Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Toma que o filho é teu

O papel aceita tudo, mas a telinha aceita muito mais. A última novidade em material falso distribuído pela internet é atribuída à grande Marília Gabriela: um texto pesadíssimo em que ela diz ter medo de Dilma Rousseff, a candidata do PT à Presidência da República. O texto não é de Gabi: consultada, ela reagiu com indignação. ‘De jeito nenhum! Que desfaçatez! Por favor, avisa que é mentira!’

É mentira, mas vai continuar circulando. As mentiras na internet não morrem: elas crescem, se espalham, saem de moda, quase desaparecem e acabam voltando, por mais absurdas que sejam, por menos verossimilhança que tenham. Alguém escreve um texto e, para dar-lhe força, assina com o nome de um autor conhecido. Luis Fernando Verissimo, por exemplo; ou Millôr Fernandes. O texto é mambembe, não tem graça nenhuma, o idioma sofre, mas está lá a assinatura que ‘dá credibilidade’ às besteiras.

Desmentidos? Bobagem: há um manifesto supostamente assinado por Franklin Martins, ainda em sua época da Globo, em que critica uma lei (que não existe) e um parlamentar (que teria apresentado o projeto, mas que não o apresentou). Há um poema de Cleide Canton amplamente distribuído como se fosse da autoria de Ruy Barbosa.

A internet publica textos atribuídos a autores que não os escreveram, divulga lendas urbanas (se você acordar numa banheira com água gelada etc., etc.), espalha armadilhas para roubar dados (aqui estão nossas fotos no motel, clique aqui) e tem gente que acredita, embora nem tenha ido ao motel. E inventa histórias, como a da demissão do Alexandre Garcia por ter lido noticiário não aprovado pela Rede Globo. O fato de Alexandre Garcia continuar normalmente no ar, apresentando os programas que sempre apresentou, parece não ter a menor importância: importante mesmo é divulgar que ‘eles’ o derrubaram. Arnaldo Jabor, Lúcia Hipólito e Salete Lemos também vivem sendo demitidos, continuam em seus postos, mas a notícia de que foram demitidos ‘por eles’ (sejam ‘eles’ quem forem) não deixa de correr a rede toda.

Internet é território livre, onde ainda a lei não predomina. Cabe aos internautas, portanto, verificar se as coisas que estão vendo são dignas de crédito, ou se já foram desmentidas pelos fatos. Mas isso dá trabalho. Mais fácil é acreditar, indignar-se, repassar para tout le monde e son pére. E com os endereços abertos.

 

A banda larga e o eleitor

Uma reportagem mostrou que um empresário, depois de fazer um negócio estranho (comprou por R$ 1,00 a participação numa empresa falida, passando a compartilhar dívidas na casa de milhões de reais), contratou o ex-ministro José Dirceu como consultor e se preparava para receber muito dinheiro na reativação da Telebrás. A imprensa contrária ao governo está batendo duro: embora o referido empresário tenha comprado a participação na empresa uns três anos antes de contratar Dirceu, já teria armado toda uma trama para lucrar seus milhõezinhos.

A imprensa favorável ao governo diz que a operação nada tem de irregular, que não há chance alguma de o empresário obter lucros com a Telebrás, com Dirceu ou sem Dirceu. E circulam, de um lado e de outro, textos de leis, contratos, concessões, decisões judiciais.

Este colunista não está entendendo nada: afinal de contas, há ou não algo esquisito no negócio? Seria muito difícil um jornal independente buscar um ou dois especialistas no assunto que possam destrinchá-lo? Ou ninguém estará interessado no tema a menos que seja contra ou a favor? Isso, em palavras mais cruas, significa que meios de comunicação independente são coisas do passado.

 

Balas de verdade

O clima de faroeste das guerras da imprensa ainda vai acabar em coisa feia. Um blogueiro, em campanha contra empresários de um jogador que está em litígio com o clube, divulgou não apenas seu endereço como a foto do prédio em que, segundo diz, ele está morando. Perigosíssimo: um torcedor com a cabeça fora do lugar pode perfeitamente usar esse tipo de informação. Em compensação, blogueiros que fazem campanha contra o blogueiro citado divulgaram não apenas a rua para a qual, segundo dizem, ele se mudou, como também a padaria que estaria frequentando e a foto do apartamento que seria o dele. Só faltou dar o número. Mas não é difícil, pelas informações já distribuídas, encontrar o endereço completo.

Nos dois casos, brinca-se com o direito à intimidade, ignorando-o; nos dois casos, abre-se para inimigos pessoais a oportunidade de vingar-se de agravos reais, imaginários ou sabe-se lá o quê.

 

Coisa estranha

Esquisitíssima essa série de denúncias contra a campanha publicitária da cerveja Devassa, estrelada pela starlet americana Paris Hilton. Não há nada, na campanha, diferente do habitual: mulheres seminuas e cerveja gelada. As ‘poses sensuais’ de Paris Hilton são idênticas às dos demais anúncios de cerveja. E são apresentadas de tão longe que, mesmo que Paris fosse sensual, ninguém a veria.

Com raras exceções, a propaganda brasileira de cerveja não varia: se trocar a marca anunciada, pouquíssima gente vai perceber. Então, por que até a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres decidiu se envolver no assunto? Por que só com a Devassa, e não com as outras cervejas que fazem propaganda parecida?

Do jeito que a coisa foi feita, a eventual restrição à publicidade da Devassa vai funcionar é como estímulo ao consumo da marca. Mas não deve ser isso, né? Também pode ser coisa do pessoal chatamente correto. Por incrível que pareça, esta seria a hipótese mais palatável.

 

Fundo do tacho

Para quem achava que já tinha visto tudo, a história do deputado Vanderlei Siraque mostra que as novidades nunca se esgotam. O deputado estadual, do PT de Santo André, SP, usou sua cota de selos da Assembléia Legislativa no envio de convites para sua festa de aniversário. Não está escapando nem forminha de brigadeiro!

O curioso é que a história apareceu em um único jornal: o Diário do Grande ABC. Há outros jornais, bem menores, na região; há os grandes jornais de São Paulo, que estão pertinho de Santo André. Mas estes foram bem bonzinhos.

Entretanto, o jornal que revelou o caso foi injusto com Siraque, reclamando que Sua Excelência levou cinco dias para dar explicações. Foi até pouco: em cinco dias, conseguiu encontrar alguma explicação para um caso que definitivamente não tem explicação. Siraque, como alguns companheiros apanhados em casos semelhantes (lembra do senador que levou a namorada a Paris, por conta da verba oficial de passagens?), prometeu devolver o dinheiro: segundo ele, são R$ 1.995,00. Mas precisa de mais algum tempo para dizer quando o fará.

Siraque disse que emitiu três mil convites para sua festa de aniversário, que se realizou no sábado (20/2), nos salões da Casa de Portugal. Deve ter sido um festão! Sua Excelência calculou que 2.500 pessoas cantaram o ‘Parabéns a Você’.

Siraque rachou o PT de Santo André, há anos hegemônico no município, para ser seu candidato à prefeitura. Foi derrotado pelo novato Aidan Ravin, do PTB.

 

Tigresas de papel

Regina Helena de Paiva Ramos, jornalista desde 1952, passou oito anos pesquisando as primeiras mulheres jornalistas de São Paulo – numa época em que jornalismo não era profissão para mulheres, exceto nas páginas de prendas domésticas. Foi complicado: boa parte já tinha morrido, foi quase impossível encontrar informações sobre muitas das pioneiras. Acabou dando certo: cuidando do início do trabalho das mulheres no jornalismo até a década de 1960, quando o mercado finalmente se abriu à ampla participação feminina, o livro Mulheres Jornalistas – a grande invasão sai no dia 8/3, a partir das 19 horas, com um grande lançamento na faculdade em que Regina Helena se formou, a Casper Líbero, na Avenida Paulista, 900, São Paulo.

São 70 mulheres jornalistas que entram no livro. Destas, a própria autora é uma das mais interessantes. Regina Helena é um doce de pessoa, mas pode ser muito brava: durante algum tempo, costumava ir à Redação com um chicote de montaria, até que parassem de provocá-la. Trabalhou com jornalistas lendários, como Hermínio Sachetta, a quem o livro é dedicado, por ter sido quem mais deu emprego a mulheres jornalistas nas décadas de 1950 e 60; com Ewaldo Dantas Ferreira, no O São Paulo, jornal da Arquidiocese, perseguidíssimo pela ditadura; fez jornalismo econômico, jornalismo frufru, jornalismo de moda; foi uma das mais conhecidas críticas de teatro de São Paulo. Produziu a Revista Feminina, com Maria Tereza Gregori; e se aposentou na revista Visão, como editora de ‘País’, trabalhando com Isaac Jardanovski.

Este colunista não teve ainda acesso ao livro. Mas, sendo de Regina Helena, só pode ser bom.

 

Tigres das urnas

Um bom livro para a safra de eleições deve ser lançado na quinta-feira (4/3), às 18h30, na Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos, em São Paulo: é Marketing Eleitoral – o passo a passo do nascimento do candidato, com o subtítulo ‘Como organizar, formatar, redigir e apresentar um plano de marketing eleitoral a seu cliente’, O autor é Carlos Manhanelli, presidente da Abcop, Associação Brasileira de Consultores Políticos; o prefácio é de Chico Santa Rita, especializado em marketing político, um dos maiores vencedores de eleições do país. Uma obra para quem está interessado no tema – uma bela obra.

 

Como…

De um importante portal noticioso, ligado a um grande jornal:

** ‘Vanessa Redgrave (dir.) e a filha Natasha Richardson em evento em NY (12/1/2009)’

Tudo estaria bem – mas Natasha Richardson morreu em 2008, num acidente de esqui.

 

…é…

Notícia de um portal de Economia:

** ‘Feira de Luxo vende caixão de ouro com telefone por R$ 696 mil’

A explicação é que o telefone celular servirá caso a pessoa seja enterrada viva. Imagina-se que vá funcionar dentro de uma caixa de ouro sob sete palmos de terra e concreto.

 

…mesmo?

Saiu num grande jornal:

** ‘Mulher de Charlie Sheen deixa clínica após vazamento de documentos secretos’

Não, não é nada estranho: se vazamento de água já deixa os aposentos inabitáveis, imagine vazamento de documentos secretos!

 

E eu com isso?

O governo da Coréia, conta Ethevaldo Siqueira, está fazendo um esforço gigantesco para que cada casa tenha acesso a banda larga de 1 gigabyte – coisa que nem os milionários mais nerds do Brasil ainda conhecem. Mas o governo brasileiro também promete, com a rede de fibra óptica da Eletronet, ampliar dramaticamente o acesso à banda larga, embora bem menos larga do que a coreana. Quando isso acontecer, teremos acesso muito melhor a informações como essas:

** ‘Parque temático promove concurso da urina mais fedorenta’

** ‘Samambaia termina namoro e diz que está `solteira graças a Deus´’

** ‘George, o maior cão do mundo, tem 20 mil amigos no Facebook’

** ‘Homem faz Jesus Luz chorar, diz jornal’

** ‘Avó australiana sobrevive a ataque batendo em tubarão’

** ‘Dado Dolabella dá sobremesa na boca da mulher Viviane Sarahyba durante jantar’

** ‘Leonardo DiCaprio não se importa em ser `filhinho da mamãe´’

** ‘Príncipe William está moreno’

** ‘Homem morde cobra por dinheiro’

** ‘Kate Winslet diz que deixa estatueta do Oscar no banheiro’

** ‘Sarah Jessica Parker usa vestido de Victoria Beckham em reunião com Michelle Obama’

** ‘Homem é preso por roubar mesmo banco duas vezes em 24 horas’

Será que ele não gostaria de se candidatar a alguma coisa?

 

O grande título

Coisas interessantes nunca faltam. Um título surrealista, por exemplo:

** ‘Johnny Depp: `Passo o dia observando vegetais crescerem´’

Ou daqueles que contam coisas absurdas:

** ‘Ana Maria almoça com marido e leva multa’

Será que é ilegal almoçar com o marido?

Ou ainda um dos que devem ter sentido, embora seja difícil descobrir qual é:

** ‘Estrela `engorda´ planeta e está prestes a devorá-lo’

E, sempre no estilo meio incompreensível, um grande título:

‘Ex-modelo morta não usava alarme, diz polícia’

Alguém costuma usar alarme no dia-a-dia?

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados