Em tempos de crise, quando se fala em ética logo vem à tona a questão da ética na política. Esse escândalo do qual agora somos espectadores nos remete a, pelo menos, duas reflexões: uma é a de que a corrupção é uma velha aliada da política nacional; a outra, trata da imprensa, que, paralelamente a qualquer novidade, também é questionada quanto aos princípios éticos. Mas o que é ética? A ética está relacionada à moral e à coerência. No plano das reflexões ou indagações, trata do costume das coletividades e as morais que podem conferir-lhe consistência. Por ser debatida em diversas áreas do conhecimento, deve ser vista como parte do cidadão e posteriormente no campo profissional. O conceito de ética no dicionário Aurélio é:
[Do lat. ethica < gr. ethiké.]
S. f. Filos.
1. Estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto.
É óbvio que a ética não foi criada pelo jornalismo. Mas há leis que regem o exercício desta profissão. Os ‘Princípios Internacionais da Ética no Jornalismo’ (divulgados em Praga e Paris, 1983) e o Código Nacional de Ética (em vigor desde 1987) dispõem sobre normas a que deve se subordinar a atuação do profissional nas suas relações com a comunidade, com as fontes de informação e entre jornalistas.
Eis o interesse em abordar a ética na imprensa, pois esta trata diariamente de todos os assuntos que são destaque no mundo. O que se questiona é a fonte das informações, a apuração da notícia e os meios usados para fornecê-la ao cidadão. Seja a Guerra no Iraque, o seqüestro de um empresário ou um escândalo político, todos estes assuntos devem ser debatidos em nome da socialização da informação, e não de acordo com ganhos políticos ou financeiros.
Com o importante papel de formadora de opinião, a imprensa tem a faca e o queijo na mão. Mas essa mesma faca pode cortar violentamente se não utilizada de forma coerente. Pois os veículos que sofrem algum tipo de manipulação e respondem aos interesses políticos a que estão atrelados acabam no descrédito da população, ferindo também o jornalismo investigativo sério, que prima pela integridade da notícia.
O interesse da coletividade
Por conta da velocidade da informação ditada pela globalização e a era do imediatismo, as redações buscam, de forma veloz, quantidade em vez de qualidade da informação. Ávidos pelo ‘furo’, os jornalistas esquecem de checar se suas fontes são fidedignas e muitas vezes reproduzem notícias, sem se preocupar com os devidos créditos. Essas práticas colocam em questão a comunicação. O jornalista Rogério Christofoletti, coordenador do site Monitor de Mídia, da Universidade do Vale do Itajaí (SC), quando questionado sobre a ética no jornalismo brasileiro respondeu: ‘Há ilhas de bom jornalismo. Mas há deslizes graves. Ainda temos muito que evoluir. E quem pode ajudar nessa tarefa são as escolas de Comunicação e as instâncias de crítica de mídia, que apontam com mais insistência as maiores falhas’.
Entre as falhas percebe-se uma muito praticada nas grandes redações, também relatada pelo jornalista: a confusão entre jornalismo e publicidade. São duas áreas afins, porém, com atribuições distintas. Enquanto o jornalismo trata editorialmente das notícias, a publicidade cuida dos recursos necessários para a circulação do veículo. Mas insiste-se em inverter os papéis, pois há jornalistas que teimam em fazer matérias publicitárias para fidelizar anunciantes e publicitários respondem por conteúdos editoriais.
Nada demais, não fosse a tal ética, que nos leva a refletir sobre os caminhos da comunicação social. É necessário equilibrar convicções pessoais e os valores que sustentam a linha editorial de um veículo, para que prevaleça o interesse da coletividade. Eis o desafio diário da imprensa. É o que nos posiciona, como profissionais de comunicação, na linha que separa a ética do caos.
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Designer e estudante de Jornalismo da UFMA