Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A verdade – mas ‘desse tamanhinho’

No último dos oito parágrafos da notícia na Folha de hoje sobre a decisão do TSE de negar ao presidente Lula pedido de direito de resposta a um erro do jornal, já corrigido, se lê que o ministro Gerardo Grossi criticou a imprensa pelo costume de retificar em notas pequenas erros publicados com destaque.

É como sempre digo: a imprensa erra aos gritos e se retrata aos sussuros.

‘Essa história de manchetes enormes e uma errata desse tamanhinho, que ninguém lê, me parece um ato de absoluta arrogância’, afirmou Grossi. Poderia ter acrescentado: um ato de descaso pelas vítimas de seus erros e de desprezo pelo leitor.

A histórica exceção que confirma a regra foi do Correio Braziliense, quando dirigido por Ricardo Noblat: usou a manchete de primeira página para informar que a manchete do dia anterior estava errada.

Por falar nessa política de dois pesos e duas medidas, quem já não ouviu dizer que o governo Lula ‘aparelhou’ a administração federal, ocupando-a com companheiros?

Pois bem. Hoje, no meio de uma daquelas matérias das quais a maioria só lê o título – ‘Guerra dos números inclui apenas munição reciclada’ –, sobre o desgaste das acusações mútuas entre Lula e Alckmin no terceiro debate entre eles, o Estado traz uma informação preciosa.

Depois de criticar o desafiante porque ‘voltou a inflar o número de cargos de confiança do governo, na tentativa de mostrar Lula como um presidente que desperdiça recursos e emprega apadrinhados’, o repórter Sérgio Gobetti mostra a chamada verdade dos fatos.

1: ‘Em 2005, havia 19.925 pessoas em cargos de Direção e Assessoramento Superior no governo Lula, e não os ’40 mil’ sugeridos pelo tucano.’

2: ‘Desse total, 7.422 foram preenchidos ou substituídos por indicados do PT e dos partidos aliados. O restante é de pessoas que já estavam no cargo desde a administração anterior.’

A moral da história que cedo ou tarde – quase sempre tarde – as verdades acabam achando o seu lugar na mídia. Mas, da forma como aparecem, ‘desse tamanhinho’, diria o ministro Grossi, não se pode culpar o leitor por não enxergá-las.

Quantos têm tempo e paciência para ler jornal com lente de aumento?

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