Em 19 de dezembro, o jornalista Xico Vargas escreveu para o site No Mínimo uma reportagem sobre a vida difícil dos funcionários da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Chamava-se “Como na Colômbia”. Constatava, a certa altura:
“Não devem existir, mesmo no Brasil, outros lugares em que uma pessoa possa voltar a cabeça em direção à janela e cruzar o olhar com traficantes armados a pouco mais de 50 metros de sua mesa de trabalho”.
Referia-se a um prédio conhecido como “expansão” do campus da Fiocruz. Fica do outro lado da Avenida Brasil. Um mapa das instalações da Fundação é apresentado no site da Fiocruz (aparentemente, não funciona em navegador Firefox).
A situação conflagrada é descrita assim por Xico Vargas:
“Vidros perfurados a tiros nas janelas e emboço arrancado do teto e das paredes de várias salas voltadas para o conjunto habitacional Esperança e para os barracos da Vila do João, aglomerados embutidos na imensa favela da Maré. Há pouco mais de um mês, uma série de disparos numa terça-feira em pleno expediente varou janelas entre o sétimo e o décimo andares. Era o novo sinal de uma escalada de chantagem que começou em maio do ano passado, quando traficantes exigiram a construção de um muro entre o prédio da Fiocruz e o conjunto, para retardar a eventual chegada da polícia aos pontos de venda de droga”.
Empresas fechadas
Funcionários da Fiocruz chamaram a atenção, recentemente, para o fechamento de empresas que ocupam no entorno as últimas áreas não conflagradas: de cima para baixo, na foto que aparece a seguir (mas cartograficamente a oeste e sudoeste), General Electric, Light, Conab e Embratel, onde nasceu recentemente a favela Mandela V.
A pedido da coordenadora de Comunicação Social, Christina Tavares, os arquitetos Renato da Gama Roza e Alexandre Pessoa, do patrimônio histórico da Fiocruz, fizeram na foto, tirada do Google Earth, a marcação desses locais.
O campus da Fiocruz é vizinho da Refinaria de Manguinhos (à esquerda, na foto), cuja saúde econômica é precária. Pode ser a próxima empresa a entregar os pontos, e tem um terreno quase igual ao da Fiocruz.
Notar que a foto foi girada em relação aos pontos cardeais, de tal modo que a Avenida Brasil ficasse paralela à margem inferior do quadro. (O mesmo recurso foi usado no mapa mostrado no site, acima mencionado.) A orientação cartográfica correta está na foto abaixo, com aproximação menor, para mostrar, a leste, o litoral da Baía de Guanabara onde terminam os bairros pobres e favelas do chamado “Complexo da Maré”. A ilha maior que aparece na foto é a do Fundão, onde fica o campus da UFRJ. Para quem não se localizou, a Fiocruz está no centro da foto, à direita da linha vertical que demarca duas colorações (junção de duas fotos de satélite).
É preciso colocar em perspectiva a discussão sobre os problemas de segurança do Rio de Janeiro, o que a mídia faz pouco, e mal. E não para defender a ‘remoção’ de favelas, e sim uma intervenção eficaz do poder público. A favor da maioria, contra a minoria de bandidos, numericamente ínfima, mas econômica e belicamente muito forte.
A Fiocruz tem laços extensos e profundos com os moradores da vizinhança, muitos dos quais trabalham lá, mas todos, instituição e moradores, são reféns, especificamente, de deficiências do trabalho policial, do envolvimento de policiais corruptos com bandidos e de uma falta crônica de planejamento e fiscalização urbana da qual resultaram muitas invasões de antigos prédios industriais e comerciais na Avenida Brasil e adjacências. Como, tudo indica, vai ocorrer agora ao lado da Fiocruz.