A partir desta edição muda o critério de aceitação de comentários para os artigos publicados neste Observatório. De agora em diante, será preciso a confirmação de um endereço de e-mail válido para que o comentador(a) possa participar dos fóruns. Isto se dará por meio de uma autorização que o remetente deverá enviar ao OI apenas uma vez. O procedimento só será repetido se o mesmo leitor(a) comentador(a) postar comentários a partir de outro endereço que não aquele previamente autorizado.
A providência visa a criar um entrave a mais aos mal-intencionados, delirantes, aos spammers e doidos varridos que povoam os espaços virtuais; e aos canalhas – porque também os há –, aos intolerantes, aos mentirosos, aos racistas e aos que dispensam o saudável exercício da crítica para render-se ao apelo fácil da ofensa pessoal.
Estranho adotar filtros desse tipo num site que desde abril de 1996 – há quase 14 anos – sempre garantiu espaço às críticas. Embora essa pesquisa ainda não tenha sido feita, é muito provável que se possa comprovar a hipótese de que o Observatório da Imprensa tenha sido o veículo jornalístico brasileiro que mais críticas publicou (e publica) contra si próprio. Nunca deixaremos de divulgá-las, até porque aprendemos com elas. Mas acabou a tolerância involuntária para com a agressão, a fraude e a mentira dissimulada.
É também para combater as fraudes que este OI encerra as atividades de sua urna eletrônica, dona de um espaço tradicional na página principal do site. Nunca se teve ali a pretensão de uma pesquisa científica, mas tão-somente uma enquete capaz de apontar tendências e medir o pulso do leitorado sobre um tema midiático de interesse geral. Ocorre que, mais de uma vez, a urna sofreu ataques de crackers e, na sequência, criamos um sistema de validação dos votos que, no decorrer do processo, igualmente se mostrou permeável a manipulações – com um pouco de paciência, era possível votar mais de uma vez e, por isso, os resultados eram passíveis de ser dirigidos. Impraticável aferir tendências assim. Fim da urna, portanto. Em seu lugar, a seção ‘Marcha do Tempo’ vai relembrar artigos aqui publicados dez anos atrás.
[N. do E., acrescentado às 13h40: Embora os artigos da ‘Marcha do Tempo’ apresentem, no pé, um ícone com a mensagem ‘Mande-nos seu comentário’, não será possível comentar ali porque aquelas páginas são antigas, construídas em HTML puro, e não vinculadas ao atual banco de dados de comentários.]
Identificação fajuta
O Observatório nasceu num tempo em que os internautas, ou boa parte deles, se esforçavam em comportar-se sob as regras tácitas de uma tal netiquette, neologismo para ‘network etiquette’, ou a ‘etiqueta da rede’, utilizada em chats, e-mails e manifestações em listas de discussão – os blogs ainda não existiam (ver aqui). Não era uma norma, mas um protocolo de intenções (já então ilusório, agora se percebe), um wishful thinking abraçado por navegantes imbuídos em dotar de alguma civilidade o ambiente virtual nascente.
Os entrados nos 50 anos devem se lembrar de quando as primeiras motocicletas ‘brasileiras’ começaram a ser fabricadas na Zona Franca de Manaus. Eram tão poucas as motos no trânsito das grandes e médias cidades no início dos anos 1970 que, ao se cruzarem, os motoqueiros costumavam trocar saudações com uma buzinada breve, apenas um toque. Era como dar ‘bom dia’, ‘boa tarde’ e ‘boa noite’ nos dias que correm, pelo menos para os que ainda mantêm esse hábito aliado ao uso do ‘com licença’, ‘por favor’ e ‘obrigado’.
Entretanto, sabe-se, o trânsito das cidades maiores se tornou caótico, as médias e pequenas vivem o boom do transporte individual, e o veículo automotor passou a valer mais do que as pessoas. Na internet, a evolução tecnológica, fundada no aumento geométrico dos padrões de conectividade e na ampliação exponencial das formas de interatividade, transformou a rede numa selva sedutora, cada vez mais necessária e às vezes inóspita, repleta de preciosidades mas também habitada por criminosos virtuais, pirados e hackers do mal – além dos justos, honestos e bem-intencionados, porque também os há. A saudação deu lugar ao flame.
No que respeita ao Observatório da Imprensa, a intenção primitiva de fazer deste site um espaço privilegiado no qual a cidadania debata a mídia que consome – e com a qual interage – conta agora, com a paulatina modernização dos sistemas, com a chance de radicalizar o propósito de preservar ao máximo a civilidade dos debates. E esses novos controles entram em operação não por vontade íntima dos editores, premidos pela força irresistível das circunstâncias. Sua adoção tem mais a ver com o respeito que dedicamos aos leitores e leitoras do que com quaisquer veleidades dirigistas.
Agora, por exemplo, é possível, no sistema de administração do site, visualizar o IP (Internet Protocol, o número que possibilita identificar o usuário de determinada máquina ligada à rede) de origem dos comentários postados na área a que chamamos internamente de ‘Canal do Leitor’. Esta funcionalidade é recente, foi anunciada em nota publicada em janeiro (‘Observatório em casa nova‘). Mal entrou em uso, qual não foi a surpresa dos moderadores do canal ao constatarem, mais de uma vez, o envio de mensagens variadas com nomes diferentes e vindas de locais tão distintos como Icó (CE), Águas Claras (DF), Cuiabá (MT) e Esteio (RS), todas oriundas de… um mesmo IP. Muito engraçadinho, mas nada foi publicado.
Pior sentimento
Embora a condição de moderador possibilite o contato com argumentações inteligentes e críticas demolidoras – porque justas –, a tarefa implica também a convivência forçada com a arrogância, a desinformação, a análise autocentrada ou a ignorância singela. Desde que não eivadas de ofensas, xingamentos e impropérios, essas manifestações no mais das vezes são publicadas em nome da democracia e os produtores dos disparates que se responsabilizem por eles. Publicá-los, pois que assinados e de autoria devidamente identificada, significa algo como ‘toma que o filho é teu’, ou, mais perversamente, ‘ah, é? exponha-se, então, à execração pública’.
Vez por outra, porém, e quando há tempo para tanto, o moderador é instado a dialogar com o leitor(a) na tentativa de explicar algo que julgava ter ficado claro no motivo do comentário, e pelo jeito não ficou. A história do OI coleciona ‘conversas’ muito produtivas com base nessas iniciativas, algumas das quais derivaram para a amizade virtual. Em outras ocasiões, é-se tentado a simplesmente responder, em privado, na mesma moeda cunhada pela ofensa descabida, pelo ataque infundado ou pelo movimento de pura má-fé. Perdem-se (quando é melhor ganhar), então, alguns minutos para escolher as palavras e explicitar seu inconformismo em mensagem pessoal:
‘Prezado Fulano, desculpe, mas devo dizer isso só entre nós: que pobreza de argumento, que comentário estúpido. Não vou polemizar com você e nem responder a qualquer manifestação sua. Entre minhas atribuições no OI também está a moderação de comentários. Ontem validei um comentário seu, duríssimo, mas este de hoje, nesses termos e com essa dose de maldade, passou dos limites. É vil, e você sabe que é. Por isso não será publicado. Você não sabe fazer crítica porque pensa com o fígado e não admite o que contradiga seu pensamento blindado. Feliz naufrágio. Cordialmente etc., etc. etc…’
Envia-se a mensagem para aquele que se julgava existir. Enviado! Segundos depois, resposta do servidor com as indicações de praxe e…
Action: failed
Status: 5.0.0
Remote-MTA: dns; mx1.HOTMAIL.COM
Diagnostic-Code: smtp; 550 Requested action not taken: mailbox unavailable
Tradução: aquele e-mail não existe, aquele comentador(a) é uma fraude. Outro infame, do tipo que provavelmente espanca crianças, despreza os idosos e é infeliz no amor. Mais um daqueles aos quais só é permitido o pior dos sentimentos: a pena. E vamos em frente.