Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Outra polêmica envolvendo a imprensa

Mais uma briga de cachorro grande na mídia brasileira. E mais uma vez o leitor fica ao sabor dos acontecimentos, porque o que está sendo publicado é apenas uma parte da questão.


 


Tanto um lado como o outro têm estratégias bem definidas e objetivos claros. Só que os objetivos não têm nada a ver com questões religiosas e nem preocupações com a informação do leitor. Tanto a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) como os jornais que publicaram reportagens sobre os negócios do bispo Edir Macedo estão preocupadas mesmo é com as conseqüências financeiras da polêmica.


 


A IURD está preocupada com os efeitos que as denúncias da Folha, bem como dois outros jornais – um do Rio e outro da Bahia -, possam ter nas parcerias corporativas necessárias para a expansão do império econômico fundado pelo bispo Macedo.


 


Por seu lado, a Folha e os demais jornais temem que a onda de processos judiciais contra a jornalista Elvira Lobato e os repórteres Bruno Thys (jornal Extra, RJ) e Walmar Hupsel Filho (A Tarde, BA), autores de três reportagens diferentes, acabe saindo muito caro em indenizações e custos judiciais.


 


A estratégia de ambos os lados é esgrimir o conceito de liberdade: a religiosa e a de imprensa. São dois argumentos de peso em matéria de estratégia de marketing político, mas frágeis em termos de conteúdo. As reportagens não ameaçam a liberdade religiosa no país, no máximo os negócios do bispo Macedo, da mesma forma que as ações judiciais interpostas por fiéis da IURD não ameaçam as liberdades da imprensa e de informação.


 


Enquanto isto, os leitores (pelo menos os do Observatório) fazem uma leitura diferente da questão. Não mostram simpatias com a Igreja Universal, mas também não poupam a imprensa. Muitos fazem uma ligação entre o episódio IURD/Folha com a polêmica Nassif/Veja.


 


É impossível saber se os leitores que postam comentários na página do Observatório podem ser considerados representativos ou não da blogosfera brasileira. Não há pesquisas sobre isto. O que se pode ver é que também noutros sites, como o Comunique-se e o Blog do Noblat, uma boa parcela de leitores não está comprando, incondicionalmente, a versão dos jornais, e nem está apoiando o bispo Macedo.


 


Isto mostra que um segmento do público leitor brasileiro começa a dar sinais de maturidade para experimentar fórmulas colaborativas de produção de informações, uma das grandes inovações introduzidas pela Web.


 


Este caso da polêmica entre a IURD e três jornais brasileiros pode servir de aprendizado inicial para quem desejar testar a nova modalidade de produção de noticias. Claro que cada leitor tem sua posição. O problema não é ter opinião, e sim oferecer novos fatos, dados e notícias sobre situações que conhecemos pouco, para que este material possa ser transformado em informação por meio da interação entre os protagonistas.


 


Os leitores já devem ter visto que a fase do bate-boca cansa rapidamente e geralmente cria mais dissidências do que comunidades. Por que então não experimentar deixar de lado a paixão e preocupar-se com a realidade, porque é o conhecimento dela que nos está faltando há muito tempo? A Web nos dá esta possibilidade de produzir informação.