Este Observatório cuida da imprensa. Nosso interesse concentra-se na forma e nos procedimentos da mídia. Não tratamos de ‘o que’ mas do ‘como’. Não entramos no mérito dos assuntos, isso cabe aos demais veículos. Não competimos com eles mas, em compensação, fazemos aquilo que não têm condição de fazer: a análise do desempenho jornalístico.
O caso da gravação clandestina das conversas durante a privatização das teles envolve questões graves no âmbito administrativo, legal e político. Mas contém questões ainda mais graves no âmbito jornalístico.
A primeira questão envolve a selvagem concorrência que, longe de depurar a qualidade da informação, a desqualifica. A revista Época fez as primeiras revelações sobre a chantagem de Cayman e o grampo das conversas do ministro das Comunicações.
Acontece que duas dessas fitas foram levadas pelo deputado Aloizio Mercadante à revista Carta Capital. Para não ser furada, Veja saiu correndo e obteve de fontes palacianas uma cópia das fitas e publicou a transcrição antes da Carta Capital mas de forma sucinta e atravessada.
Domingo último, Época voltou ao assunto tentando oferecer uma transcrição mais completa que deveria contextualizar e esclarecer os aspectos dúbios. Não conseguiu.
Reparem que a briga é entre as revistas, os quatro grandes jornais limitam-se a dar seqüência ao que publicam no fim de semana. Reparem também que, com exceção da primeira matéria de Época, nenhuma outra foi investigada por jornalistas. A mídia serviu de veículo para as futricas dos diferentes grupos políticos.
A segunda questão refere-se à publicação de informações obtidas de forma ilícita. Quando Veja obteve irregularmente a confissão do ‘maníaco do parque’ foi aqui questionada. Agora, para justificar-se, o diretor da revista explicou que as fitas fazem parte do processo instaurado na Polícia Federal.
Ora, justamente porque essas fitas fazem parte de um processo judicial,o seu sigilo jamais poderia ter sido violado. Se o crime não compensa, a imprensa não pode tirar proveito de ações criminosas.
A terceira questão tem a ver com os resumos publicados. Convém lembrar que o depoimento do presidente Clinton diante do promotor Kenneth Starr foi divulgado na íntegra pelos jornais e televisões justamente para evitar que uma seleção imprópria pudesse retirá-las do contexto e perverter o seu sentido.
Em nosso caso as três transcrições até agora publicadas foram drasticamente editadas sendo que sua fonte foram fitas que já tinham sido editadas pelos grampeadores.
A quarta questão é que a imprensa está omitindo as críticas à imprensa. Em seu depoimento no Senado, o ministro Mendonça de Barros fez duras críticas à mídia. A mídia praticamente passou por cima e não as revelou à sociedade.
Quando pediu demissão, o ministro voltou a criticar a mídia o que foi novamente omitido.
Esta atuação ambígua coloca nossa imprensa sob dupla suspeita: serve aos mais escusos interesses e, quando isso é revelado, esconde do público. É o que chamamos de ótica da sarjeta.
Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm