Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A Constituição bem lembrada

Na semana em que a Carta de 1988 completa 20 anos – foi promulgada num 5 de outubro – a imprensa ficou ocupada demais com as eleições desse dia para produzir, desde o domingo anterior, uma série de matérias, ou um suplemento, sobre a chamada Constituição Cidadã.


Com uma exceção que deve ter estragado o dia da concorrência.


O Estado saiu na quinta-feira com um caderno especial de 40 páginas, em formato tablóide. São 13 matérias grandes, mais uma entrevistona (com o jurista Célio Borja), depoimentos dos cinco presidentes que o país teve desde a sua promulgação, e uma pá de acompanhamentos (boxes, infográficos e destaques, como as 11 memoráveis citações do discurso com que o presidente da Constituinte, deputado Ulysses Guimarães, declarou promulgada a Cidadã).


Quem quiser achar defeitos no trabalho achará, obviamente. Uma matéria com o ex-presidente José Sarney, cheia de aspas do próprio, ao lado do seu depoimento, por exemplo, parece uma dose excessiva. E ficou faltando um pingue-pongue com um jurista que representasse um contraponto às idéias de Borja.


Mas ninguém precisará procurar as qualidades do trabalho – estão na cara, a começar do texto de abertura (“A Carta que blindou a democracia brasileira”), do repórter Carlos Marchi.


Por sinal, ele assina, só ou em parceria, nada menos de sete textos.


O caderno é bem mais do que uma reconstituição histórica, apesar do título deste comentário. É, afinal, uma grande reportagem sobre o que a Constituição fez com o Brasil – e o que não fez, porque 142 dos seus artigos ainda não foram regulamentados, e alguns deles nunca o serão.


A propósito, quantos são mesmo os artigos no todo? Numa matéria, se lê 315 (além de 946 incisos, 596 parágrafos e 203 alíneas). Em outra, se lê 250. São, na realidade, 332, incluíndo os 82 artigos das Disposições Transitórias.


Mas isso é detalhe. O que está longe de ser detalhe é a enxurrada de informações e pensatas do suplemento – que acabam compondo um retrato do Brasil.


“Retrato do Brasil” é clichê. Mas já que está aí, seguem outros dois para lhe fazer companhia:


É de ler e guardar.


O Estadão está de parabéns.