Acaba de sair o número 1 de uma nova revista sobre um velho tema: Língua portuguesa (Editora Segmento, São Paulo; R$ 7,90). Reunindo nomes de militantes lingüísticos: Moacyr Scliar, Pasquale Cipro Neto, Jean Lauand, Gustavo Acioli, Josué Machado. Sem papas na língua verde e amarela, não obstante o adjetivo ‘portuguesa’.
A revista tem site, obrigação mínima na Idade Mídia. E dedica em sua estréia, para dar exemplo, um artigo ao tema do e-mail, porque o estilo ao escrever uma mensagem eletrônica é importante, não é, galera? Blz? Bom, entaum depois eu posto alguma coisa sobre esse tema, blz? Entaum depois nois conversa…
Não é revista vanguardeira. O leitor em vista quer uma revista. Que seja. Que veja. Despretensão.
A entrevista é com Millôr Fernandes (e ele na capa). Na capa também o desenho de um asqueroso vírus, o do gerundismo, que eu vou estar comentando para você estar lendo em algum artigo que estarei escrevendo.
O trocadilho Millôr-melhor não é dos piores. O bom é ver um profissional da linguagem contando suas aventuras verbais. Com humor, ou não teria graça. Graciosa e dengosa e geniosa língua, lembra Millôr. Onde já se viu a palavra ‘oxítona’ ser proparoxítona? Só aqui já se tem uma pequena grande amostra.
Expressão paulista
É simples complicar, o complicado é simplificar. A revista veio para simplificar uma complexa experiência viva com a linguagem.
Pasquale, didático, lembra em sua argumentação o poeta-diplomata João Cabral e o poeta-ministro Gilberto Gil. Jean Lauand, professor da Faculdade de Educação da USP, pesquisador das entranhas idiomáticas, faz uma explanação genial sobre o neutro embutido na fala (o que explica o nosso ficar em cima do muro, o nosso ‘um minutinho’ que dura eternidades, e outros achados). Josué Machado, em seção chamada ‘Arena’ (nada a ver com o antigo partido político?), analisa as metáforas lulais, desmontando o discurso presidencial.
Confesso que não me atraíram as palavras cruzadas e o teste de gramática no final da publicação. Implicâncias minhas, que só reafirmam a vigência do conhecido chavão – é impossível agradar a todos.
Mas também é impossível desagradar a todos. Luiz Costa Pereira Junior, editor da revista, sabe disso, ele que é autor de um livro nada reverente, Com a língua de fora, no qual rastreia o obsceno na palavra brasileira. E que me permitam usar uma expressão tipicamente paulista: ele produziu uma puta revista…
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Doutor em Educação pela USP e escritor, (www.perisse.com.br)