Você conhece um senhor chamado mercado? Sabe onde mora, conhece o seu número de telefone, o nome da secretária?
Ninguém conhece o senhor mercado mas o senhor mercado esteve nas manchetes de todos os jornais e telejornais dos últimos dez dias com vontade e personalidade própria como se fosse um ser vivo, gente como a gente. Tentou-se até fotografá-lo mas no máximo conseguiu-se a clássica imagem dos operadores desesperados ou exaustos.
E o que faz o leitor que deseja saber as opiniões do senhor mercado? Lê as matérias e descobre que o mercado mencionado no título não fala, quem fala em nome dele são os analistas dos bancos, os operadores das corretoras, os investidores.
Mas será que esses que falam em nome do mercado são desprovidos de interesses, não compram e não vendem, são alheios aos pregões e cotações? Eles próprios não se alarmam com as manchetes alarmistas do dia anterior?
Repare o seguinte: um prognóstico sobre o vencedor de um jogo de futebol tem 50% de chance de realizar-se. Mas um prognóstico sobre o mercado de capitais tem 99% de materializar-se desde que claramente articulado. É inevitável: se uma manchete anunciar que o Brasil é a bola da vez, o Brasil virará a bola da vez, se outra manchete disser que o mercado não acredita nas medidas adotadas pelo Governo, os pregões despencam.
Por esta razão os jornais especializados tem uma aparência mais sisuda e menos sensacionalista porque sabem que no campo financeiro qualquer informação, com ou sem fundamento,tende a auto-confirmar-se.
É inexorável. A crise econômica mundial é grave, tão grave quanto a de 1929. Por isso mesmo, ela dispensa a excitação e o pânico. Se os sinais de alarme são acionados por temperamentos alarmistas ou almas alarmadas a crise só tende a tornar-se mais grave.
Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm