Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Articulista, crítico e escritor

Jerônimo Teixeira, na revista Veja, apresenta-se como implacável crítico da literatura brasileira. Na edição 1.914 (de 20/7/2005), denunciou que o baiano João Filho e o pernambucano Marcelino Freire, dois autores da chamada Geração 90, são literariamente pobres e não merecem a atenção que têm recebido.

Na edição 1916 (de 3/8/2005), voltou-se contra Rubem Fonseca: ‘a literatura de Rubem Fonseca anda cansada’; ‘até o estilo, que já foi conciso e nervoso, hoje parece só apressado, pulando de um episódio a outro como se o escritor cansado quisesse terminar logo o livro’; ‘foi-se o tempo em que o leitor aguardava com ansiedade um novo livro de Rubem Fonseca’; ‘grande autor dos anos 70 hoje só é bom nas antologias’.

Na edição 1918 (de 17/8/2005), a vítima é um autor da Geração 80, o amazonense Milton Hatoum. Uma de suas observações: ‘Quem se impressionou com o exame acurado de relações sociais e familiares de Dois Irmãos esperava que Hatoum, cinco anos depois, conseguisse se superar. Não foi o que aconteceu. Cinzas do Norte não chega a ser um mau romance, mas decepciona’.

Palavras desqualificadoras, no limite do desrespeito. Sem a elegância e o gabarito das análises que nos oferece há décadas Wilson Martins, para citar um dos nossos melhores críticos.

Tom destruidor

Lendo Jerônimo Teixeira, fica a impressão de que os novos escritores são fracos e os antigos deixaram de ser fortes. Mas então… por que tanto empenho em agredir, mesmo sob o pretexto de que a crítica convive com a admiração? Poderia o articulista indicar-nos grandes autores brasileiros, em vez de apenas desaconselhar… a exemplo de Mario Sabino que, na Veja desta semana (edição 1919), elogia, merecidamente, o paranaense Miguel Sanches Neto?

Por curiosidade, fui conhecer o único livro de ficção (pelo que sei) escrito pelo próprio Jerônimo Teixeira: As horas podres (Editora Artes e Ofícios, 1997).

Obra calculadamente literária. O autor domina teorias e recursos. Mas… embora saiba escrever um livro imunizado contra possíveis críticas, a seqüência de diálogos entre um jovem e o tio, por exemplo, decepciona… Duas vozes quase idênticas, falha natural em autores estreantes.

E aqui me detenho. É grande a tentação de criticar o livro de Jerônimo Teixeira com o mesmo tom destruidor por ele empregado em seus artigos. Que terrível a situação de quem pode, com dois ou três parágrafos, humilhar um escritor!

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Doutor em Educação pela USP e escritor; (www.perisse.com.br)