas para ele não mereceram a devida atenção. Um colunista mencionou os gastos feitos pelo governo federal no Haiti e o sucesso que as tropas do Exército brasileiro tiveram naquele país em sua tarefa de pacificar comunidades, mas este tema tampouco foi aprofundado.


Em compensação, houve muitas comparações impróprias, por exemplo com o ambiente na faixa de Gaza (em título de reportagem na quarta), ações terroristas ou atividade de guerrilha. O que ocorre no Rio e em outras cidades brasileiras em relação ao tráfico não tem nada a ver com isso nem com a realização da Olimpíada, outra lembrança constante e errada.


PARA LER


‘Crime e Violência no Brasil Contemporâneo’, de Michel Missi, Lumen Juris, 2006 (esgotado, encontrado em bibliotecas) ‘Segurança, Tráfico e Milícias no Rio de Janeiro’, vários autores (acessível no endereço http://www.global.org.br/)


PARA VER


‘Notícias de uma Guerra Particular’, de João Moreira Salles e Kátia Lund, 1999 (a partir de R$ 54,90)


‘Conexões Urbanas’, com José Junior (AfroReggae), hoje às 8h30, as sextas às 23h e em horários alternativos no canal de TV paga Multishow’


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‘Cesgranrio esclarece dúvidas’, copyright Folha de S. Paulo, 25/10/09


Sobre as dúvidas apontadas no domingo passado por esta coluna como não esclarecidas pelo jornal quanto às razões por que a Cesgranrio aceitou fazer a nova prova do Enem após não ter participado da concorrência para a que acabou fraudada, recebi da fundação estas explicações, pelas quais agradeço.


‘A Fundação Cesgranrio preferiu não prosseguir no certame de vez que, havendo outro concorrente habilitado, os prováveis recursos administrativos nas etapas seguintes da licitação tornariam inexequível o prazo para viabilizar a realização do Enem 2009, um projeto que considera da maior importância para a educação brasileira.


Por ocasião da concorrência, ela compareceu individualmente e, agora, os procedimentos exclusivamente para aplicação e correção das provas serão compartilhados com o Cespe-UnB.


O Inep selecionou, também, uma gráfica para impressão das provas e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos para transportá-las para os locais de aplicação sob sua responsabilidade.’


A nota da Fundação Cesgranrio acima resumida elucida de modo satisfatório, em minha opinião, pelo menos este aspecto falho da cobertura sobre a fraude no Enem.’


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‘Onde a Folha foi bem…’, copyright Folha de S. Paulo, 25/10/09


ENERGIA ELÉTRICA


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…E ONDE FOI MAL


NOVO MINISTRO


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Pró-Memória


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ASSUNTOS MAIS COMENTADOS DA SEMANA


1. Violência no Rio


2. Lina e Dilma


3. Coluna do ombudsman’