Responda rápido: o que o prefeito de São Paulo, o governador do Distrito Federal e o ex-ministro José Dirceu têm em comum?
Fora do governo desde 2005, quando foi acusado de chefiar um esquema de caixa 2 que foi chamado de ‘mensalão’, o ex-ministro Dirceu preserva sua posição de influência no Partido dos Trabalhadores. Para se contrapor ao noticiário da chamada grande imprensa, que lhe é sempre desfavorável, publica um blog no qual expõe sua intimidade com os bastidores do poder do qual foi oficialmente excluído.
De quebra, usa sua mídia em favor dos clientes de seu escritório virtual de lobista, como ficou claro no caso do Plano Nacional de Banda Larga.
José Dirceu é acusado de influenciar o governo numa decisão que pode proporcionar grandes lucros a um de seus clientes.
No Distrito Federal, a mistura entre interesses privados e negócios públicos, que já colocou na cadeia o governador licenciado José Roberto Arruda e acaba de obrigar o vice-governador, Paulo Octávio, a renunciar, tem outra natureza. No caso de Brasília, os próprios beneficiários se apossaram do poder, pelo voto, para montar seus negócios graças a mudanças na legislação urbana da capital federal.
No caso paulista, onde o prefeito Gilberto Kassab e oito vereadores ainda correm o risco de cassação, por haverem recebido ajuda financeira de uma associação de construtoras, também fica claro, segundo a imprensa, que há uma relação direta entre a doação de dinheiro para campanha eleitoral e as mudanças na Lei de Zoneamento, com o objetivo de proporcionar grandes lucros aos doadores.
Mais atenção
Se for basear sua opinião no que dizem as edições dos jornais de quarta-feira (24/2), o leitor vai concluir que são três casos de uso do poder ou da influência sobre o poder público para beneficiar interesses privados. Mas há diferenças fundamentais entre os três personagens e suas histórias pouco edificantes.
Os personagens de Brasília e da capital paulista são oficialmente acusados, estão sendo julgados e já foi demonstrado que suas ações como gestores públicos beneficiaram seus parceiros da iniciativa privada.
No caso do ex-ministro José Dirceu, trata-se de um negócio ainda em andamento, e a publicidade em torno do plano de banda larga, feita pelo próprio governo, reduz as chances de seu cliente vir a ser beneficiado.
O Globo esclarece que o cliente de Dirceu não tem direitos sobre o uso da rede de fibra óptica que pode vir a ser usada no plano.
A imprensa prestaria melhor serviço se esclarecesse essas diferenças.