Como uma infinidade de brasileiros que, pelo menos, dão uma sapeada nos noticiários da TV ou batem o olho nos periódicos, também estou cansado do Himalaia de mazelas que, entra governo, sai governo, não saem do cenário nacional: continuam essencialmente iguais, quando não pioram.
Embora, acrescento desde logo, muitas delas são coisas nossas mesmo, não dos governantes de turno – a começar do comportamento anti-social que está entre as causas primeiras, se não for a causa primeira e ponto, da barbárie do cotidiano nos ajuntamentos feios, sujos e perversos em que se degradaram as nossas mais povoadas cidades.
Mas, seja lá o que me canse como cidadão e jornalista, nem por isso vou me juntar ao movimento dos meninos da Fiesp e à tigrada da Febraban, cuja hipocrisia raia aos céus, em má hora avalizado pela OAB.
Não porque enxergue no tal do Cansei o embrião de um movimento golpista, como há quem já diga. É pule de 10, como falam os turfistas, que – salvo um acidente de saúde ou tragédia do gênero – Lula será o terceiro presidente brasileiro, depois de JK e FHC, a completar o mandato no dia marcado e entregar as chaves do Planalto a um novo inquilino, legal e legítimo.
Daí a minha discordância dos que comparam, por seus supostos efeitos, a programada manifestação pública do Cansei, daqui a algumas semanas, à Marcha da Família com Deus pela Liberdade que deu a senha para a gorilada derrubar o presidente constitucional João Goulart.
Aliás, do passeio do Viaduto do Chá, eu vi as marchadeiras – entre as quais muitas, mas muitas mesmo, empregadas domésticas tangidas pelas patroas para fazer número. Foi um nojo.
Para mim, portanto, o problema com o Cansei não são as razões do cansaço – estas existem de sobra – mas a identidade dos cansados. Contem-me fora dessa companhia, que o cartunista Angeli retratou na Folha de hoje com o habitual talento.
Bom descanso.
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