Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Brasil está muito atrasado

Enquanto se discute a criação de um Plano Nacional de Banda Larga, o Brasil ainda vai levar mais de três décadas para atingir os níveis atuais da Suécia, onde 37,1% da população têm internet fixa em alta velocidade. E mantido o atual ritmo de crescimento, todos os 192 milhões de brasileiros só terão acesso à rede em… 104 anos – ou seja, em 2114. Na 60ª posição, o maior país da América Latina tem apenas 5,8% das pessoas com acesso à banda larga, tecnologia essencial para o crescimento econômico e uma maior inserção do país no cenário internacional, dizem analistas do setor.

A abrangência da banda larga nos países faz parte de levantamento feito pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), com base em dados do Banco Mundial.

De 2004 a 2008, a banda larga fixa avançou em média 35% ao ano no Brasil, número menor que em outras nações da América do Sul e em países desenvolvidos.

Especialistas, no entanto, lembram que Brasil e Suécia são bem diferentes, a começar pela dimensão territorial e pela alfabetização de 100% da população sueca, assim como em outras nações ricas. Para ampliar o acesso à banda larga no Brasil, analistas lembram que é preciso mais competição, já que, por exemplo, as empresas de TV por assinatura via satélite não podem oferecer internet, como acontece em outros países.

Além disso, a carga tributária também emperra o avanço, pois os tributos representam 43% do preço do serviço.

Novas tecnologias podem facilitar acesso à banda larga

Segundo Guilherme Mercês, chefe da Divisão de Estudos Econômicos da Firjan, o objetivo do trabalho é mostrar que é preciso empenho para se criar um plano para o desenvolvimento da internet em alta velocidade no Brasil.

– A média de crescimento no país entre 2004 e 2008 foi de 0,9 ponto percentual. O número é menor que em países como Uruguai, que avançou dois pontos percentuais no período, Argentina (1,7 ponto) e Chile (1,4 ponto). Nos Estados Unidos, a alta média nos últimos anos foi de 3,3 pontos – diz Mercês.

Segundo João de Deus, diretor de Planejamento Executivo da Oi, o Brasil ainda é novato em internet por uma questão histórica.

O executivo lembra que, enquanto as empresas privadas no país começaram a investir em telefonia fixa em 1998, com a privatização do Sistema Telebrás, os países desenvolvidos já aplicavam em banda larga.

– Antes de 2004, as empresas ainda estavam pagando o investimento móvel. Então, o Brasil está atrás porque começou depois. Mas agora a diferença tende a ser reduzida. Apesar dos desafios de renda, o Brasil é um dos países que mais navega na internet – diz João de Deus.

Segundo dados do Banco Mundial, diz o executivo da Oi, a cada dez pontos percentuais de avanço da banda larga no Brasil – o que deve levar cinco anos – o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todas as riquezas produzidas no país) ganha impulso de R$ 300 bilhões.

Na avaliação de Virgilio Freire, consultor e ex-presidente da Vésper e da Lucent, a falta de ação da Anatel impede o avanço da rede. Para ele, governo e empresas ‘devem alinhar interesses’: – Se a agência exercesse seu poder, o cenário seria outro. E as companhias têm de investir mais, principalmente em capacidade nos grandes centros.

Sobre o Plano Nacional de Banda Larga, o consultor diz que o projeto só terá sucesso se a expansão do serviço tiver como meta um prazo de até quatro anos. Para isso, o melhor caminho seria usar o sistema de fios das estatais:

– O ideal é que a Telebrás alugue sua rede para as operadoras.

Com isso, as empresas poderão oferecer mais capacidade aos clientes. E nas cidades onde não há viabilidade econômica o governo entraria oferecendo o serviço.

Atrás da Rússia e China

Segundo a consultoria Teleco, a banda larga chegou a 5,8% da população no Brasil no fim de 2009, uma alta de meio ponto em relação ao ano anterior. Eduardo Tude, presidente da Teleco, lembra que apesar de a internet estar presente em 88% dos municípios brasileiros, é preciso investir em capilaridade das redes.

Ele exemplifica: nos grandes centros, não há infraestrutura para atender a todos; e no interior não há rede.

– O mundo está fazendo seu plano para incentivar a banda larga. É preciso que seja feito um estímulo para as empresas investirem – pontua Tude.

A jovem Luana Dantas, de 19 anos, e que trabalha na central de atendimento em um shopping na Barra da Tijuca, reclama dos altos preços para se ter internet banda larga.

– Além disso, onde moro, na Zona Oeste do Rio, a velocidade não é muito alta. Deveriam existir mais empresas oferecendo o serviço – diz Luana.

As políticas públicas são essenciais para o avanço da banda larga no país, segundo analistas. Enquanto o governo tem dificuldade para implantar telecentros comunitários, o Programa Banda Larga nas Escolas chegará ao fim deste ano a 64.800 instituições de ensino. No fim do ano passado, eram 42.900 escolas.

Segundo César Rômulo, superintendente da Telebrasil, associação que reúne empresas de telecomunicações, é preciso baixar a carga tributária.

– Hoje, há cerca de 99 mil lan houses no Brasil. É preciso, antes da banda larga, ter computador nas casas das pessoas.

E incentivo é fundamental. Mas vale destacar que países diferentes não podem ser comparados.

A Suécia, por exemplo, não tem os problemas de renda e escolaridade que tem no Brasil – diz Rômulo.

Estudo mostra Brasil atrás de China e Rússia Lucas Pestalozzi, diretor da consultoria TNS, diz que o crescimento vai depender também da implantação de novas tecnologias, que podem reduzir custos, como a internet por meio da energia elétrica. Rogerio Takayanagi, diretor de marketing da TIM, pondera que o crescimento da banda larga virá de várias formas, como a rede sem fio, as ondas de rádio e até a terceira geração da telefonia móvel. A TIM pretende usar a rede da Intelig para oferecer soluções de banda larga fixa.

– Estamos nos preparando para melhorar a oferta. A ampliação da banda larga no Brasil passa pelo celular. O país é muito complexo. É preciso esforço – ressalta Takayanagi.

O levantamento da Firjan constatou ainda que Brasil está atrás de países emergentes, como Rússia e China. Segundo Mercês, a Rússia alcançaria o mesmo nível da Suécia em 2028 e a China em 2036, enquanto o acesso a toda população seria atingido em 2070 e 2094, respectivamente.