Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Imprensa norte-americana

Você se lembra daquela misteriosa fonte do caso Watergate, ‘Deep Throat’, a ‘Garganta Profunda’? Ontem, segunda feira, o New York Times revelou que a figura foi inventada pela dupla de repórteres, Woodward e Berenstein, para dramatizar o seu trabalho investigativo. O truque foi desvendado pelo agente literário de ambos. Não repercutiu porque naquele exato momento a imprensa americana estava montando um novo circo: a exibição do vídeo do presidente Clinton depondo sobre o seu caso com a estagiária Lewinsky.

Foi um dia negro na história da imprensa americana. Escancarou-se em toda a sua extensão o mecanismo que coloca a mídia a reboque dos mais abjetos interesses desde que se possa criar escândalos.


O depoimento de Clinton aconteceu há mais de um mês, depois disso houve a divulgação da peça acusatória contra o Presidente e, não obstante, criou-se um clima irracional de expectativas.


O vídeo não poderia revelar nada além do que já se sabia tanto que, segundos depois da sua divulgação, a bolsa de Nova York registrou alta significativa.


A mídia americana conseguiu o milagre de substituir a imagem idealista dos Estados Unidos por outra onde se combinam uma grande dose de infantilismo com outra igual de sordidez.


Os aplausos que Clinton recebeu no plenário da ONU mostra que em matéria de seriedade o resto do mundo caminha na direção contrária dos Estados Unidos.


A imprensa brasileira, embora negue, parece preferir o modelo americano de fazer barulho a qualquer preço. Exemplo disso é o acompanhamento local da crise financeira internacional.


A última Isto É anunciou na capa a renúncia do ministro Pedro Malan mas na própria matéria dizia-se que o ministro não escrevera carta de demissão alguma. Hoje, terça-feira, a grande imprensa destacou que o Governo ‘não descarta um aumento dos impostos’.


Há pouco chequei o ocorrido com diversas fontes no Governo em Brasília. A história é diferente. Provocado por um jornalista, o ministro Malan disse no Rio que o Governo estudava todas as opções dentro do pacote fiscal, inclusive o aumento da carga tributária. Mais tarde, o porta-voz da Presidência afirmou que o Presidente só poderia examinar um aumento de impostos se algum ministro o sugerisse. O que não havia ocorrido.


Tudo isso está no corpo das matérias. Mas nas manchetes de hoje optou-se em destacar a hipótese mais remota e no momento mais improvável. O Estado de S. Paulo foi o único que não embarcou na onda sensacionalista.


Mais sábia do que a mídia as bolsas fecharam hoje, terça, em alta.


Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm