Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Livro e blog sistematizam pesquisas e práticas de Jornalismo Ambiental em Santa Catarina

(Imagem: Capa do livro “Território e texto: jornalismo ambiental em Santa Catarina“)

O conhecimento sobre o jornalismo ambiental em Santa Catarina é o objeto que a equipe da Revista Pobres & Nojentas, que desde 2006 atua em Florianópolis, vem buscando consolidar. A primeira iniciativa foi o lançamento, em dezembro de 2023, do livro “Território e texto: jornalismo ambiental em Santa Catarina”, com seis artigos de jornalistas que, em momentos de sua trajetória, escreveram sobre a relação entre sociedade e natureza no estado.  A segunda foi a criação de um blog, em fevereiro passado, para reunir pesquisas na área e também sobre a história do movimento ambientalista estadual.

A primeira análise do material localizado revelou a existência de cinco Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs), seis dissertações, oito artigos e dois livros. A mais antiga pesquisa localizada foi a minha dissertação de mestrado em Geografia, de 2004, analisando o discurso jornalístico sobre o desenvolvimento sustentável. O mais recente, de 2024, é a dissertação de mestrado de Camila Collato intitulada “Jornalismo ambiental em Santa Catarina: direitos humanos e da natureza sob a perspectiva dos grupos RBS e NC”, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC.

As primeiras constatações com o levantamento foram as seguintes:

1) a revisão bibliográfica das pesquisas traz o conhecimento do jornalismo em geral e do jornalismo ambiental em particular, mas as pesquisas, independentemente da orientação teórico-metodológica e dos objetos empíricos, em geral não dialogam com trabalhos anteriores, ainda que poucos, produzidos no estado;

2) em minha dissertação, que completa 20 anos em 2024, afirmo que o espaço é constitutivo do discurso jornalístico sobre meio ambiente, mas verifica-se que as marcas da formação socioespacial catarinense praticamente não são levadas em conta nas análises.

A situação é incompatível com a realidade socioespacial tão diversa de Santa Catarina e a necessidade de um jornalismo que a interprete. O geógrafo Armen Mamigonian (2003) afirma que, no decorrer do processo histórico, delinearam-se em Santa Catarina três regiões industriais importantes identificadas como a região alemã, o Oeste agroindustrial e a região carbonífero-cerâmica do Sul. Cada uma dessas regiões lida com impactos ambientais comuns, como o desmatamento e a poluição do solo e da água, mas singulares na forma como se expressam no cotidiano da população. Porém, o jornalismo catarinense não tem abordado tão complexa realidade e parte expressiva das pesquisas localizadas também não leva em conta essas particularidades socioespaciais.

A recente pesquisa de Camila Collato é importante por dialogar com trabalhos anteriores e revelar a situação da cobertura na atualidade, concluindo o seguinte: a) a cobertura privilegia uma constituição antropocêntrica de sentidos, apoiando-se em uma base científica moderna em relação ao meio ambiente, sendo este abordado majoritariamente por meio do dualismo humano x Natureza; b) é fragmentária, ao apresentar uma baixa interlocução entre áreas de conhecimento e saberes e; c) por vezes, é fatalista, ao furtar-se do papel de fomentador de um debate público crítico sobre responsabilidades e possíveis soluções diante dos problemas ambientais enfrentados pela população. A autora destaca anda a baixa participação dos cidadãos, com a predominância de fontes documentais e oficiais, e um jornalismo orientado para a construção de sentidos de apelo modernizante por meio de discursos econômicos de matriz capitalista.

A conclusão desses esforços para consolidar o conhecimento sobre o jornalismo ambiental em Santa Catarina é que os dois grupos hegemônicos mais importantes de mídia no estado, NSC e ND, desconsideram a importância de interpretar jornalisticamente a grave realidade socioambiental regional, situação que vem se agravando com o enxugamento de profissionais nas redações, restando a sites de circulação local – como O Blumenauense e a Folha Metropolitana (Joinville) – a iniciativa de manter editorias sobre o tema, ainda que não haja pesquisas direcionadas à análise do material divulgado.

Referência:

MAMIGONIAN, Armen. Projeto integrado de pesquisa: Santa Catarina – sociedade e natureza. Relatório final de pesquisa. Florianópolis, 2003.

Texto publicado originalmente em Jornalismo Ambiental

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Míriam Santini de Abreu é jornalista, doutora em Jornalismo, mestre em Geografia e especialista em Educação e Meio Ambiente.