Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Hebe volta à TV durante tratamento contra câncer


Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 9 de março de 2010


 


TELEVISÃO


Laura Mattos


De bom humor, Hebe conta que teve depressão e mostra peruca


‘‘É peruca, vocês não tinham percebido, né?’, diz, rindo, Hebe Camargo, enquanto passa a mão pelas madeixas douradas.


Em tratamento contra câncer no peritônio (membrana que envolve os órgãos da cavidade abdominal), a apresentadora, mais magra, de vestido e sapato de salto alto prateados, voltou a gravar seu programa no SBT ontem, quando completou 81 anos.


Após mais de duas horas de gravação, que teve Xuxa, Ana Maria Braga, Marília Gabriela e outros convidados, Hebe falou sobre a doença. ‘Tive até depressão, coisa que nunca tinha tido. Durante um, dois dias, fico triste. Será que vou ter força? Mas a fé me fortaleceu.’


Ela contou ter estranhado um inchaço na barriga, em viagem a Miami. ‘Não tinha dor, mas estava inchando muito.’


A apresentadora falou que era para ter ‘tomado um puta susto’ quando o médico diagnosticou câncer. ‘Só ia ao hospital para fazer plástica no peito e na cara. De repente, ele vem com essa do periscópio’, fala, gargalhando.


Ela disse que reagiu bem. ‘O médico falou para meu sobrinho que meu cabelo ia cair, e ele ficou careca de pensar como me contar. Meu cabelo sempre foi referência. Mas não tive impacto. Encomendei três para a Nilza das perucas.’


Ela também comemorou o fato de não ter sofrido outros efeitos da quimioterapia, como enjoo. ‘Vou fazer a quarta e outras duas. Saio da químio como se tivesse tomado suco de limão.’ Sobre a cirurgia, em 9/1, disse: ‘Esperava que fossem abrir a barriga toda. Fizeram três furinhos, que já sumiram’. E admitiu: ‘Fui um pouco relapsa. Nem exame ginecológico faço, e é um péssimo exemplo’.’


 


 


Andréa Michael


Presidente da comissão de tecnologia foca banda larga


‘Sem entrar na polêmica sobre ressuscitar ou não a Telebras, o novo presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados, Eunício Oliveira (PMDB-CE), pretende tomar a dianteira da discussão e lançar uma versão do Legislativo para o Plano Nacional de Banda Larga em discussão no Executivo.


‘A banda larga é o projeto de infraestrutura de telecomunicações mais importante da história do país, mais do que a TV digital. A comissão não pode ficar fora disso’, diz Eunício, que descarta a possibilidade de conflito com o governo.


Ex-ministro das Comunicações e integrante da base aliada, ele entende que ter ou não a Telebras como gestora do plano é uma questão que se pode definir depois, ‘já que estamos atrasados no debate’.


Segundo a última versão da Pesquisa sobre Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil (2008), de 3.398 domicílios urbanos entrevistados com acesso à internet, 58% utilizam banda larga e, 31%, modem tradicional. A opção Telebras é a preferida pelo Planalto. O Ministério das Comunicações defende uma opção não estatal.


A prioridade dada ao tema, garante Eunício, não será em prejuízo de outras tarefas da comissão, na qual hoje tramitam 505 matérias, entre projetos de lei, concessões de rádios e TVs comunitárias, educativas e comerciais.


NO LIMITE


Projeto de lei aprovado pela Câmara Federal limita a meio minuto o tempo de imagens de flagrantes de disputas esportivas que podem ser exibidas em programas esportivos sem pagamento de direitos. Na legislação em vigor, esse limite é de 3% do tempo da partida -num jogo de futebol equivaleria a três minutos. O projeto ainda precisa passar pelo Senado e ir a sanção ou veto presidencial.


PACOTÃO


Unindo três programas em um, a Record deixou o ‘Tudo É Possível’ em primeiro lugar na audiência. No domingo, a atração exibiu uma hora de pegadinhas. Depois, estreou a quarta temporada do ‘Troca de Família’, com Gretchen, o que levou o Ibope de nove para 12 pontos (720 mil domicílios ligados na Grande São Paulo).


MALAS


Roberto Justus levará os participantes de ‘O Grande Desafio’ (SBT) a países como Inglaterra, África do Sul, Malásia, China, Argentina e Chile. Eles serão eliminados nas viagens.


RELÓGIO 1


Após entrevistar Chris Martin antes do show do Coldplay, em São Paulo, no último dia 2, a equipe do ‘Caldeirão do Huck’ (Globo), deixou o estádio do Morumbi. Voltou quando o espetáculo já tinha começado.


RELÓGIO 2


No sábado, o programa levou ao ar cenas de ‘Viva La Vida’, uma das últimas músicas do show, a pedido de Luciano e autorizado pela gravadora. Outros veículos só puderam gravar as primeiras músicas.’


 


 


Lúcia Valentim Rodrigues


Série americana destrincha árvore genealógica de famosos


‘A atriz Sarah Jessica Parker se diz muito diferente de Carrie, sua personagem em ‘Sex and the City’. ‘Escolhemos não mostrar nada sobre a família dela. E, para mim, a família sempre foi importante’, conta ela, que tem sete irmãos e, no ano passado, fez uma barriga de aluguel para ter gêmeas, além de já ter um menino de oito anos, com Matthew Broderick.


Este é o começo de ‘Who Do You Think You Are’ (quem você pensa que é, em tradução livre), nova série da americana NBC em que sete famosos vão em busca de suas origens.


O programa, versão de uma produção da inglesa BBC, estreou na sexta nos EUA, com 6,85 milhões de espectadores.


A saga de Jessica Parker começa na casa de sua mãe, em Nova Jersey. Procura um ascendente que tenha participado de algum evento da história norte-americana. Com a ajuda de genealogistas e após muitos sobrenomes, descobre, em Cincinnati (Ohio), um tataravô que se aventurou na corrida do ouro de El Dorado (Califórnia).


Depois, cruza os EUA em direção a Boston, onde alguém da família esteve envolvido na caça às bruxas em Salem há mais de dez gerações para trás.


O primeiro capítulo revela que uma história comum pode esconder uma bela jornada em busca do ‘sonho americano’, aliada a uma expiação de culpa pelo passado mesmo sabendo que não se pode mudar nada.


Nesta semana, o foco vai ser o jogador de futebol americano Emmit Smith, que vai atrás de ancestrais que foram escravos. A série vai ter ainda os atores Lisa Kudrow, Broderick, Brooke Shields e Susan Sarandon. O cineasta Spike Lee fecha a primeira leva de episódios.’


 


 


RAÇA


Demétrio Magnoli


O jornalismo delinquente


‘AS PESSOAS , inclusive os jornalistas, podem ser contrárias ou favoráveis à introdução de leis raciais no ordenamento constitucional brasileiro. Não é necessário, contudo, falsear deliberadamente a história como faz o panfleto disfarçado de reportagem publicado nesta Folha sob as assinaturas de Laura Capriglione e Lucas Ferraz (‘DEM corresponsabiliza negros pela escravidão’, Cotidiano, 4/3).


A invectiva dos repórteres engajados contra o pronunciamento do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) na audiência do STF sobre cotas raciais inscreve no título a chave operacional da peça manipuladora.


O senador referiu-se aos reinos africanos, mas os militantes fantasiados de repórteres substituíram ‘africanos’ por ‘negros’, convertendo uma explanação factual sobre história política numa leitura racializada da história.


Não: ninguém disse que a ‘raça negra’ carrega responsabilidades pela escravidão. Mas se entende o impulso que fabrica a mentira: os arautos mais inescrupulosos das políticas de raça atribuem à ‘raça branca’ a responsabilidade pela escravidão.


Num passado recente, ainda se narrava essa história sem embrulhá-la na imaginação racial. Dizia-se o seguinte: o tráfico atlântico articulou os interesses de traficantes europeus e americanos aos dos reinos negreiros africanos. Isso não era segredo ou novidade antes da deflagração do empreendimento de uma revisão racial da história humana com a finalidade bem atual de sustentar leis de divisão das pessoas em grupos raciais oficiais.


Demóstenes Torres disse o que está nos registros históricos. Os repórteres a serviço de uma doutrina tentam fazer da história um escândalo.


O jornalismo que abomina os fatos precisa de ajuda. O instituto da escravidão existia na África (como em tantos outros lugares) bem antes do início do tráfico atlântico. Inimigos derrotados, pessoas endividadas e condenados por crimes diversos eram escravizados. A inexistência de um interdito moral à escravidão propiciou a aliança entre reinos africanos e os traficantes que faziam a rota do Atlântico. Os empórios do tráfico, implantados no litoral da África, eram fortalezas de propriedade dos reinos africanos, alugadas aos traficantes.


O historiador Luiz Felipe de Alencastro, convocado para envernizar a delinquência histórica dos repórteres (‘África não organizou tráfico, diz historiador’), conhece a participação logística crucial dos reinos africanos no negócio do tráfico. Mas sofreu de uma forma aguda e providencial de amnésia ideológica ao afirmar, referindo-se ao tráfico, que ‘toda a logística e o mercado eram uma operação dos ocidentais’.


Os grandes reinos negreiros africanos controlavam redes escravistas extensas, capilarizadas, que se ramificavam para o interior do continente e abrangiam parceiros comerciais estatais e mercadores autônomos. No mais das vezes, a captura e a escravização dos infelizes que passaram pelas fortalezas litorâneas eram realizadas por africanos.


Num livro publicado em Londres, que está entre os documentos essenciais da história do tráfico, o antigo escravo Quobna Cugoano relatou sua experiência na fortaleza de Cape Coast: ‘Devo admitir que, para a vergonha dos homens de meu próprio país, fui raptado e traído por alguém de minha própria cor’. Laura e Lucas, na linha da delinquência, já têm o título para uma nova reportagem: ‘Negros corresponsabilizam negros pela escravidão’.


O tráfico e a escravidão interna articulavam-se estreitamente. No reino do Ndongo, estabelecido na atual Angola no século 16, o poder do rei e da aristocracia apoiava-se no domínio sobre uma ampla classe de escravos.


No Congo, a população escrava chegou a representar cerca de metade do total. O reino Ashanti, que dominou a Costa do Ouro por três séculos, tinha na exportação de escravos sua maior fonte de renda. Os chefes do Daomé tentaram incorporar seu reino ao império do Brasil para vender escravos sob a proteção de d. Pedro 1º.


Em 1840, o rei Gezo, do Daomé, declarou que ‘o tráfico de escravos tem sido a fonte da nossa glória e riqueza’.


Em 1872, bem depois da abolição do tráfico, o rei ashanti dirigiu uma carta ao monarca britânico solicitando a retomada do comércio de gente.


O providencial esquecimento de Alencastro é um fenômeno disseminado na África. ‘Não discutimos a escravidão’, afirma Barima Nkye 12, chefe supremo do povoado ganês de Assin Mauso, cuja elite descende da aristocracia escravista ashanti. Yaw Bedwa, da Universidade de Gana, diagnostica uma ‘amnésia geral sobre a escravidão’.


Amnésia lá, falsificação, manipulação e mentira aqui. Sempre em nome de poderosos interesses atuais.


DEMÉTRIO MAGNOLI, sociólogo, é autor de ‘Uma Gota de Sangue – História do Pensamento Racial’ (SP, Contexto, 2009).’


 


 


CULTURA


Jacques Marcovitch


Mindlin e a USP


‘A CULTURA brasileira está de luto com a morte de José Mindlin. Essa ausência é particularmente sentida na USP, que muito em breve abrigará o seu legado mais valioso, a coleção Brasiliana, formada por ele e sua mulher, Guita, durante a vida inteira. O prédio destinado a hospedar a biblioteca no campus da capital está em fase final de construção.


Lamenta-se não ter podido o seu generoso doador ver prontas as instalações e convertido em realidade um sonho de tantos anos.


Trata-se de obra arquitetônica em harmonia perfeita com o raro conteúdo a ser guardado. Quem a visita desde agora percebe que ela se compara -ou até supera-, em beleza e funcionalidade, com as melhores referências congêneres de universidades americanas ou europeias. É uma viva referência de parceria público-privada, reunindo a USP e grandes empresas mobilizadas pela família Mindlin.


Em véspera do novo milênio, como reitor da instituição, numa tarde memorável, o autor destas notas ouviu do próprio José a decisão de transferir, ainda em vida, o grande acervo para o campus do Butantã.


Imediatamente o nobre propósito foi comunicado ao Conselho Universitário e se iniciaram providências para formalizar a doação.


A Comissão de Legislação e Recursos e a Comissão de Orçamento e Patrimônio aprovaram a agilização nos termos propostos pela reitoria, para atingir, com a urgência possível, uma das metas culturais de maior alcance na academia, desde sua fundação.


Nas gestões seguintes, dos professores Adolpho José Melfi e Suely Vilela, cumpriram-se todos os ritos jurídicos e administrativos e, finalmente, no decorrer de 2010, o prédio da Brasiliana, com os seus tesouros literários, será concluído e inaugurado pelo reitor João Grandino Rodas.


No ano 2000, Mindlin integrou o Conselho Consultivo da USP com Emilia Viotti, Alain Touraine, Jennifer Sue Bond, Lygia Fagundes Telles e Olavo Setúbal. Na sessão inaugural, ele abordou o tema da integração universidade-sociedade pela via do conhecimento tecnológico. Seguem duas de suas reflexões: ‘(…) Gostaria de repetir a preocupação da professora Jennifer Sue Bond sobre o contato com a indústria.


Como empresário, sempre procurei contato com várias universidades para pesquisas conjuntas. Isso ainda não era usual, mas se revelou perfeitamente possível e, aliás, mutuamente proveitoso. (…) Lygia Fagundes Telles mencionou Saramago, de quem por sinal sou amigo, como um grande pessimista, assim como ela própria.


Ora, eu, pelo contrário, sou um grande otimista e gostaria de ser 20 ou 30 anos mais moço para ver o Brasil daqui a 20 ou 30 anos. O país viveu até agora em compartimentos estanques, com cada grupo, cada setor, vivendo a sua própria vida, sem real comunicação. Todos têm que colaborar em tudo, a setorização não pode continuar a existir, e isso se aplica também à universidade.’


Essa sempre foi uma grande preocupação de Mindlin. Em outro debate acadêmico, convidado a falar como empresário, declarou que também se preocupava com os destinos da universidade na condição de cidadão e possível usuário de seus produtos. A sua visão extrapolava o quarteto indústria/comércio/agricultura/serviços, incluindo os setores de pesquisa básica ou aplicada, indispensáveis ao desenvolvimento do país.


Muito já se disse a respeito do leitor e bibliófilo que o Brasil acaba de perder. Difícil não pensar, na hora triste em que se ausenta do mundo conhecido, na frase de Jorge Luis Borges: ‘Sempre imaginei o paraíso como uma grande biblioteca’.


Tratando de livros em textos diversos, José também se distinguiu na arte da escrita. Em catálogo com algumas das raridades de sua biblioteca, escreveu: ‘Muitas que desejavam ser expostas não foram incluídas…, mas não havia remédio, e tanto elas como eu tivemos de nos conformar’.


Lembro-me de um fórum sobre o respeito da academia pelo livro, sem dúvida o mais poderoso instrumento de cultura já concebido pelo homem.


O professor Antonio Candido citou Valery Larbaud, que, em título de uma de suas obras, chamou a leitura de ‘vício sem punição’. Vício, segundo Candido, que leva os indivíduos a criar ‘uma vida dentro da vida’, orientada para a fruição dos textos e das bibliotecas.


Foi o caso de José Ephim Mindlin em sua longa e feliz existência. O seu nome está inscrito, para sempre, entre o dos maiores beneméritos da Universidade de São Paulo.


JACQUES MARCOVITCH, 63, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP e ex-reitor da universidade.’


 


 


CAMPANHA


Para defender candidata, Lula ataca imprensa


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou ontem a imprensa ao defender a presença da ministra Dilma Rousseff, pré-candidata à Presidência, na inauguração de hospital que não recebeu verba do governo federal.


Para o petista, ‘a imprensa brasileira não gosta de falar de obras inauguradas’. ‘Ou seja, coisa boa não interessa, o que interessa é desgraça.’


Dilma foi no domingo à inauguração do Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti. Em discurso ontem na Rocinha, na zona sul do Rio, Lula disse que o Estado só construiu o hospital porque o governo federal o apoia em outras áreas.


‘Fizemos parceria, sobrou dinheiro para o Sérgio [Cabral, governador] fazer hospital’, disse. O Planalto divulgou nota dizendo que a compra de medicamento e material, de R$ 80 milhões anuais, será compartilhada.


Lula e Dilma inauguraram Complexo de Atendimento à Saúde e centro esportivo na favela. Ele disse que os moradores não eram tratados com ‘dignidade’. ‘Na Rocinha deve ter algum bandido. Mas quem disse que não tem em Copacabana?’’


 


 


COLEÇÃO


João Batista Natali


Jornalista colecionador de documentos sonoros quer doar ou digitalizar acervo


‘O jornalista Luiz Ernesto Kawall, 82, é um colecionador de vozes. Tem em casa 4.000 documentos sonoros -Rui Barbosa, Freud, Monteiro Lobato, Juscelino Kubitschek, Federico Fellini, Édith Piaf, o marechal Rondon- e procura uma instituição que aceite a doação do acervo ou possa digitalizá-lo e disponibilizá-lo na internet.


A ‘Vozoteca LEK’ (iniciais de seu nome) possui, entre outras raridades, 74 gravações de gols históricos cedidas ao Museu do Futebol.


Entre os documentos, há a narração, pelo locutor Geraldo José de Almeida, de um gol de bicicleta feito pelo são-paulino Leônidas, em 1942, contra o Palmeiras. Em uma entrevista em que fala sobre música mineira, o ex-presidente JK diz que uma serenata em Diamantina (MG) ‘é mais bonita que um passeio de gôndola em Veneza’.


Rui Barbosa, afirma Kawall, tinha a voz rouca, fanhosa e um sotaque aportuguesado. Há um discurso da campanha presidencial de 1913, em que elogia as mulheres.


De Monteiro Lobato há declarações feitas durante o Estado Novo. Ele se diz favorável à exploração do petróleo pelos brasileiros, e não por empresas internacionais. Um último exemplo: o cantor Francisco Alves fez um concerto ao ar livre no bairro paulistano do Brás, em setembro de 1952. Referiu-se com carinho às ‘crianças do Brasil, às nossas criancinhas’.


Ao voltar para o Rio, horas depois, sofreu o acidente de carro que o matou. Kawall começou a trabalhar na ‘Tribuna da Imprensa’, jornal de Carlos Lacerda, na ‘Gazeta’ e na Folha -onde tinha uma coluna dominical sobre artes plásticas- e assessorou dezenas de empresários, artistas e políticos.


Sua obsessão em colecionar vozes surgiu há 40 anos, mas o jornalista tem poucas entrevistas feitas por ele mesmo. Boa parte dos documentos foi comprada, doada ou copiada de outras fontes.


A digitalização dependeria de acordo de direitos autorais. Por enquanto, há três instituições que já se mostraram interessadas pela vozoteca: o Centro Cultural São Paulo, o Instituto Moreira Salles e o governo de Minas Gerais.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘Bullying’


O site do ‘Financial Times’ noticiou a primeira rodada de retaliações aos EUA com o enunciado ‘Brasil arrisca guerra comercial’. O jornal ouviu, do representante comercial de Washington, ‘estamos desapontados’. Já ‘o Brasil deixou claro que está aberto a um acordo antes de efetivar as tarifas’. Para um consultor, ‘a única forma de evitar a trombada é os EUA oferecerem algo significativo ao Brasil’.


Ecoou também no ‘Wall Street Journal’ e no topo das buscas pelo Yahoo News, com AP.


E o ‘Financial Times’ já postou ontem mesmo uma primeira opinião sobre o episódio, na tradicional seção Lex. Avalia que a medida pouco afeta o comércio, tanto americano como brasileiro, mas:


‘Muitos anos atrás, um delegado de comércio dos Estados Unidos ‘negociando’ com representantes da Austrália se debruçou sobre a mesa e disse: ‘Nós comemos países como o seu no café da manhã’. Mais e mais, agora, os parceiros comerciais dos EUA estão enfrentando o bullying’, a intimidação.


O MAIOR MEDO


Segundo a Bloomberg, ‘o maior medo’ nos EUA não está nas retaliações anunciadas, mas na segunda rodada, quando ‘o Brasil começaria a quebrar patentes’, copyright, com apoio da Organização Mundial do Comércio.


O site do Departamento de Comércio dos EUA destacou que o secretário embarcou ontem para Brasília.


O PAÍS DOS IMPOSTOS


Em contraste com outros portais e telejornais brasileiros, na manchete do G1 e depois do ‘Jornal Nacional’, a retaliação ao protecionismo americano foi noticiada pela Globo como um ‘aumento de impostos’ determinado pelo governo do Brasil.


Relacionou-se a notícia, na cobertura, ao aumento no preço dos remédios.


MAIS GUERRA?


O Irã abriu conflito entre as revistas ‘Foreign Affairs’ e ‘Foreign Policy’. A primeira publicou artigo defendendo manter ‘todas as opções na mesa’, guerra inclusive. A segunda atacou o texto, em seu site, num longo artigo com o enunciado ‘É hora de esfriar a cabeça sobre o Irã’


SANÇÕES, NÃO


Por ‘Financial Times’ e outros, a advogada iraniana Shirin Ebadi defendeu a ‘mudança de foco, dos embargos para os direitos humanos’, na estratégia ocidental sobre o Irã. Nobel da Paz em 2003, ela diz que ‘sanções econômicas seriam em detrimento do povo do Irã’. Semanas atrás, via agências, Ebadi pediu que Lula se reúna com a oposição quando visitar seu país.


Por outro lado, ela defendeu sanções ‘contra empresas que estão apoiando ativamente a censura e a repressão da oposição’. Citou Nokia-Siemens (Finlândia/Alemanha), que atua em internet, e Eutelsat (França), de comunicação por satélite. O jornal sublinha que seus comentários ‘vêm no momento em que os EUA buscam apoio para uma quarta rodada de sanções’.


LULA & OPOSIÇÃO


O portal Terra ouviu líderes da oposição sobre um posto para Lula no exterior, como secretário-geral da ONU ou presidente do Banco Mundial, e destacou que José Agripino Maia (DEM) ‘surpreendeu’, dizendo:


‘Uma posição como essa, que venha a ser exercida por um brasileiro e possa trazer benefício, não pode deixar de contar com meu apoio. [Mas,] por critério de ordem técnica, me custa crer que venha a acontecer.’


MEIRELLES LÁ


No alto da home page do ‘Valor’, a escolha de Henrique Meirelles para chefiar o banco central dos bancos centrais nas Américas, EUA inclusive. Foi notícia no site do ‘WSJ’, ontem, entre outros, sublinhando que o presidente do BC comandou antes o americano BankBoston -e que estuda sair candidato no Brasil


LULA VS. IMPRENSA


Ontem na manchete de papel do jornal ‘O Globo’, ‘Dilma inaugura hospital construído sem verbas federais’. Depois, no site, ‘Lula ataca ‘O Globo’ e defende Dilma em inauguração’. Foi em entrevista à rádio Melodia, ontem, em mais um dia de inauguração no Rio, com Lula e Dilma Rousseff na favela da Rocinha.


O ataque à imprensa e às ‘elites’ correu mundo, da Folha Online à AP, esta com o enunciado ‘Presidente do Brasil ataca críticos da Olimpíada’.’


 


 


ASSINATURA


Justiça reforça decisão da Anatel sobre ponto extra de TV paga


‘As operadoras de TV por assinatura do Estado de São Paulo têm mais um motivo para não cobrar dos clientes pela utilização de ponto extra. A proibição já havia sido determinada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) no ano passado e foi reforçada pela liminar da 6ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, resultado de ação movida pela Fundação Procon-SP.


As empresas não podem cobrar pelo conteúdo transmitido, mas é permitido continuar cobrando pela instalação do ponto extra e pela manutenção da rede e dos conversores/decodificadores. Segundo Roberto Pfeiffer, diretor-executivo do Procon-SP, a decisão judicial dá mais autonomia ao órgão estadual para fiscalizar as operadoras, independentemente da ação da Anatel.


‘É uma vitória do consumidor, pois, mesmo após a proibição por parte da Anatel, as empresas continuaram cobrando de maneira indevida’, afirma o diretor do Procon-SP.


O descumprimento da decisão acarretará em multa diária de R$ 30 mil.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 9 de março de 2010


 


TELEVISÃO


Cristina Padiglione e Patrícia Villalba


Festa para a volta de Hebe à TV


‘Artistas da Rede Globo, emissora sempre tão ciosa da exclusividade sobre os direitos de imagem de seu elenco, foram excepcionalmente autorizados a pisar no SBT ontem. Obra de Hebe Camargo, que completou 81 anos no Dia Internacional da Mulher e marcou sua volta à TV após o diagnóstico de um câncer no peritônio (região do abdome).


Xuxa estava lá, Ana Maria Braga estava lá. Roberto Carlos estava lá – não na primeira fila, como as loiras, mas em vídeo gravado previamente com Hebe num hotel da cidade, ao lado de seu maestro, Eduardo Lages, que ao piano o acompanhou na interpretação de Como É Grande o Meu Amor Por Você. E não é que o cantor chorou? ‘Nunca vi o Roberto chorar antes, nunca!’, disse Hebe.


Diante da loira, viu-se um Roberto mais descontraído que nunca, disposto a listar as coisas de que mais gosta na vida: ‘Primeiro sexo com amor, depois sexo e depois sorvete.’ E Hebe: ‘Sorvete de pauzinho ou de copinho?’. ‘De copinho, claro’, gargalhou o Rei.


‘Vou ter de limpar o chão da Globo, fazer faxina lá para agradecer tudo isso’, disse Hebe. Silvio Santos também apareceu indiretamente. Com seu auditório, puxou um coro de ‘Parabéns a Você’ e mandou o mimo para ser exibido durante o programa da loira. O patrão não apareceu de corpo presente, mas a filha, Daniela Beyrutti, diretora artística do SBT, e a primeira-dama, Íris Abravanel, lá estavam. O elenco do SBT compareceu em peso. Ainda na primeira fila, Marília Gabriela e Astrid Fontenelle, ambas cedidas pelo canal GNT (GloboSat), contracenavam com Maisinha, a garota prodígio de Silvio Santos. Abordada pelo Estado após a gravação para saber sobre o que ela tanto conversava com Xuxa durante o programa, Maísa só repetia: ‘Ah, várias coisas.’


Aos jornalistas que lá foram para acompanhar o programa, exibido na noite de ontem, Hebe contou, após a gravação, que já se submeteu a três sessões de quimioterapia até agora e faltam mais três. ‘Não senti nada’, disse. E falou que vem usando peruca: ‘Chamei a Nêuta, que faz umas perucas lindas, e ela fez três pra mim. Isso que estou usando agora é peruca, podem fotografar.’


Desanimada com o diagnóstico ela disse que só ficou nos primeiros dias. ‘Até depressão, que eu nunca tive, achei que teria, fiquei muito deprimida, mas logo passou.’ Questionada se fazia exames rotineiramente, a apresentadora admitiu que não, que nem os exames ginecológicos de praxe costuma fazer, e garantiu que vai mudar. ‘Não sou um bom exemplo’, constatou.


Durante o programa, no embalo do Dia da Mulher, aproveitou a eclética plateia para levantar questões sobre o universo feminino. Perguntado pela apresentadora como um homem deve proceder quando a mulher ‘está de TPM (tensão pré-menstrual)’, Ratinho disse que era bom nem chegar perto. Foi repreendido pela ex-deputada Zulaiê Cobra Ribeiro num bate-boca apartado por Ivete Sangalo, que, do palco, divertia-se: ‘Coitado do Ratinho. Vá pescar, Ratinho, vá pescar.’ Quando o assunto parecia esgotado, Xuxa pediu a palavra para dizer que nem todas as mulheres ficam bravas na TPM: ‘Eu fico molinha, molinha’, disse.


Ratinho perguntou a Hebe se ela tinha se arrepiado ‘além do limite’ em sua entrevista com Roberto Carlos. ‘Até o limite, não, porque a quimioterapia leva tudo’, riu Hebe.


De Marília Gabriela, Hebe quis saber se uma mulher seria melhor que um homem na presidência da República. Gabi se livrou da saia justa. Afirmou que ‘mulher ou homem’, o ocupante do cargo deve ter competência, moral ilesa e atenção com saúde e educação.


No palco, Ivete Sangalo, Maria Rita, Leonardo e Ney Matogrosso acompanharam a conversa e apresentaram seus números musicais. E para dizer que Hebe é a mesma de sempre, a apresentadora cobrou um ‘selinho’ de Leonardo. E levou.’


 


 


Cristina Padiglione


Comentaristas das TVs do Brasil dão sempre o que falar (deles)


‘Rubens Ewald Filho (TNT) e José Wilker (Globo) tiveram anteontem seu momento Galvão Bueno por um dia, com uma vantagem: não despencar para motivações ufanistas. Sem filme brasileiro na disputa, os dois comentaristas da transmissão do Oscar puderam até aplaudir a estatueta faturada pela Argentina (O Segredo dos Seus Olhos).


A porção Galvão estava no gerundismo para aquele gol que está sempre ‘saindo’, a depender dos favoritos, das surpresas e decepções ao longo da cerimônia. Ali pelo meio da partida, quando Guerra Ao Terror ainda estava nas estatuetas de melhor efeito sonoro e de mixagem de som, Rubens Ewald já prenunciava: ‘Não estão gostando do Avatar, hein…’ Na Globo, Wilker parecia menos disposto a bancar suas apostas.


Com pelo menos 10 segundos de vantagem sobre a transmissão da TNT, a Globo nos dava antes os vencedores. Em compensação, a apresentação dos candidatos era infinitamente mais bem informada via TNT. Rubens Ewald sempre tem na ponta da língua ao menos duas linhas sobre todos os personagens, incluindo os mortos ?na Globo, aquele tradicional clipe de finados do ano passou sem uma palavra. Seria silêncio em sinal de luto? A Globo obteve 12 pontos (672 mil domicílios) no Ibope em São Paulo, boa média para a faixa de 0h às 2h.’


 


 


TECNOLOGIA


Naiana Oscar


Livro eletrônico ‘made in Brasil’


‘Com 30 funcionários, seis anos de vida, faturamento anual de R$ 2,5 milhões e uma sede discreta na Ilha do Leite, no Recife, a Mix Tecnologia quer brigar com gente grande. Em junho, a empresa vai lançar o primeiro leitor eletrônico de livros com software 100% nacional – um equipamento que vai dividir espaço no mercado brasileiro com produtos de gigantes do mundo da tecnologia, como Apple, Sony e Amazon.


‘Quem é empreendedor tem de ter essa veia de aventura’, diz o pernambucano Murilo Marinho, que fundou a empresa em 2004, assim que concluiu a faculdade de Ciências da Computação. ‘Conciliamos, claro, um pouco de loucura a uma base sólida de conhecimento tecnológico.’ Marinho brinca com a ousadia que o levou a desenvolver o primeiro ‘e-book reader’ nacional , mas tem um discurso consistente para defendê-lo e diferenciá-lo dos maiores, Kindle e iPad.


O aparelho brasileiro está sendo criado, inicialmente, para ser usado em sala de aula, com função essencialmente educacional. A ideia é que o professor use o dispositivo para agendar tarefas, aplicar testes, fazer apresentações. Para isso, todos os alunos teriam de ter o aparelho. ‘O Brasil é o maior consumidor de livro didático do mundo’, diz Marinho. ‘Hoje tem escola fazendo rodízio de livros, para o aluno não levar tanto peso nas costas. Queremos oferecer uma alternativa.’


O aparelho foi batizado de Mix Leitor D. Além de leitor, ele oferece funções como dicionário, tradutor, agenda e calendário. Pesa 400 gramas e tem de 1 GB a 4 GB de capacidade dependendo do modelo. Deve ter conexão à internet com portal que direciona o usuário para bibliotecas de domínio público. O visual lembra muito o Kindle, embora o criador não admita comparações. O preço de cada aparelho deve variar de R$ 650 a R$ 1.100.


A Mix Tecnologia está tentando fechar contratos com universidades, escolas, governos estaduais e municipais. Diz ter começado o ano, mesmo antes do lançamento, com uma encomenda de 5 mil unidades. O segundo passo, de acordo com o empresário, é fazer clientes na área jurídica e fechar contratos com tribunais de Justiça de todo o País. Mendes não informa o estágio dessas negociações, por ‘questões estratégicas’, diz apenas que nenhum desses mercados está em Pernambuco, berço da ideia. Para tornar o Mix leitor D uma realidade, foram necessários R$ 2 milhões até agora. O investimento é uma parceria da própria empresa de tecnologia com a editora que motivou o projeto, a Carpe Diem, do escritor e empresário Antônio Campos.


Estudioso e amante dos livros de papel, Campos começou a pesquisar o alcance dos e-readers e identificou neles um novo mercado. ‘O livro já foi oral, já foi escrito em pedras e só vai crescer’, diz. Ele acredita que o livro eletrônico vai ganhar espaço rapidamente embora ainda deva conviver por um bom tempo com a plataforma impressa. ‘Essa transformação será mais ágil com os livros didáticos, já que a atualização torna-se muito mais rápida no meio eletrônico.’ Campos já se considera um colecionador de leitores: tem um Kindle, o e-reader da Sony, o Mix Leitor D e espera para comprar um iPad.


DIFICULDADES


O maior desafio da Mix Tecnologia foi desenvolver o projeto e colocá-lo no mercado num prazo máximo de dois anos, ‘para não perder a onda’. Quando o Mix Leitor D ainda era uma ideia, o grupo pensou em construir uma fábrica no Recife para produzi-lo. Documentação, alvarás, autorizações em todas as esferas públicas, no entanto, inviabilizariam os planos.


Como já é comum no setor de tecnologia, o jeito foi apelar para a China. O leitor foi desenvolvido no Brasil, mas ganha forma do outro lado do mundo. Os primeiros aparelhos começam a chegar em maio.


Além do ambicioso projeto do leitor D, a Mix Tecnologia desenvolve outros duas ideias, também ambiciosas. Murilo Mendes e sua equipe criaram um sistema de controle para entrada e saída de turistas em Fernando de Noronha. O programa gerencia quanto tempo cada um dos visitantes passou na ilha, por onde passou e em que pousada ficou.


E eles também pretendem faturar com a Copa do Mundo de 2014. Desenvolveram uma rede social inédita, batizada de Arena, para gerenciar eventos esportivos, com uma base de dados única, com informações turísticas e sobre o evento. O projeto já foi selecionado e premiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do governo federal.’


 


 


 


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