Por essa decerto não esperavam os adeptos da teoria de que a mídia brasileira, em bloco, conspira contra o presidente Lula.
O presidenciável Anthony Garotinho disse que tem sido alvo de campanha ‘sórdida e mentirosa’. Os caluniadores seriam ‘a grande mídia, liderada pelas Organizações Globo e pela revista Veja – com o indisfarçável patrocínio do governo Lula ‘. Quem diria!
As calúnias seriam as sucessivas matérias do jornal O Globo mostrando a ficha das pessoas jurídicas que doaram algo como R$ 650 mil à pré-campanha do ex-governador do Rio e das vantajosas relações desses doadores com a administração da sua sucessora e mulher, Rosinha Matheus, por intermédio de ONGs aparentemente de fachada.
A Veja, de seu lado, com a sua finesse costumeira, pôs na capa da edição que começou a circular anteontem um Garotinho com chifres e rabo, dele fazendo a encarnação do que seriam os sete pecados capitais da política brasileira.
Existe uma coisa que os cientistas chamam correlação espúria. Trata-se de deduzir falsidades a partir de verdades. Juntam-se fatos isolados, todos verdadeiros, e tira-se uma conclusão sem pé nem cabeça.
Correlação espúria é partir de uma verdade – a Lula não interessa que o PMDB tenha candidato ao Planalto, a aspiração de Garotinho, para ver se liquida a fatura sucessória já no primeiro turno – e deduzir daí uma aliança profana entre Globo, Veja e Lula.
Pensando melhor, Garotinho sabe que isso é tão real como dois mais dois serem cinco. Mas, na operação para posar de vítima – e justificar a greve de fome que iniciou ontem – não custa juntar bananas com laranjas no mesmo embornal. Com perdão pela analogia inadequada a uma situação de jejum.
No mérito, pelo menos no caso das matérias do Globo e de outros jornais, é falsa a alegação do grevista de que não tem tido espaço para se defender das acusações. Também a governadora e seus colaboradores aparecem nas reportagens com seus argumentos. Se as suas explicações não convencem, problema deles.
O óbvio é que Garotinho não qué papá para engordar o seu nome no noticiário. O ‘sacrifício’, como diz, é um lance de marquetagem eleitoral – a fome a serviço da fama.
As ‘condições’ para que o candidato a candidato volte a fazer as três refeições por dia a que está acostumado são de uma ridicularia atroz. A principal delas é a vinda de observadores estrangeiros para garantir a lisura do processo eleitoral, com ‘a igualdade de tratamento de todos os candidatos’.
Alguns quilos a menos mal não farão à robusta figura do ex-governador. Mas seus familiares, amigos e admiradores podem ficar tranquilos: não há hipótese de ele vir a adquirir o físico ascético de um Mahatma Gandhi. Para não falar em qualquer de seus outros atributos.
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