Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A imprensa venceu o debate
>>Qual será o resultado? Um tucano morto

A imprensa venceu o debate

O debate entre os candidatos à Presidência da República, promovido pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), o portal UOL e a rádio Jovem Pan,no começo da noite de quinta-feira (16), foi uma vitória retumbante da imprensa hegemônica no Brasil.

Os dois representantes do que resta da política partidária se aproximaram muito do nível a que a mídia rebaixou o confronto republicano: a linguagem dos candidatos finalmente se alinhou com o estilo dos mais prestigiados pitbulls entre os colunistas de jornais e os mais agressivos ativistas das redes sociais digitais.

Foi rompido o protocolo que costumava definir as fronteiras do que deve ou não deve ser dito numa disputa de ideias sobre o destino do País, e os dois contendores afirmaram diante das câmeras o que muitos têm pudor de dizer em reuniões sociais.

Questões pessoais foram sobrepostas à agenda governamental e muitas acusações ficaram em suspenso, dependendo da iniciativa e disposição de cada eleitor para consultar os registros da internet sobre o assunto, ou esperar por  esclarecimentos da imprensa.

O candidato Aécio Neves afirmou que o irmão da presidente foi funcionário-fantasma na prefeitura de Belo Horizonte; os jornais desta sexta-feira (17) o desmentem.

A candidata à reeleição questionou o oponente sobre o que achava da Lei Seca, referindo-se diretamente a um episódio sobre Aécio Neves que corre nas redes sociais e que o relacionam a uso de drogas e alcoolismo; ele procurou aliviar o golpe admitindo que havia se recusado a fazer o teste do bafômetro quando foi abordado pela polícia, no Rio de Janeiro, e que se arrependia disso.

Voltamos ao padrão de 1989, quando Lula da Silva foi derrotado por Collor de Mello, em meio a ataques pessoais.

Na ocasião, o então candidato do Partido dos Trabalhadores se recusou a usar contra o oponente boatos e denúncias sobre sua vida privada.

Acabou derrotado.

Um quarto de século depois, Dilma Rousseff dá voz aos comentários das redes sociais para desconstruir Aécio Neves.

Qual será o resultado?

Um tucano morto

No meio do bate-boca em que se transformou o debate eleitoral, os três jornais de circulação nacional tentam posar de moderadores numa briga de rua, mas a imprensa hegemônica não pode fugir às suas responsabilidades.

Quem estabeleceu a agenda de baixarias e determinou o nível rastaquera das discussões políticas no Brasil foram as grandes empresas de mídia, ao trocar o jornalismo pelo panfletarismo.

O que faz o candidato da oposição, continuamente, é manusear o material que lhe oferece a imprensa, todos os dias, há anos.

O que decide fazer a candidata à reeleição é manusear o que lhe oferecem as redes sociais.

Nenhum dos dois se sente obrigado a comprovar cada uma das acusações, porque o contexto midiático há muito deixou de se preocupar com aquelas qualidades essenciais do jornalismo, como a ética e o pressuposto da objetividade.

No espaço restrito dos debates com tempo curto para argumentações, e em meio ao lamaçal criado pela mídia, quem se preocupar com o decoro perde o jogo.

Assim é que chegamos a uma semana da decisão nas urnas com a agenda política tomada por factoides, meias-verdades, manipulação de indicadores e outras delinquências comunicacionais.

Em meio ao noticiário sobre o debate no SBT, os jornais jogam uma cartada de truco: o envolvimento de um tucano morto no escândalo da Petrobras.

Grita a manchete da Folha de S. Paulo: "Delator diz ter pago propina a ex-presidente do PSDB".

Em título no alto da primeira página, O Estado de S. Paulo apregoa: "Ex-diretor da Petrobras diz que tucano recebeu R$ 10 mi".

O Globo, em nota mais discreta também na primeira página, afirma: "Costa diz que pagou propina a ex-dirigente tucano".

O que isso significa? – perguntaria o leitou ou a leitora que sabe ler nas entrelinhas.

Muito simples: a imprensa parece ter acesso exclusivo à fonte da delação premiada, mas precisa reforçar a credibilidade das denúncias, porque as pesquisas indicam que esse escândalo não tem mais potencial para afetar a decisão dos eleitores.

Então, recauchuta-se o factoide, incluindo entre os acusados o falecido ex-senador pernambucano Sérgio Guerra, do PSDB, que já não pode ser punido nem se defender.

Você, aí, acha que o debate político caiu na lama?

Não se preocupe. A imprensa sempre dá um jeito de piorar.