Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um furo e três furadas

No mesmo dia em que a sua colunista Eliane Cantanhêde divulga em primeira mão as conclusões do IPM da FAB sobre o choque do Boeing da Gol com o jato Legacy, que matou 154 pessoas há um ano, a Folha:

1. Desnorteia o leitor com números que não batem na matéria do seu quase sempre competente dublê de repórter e analista econômico Gustavo Patu sobre o assunto do dia: a afirmação do presidente Lula de que “choque de gestão” não é enxugar a máquina, porém “contratar mais gente, mais qualificada, mais bem remunerada” – o que pretende fazer. No comentário que dá o que pensar, “Lula confunde e amplia governo e Estado”, Patu escreve que hoje o total de servidores civis ativos do Executivo federal é de cerca de 530 mil, “mesmo patamar de dez anos atrás”. No gráfico ao lado, são 659,9 mil. Uma diferença de 129,9 mil pessoas.

2. Desperdiça 40 linhas de coluna com a “notícia” de que o ex-presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, que deixou o cargo há cinco meses, recebeu ou vai receber R$ 4 mil como palestrante de um seminário sobre imprensa, promovido pela Imprensa Nacional, órgão da Casa Civil. O cachê de outros quatro palestrantes foi fixado em R$ 1 mil. Ou o jornal tem elementos para sustentar que se trata de um caso de favorecimento ilícito, ou deixe de procurar pêlo em ovo.

3. Dá mais destaque à informação de que a cantora Britney Spears perdeu temporariamente a guarda dos filhos – 21 linhas, sob um título em fonte forte – do que ao engenhoso modo encontrado pelo governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, para proibir o gerundismo na linguagem da burocracia local: “demitiu-o” em ato publicado no Diário Oficial. Isso mereceu do jornal um textículo de 15 linhas, quase caindo da página, sob um título fraco na forma e frio no conteúdo. Gerundismo, como se sabe, é a praga que substitui, por exemplo, “vou comunicar”, por “vou estar comunicando”. Ou “vou estar tomando providências” em vez de “vou providenciar”. E esse é o ponto da iniciativa de Arruda que a Folha não conseguiu estar vendo. Como ele disse ao Globo: “O gerúndio é uma arma da burocracia para adiar e não tomar providências imediatamente. A demissão do gerúndio é uma idéia para gerar polêmica e fazer as pessoas se mexerem.”