Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Censura no Espírito Santo

O problema prisional do Espírito Santo foi o assunto central da coluna do jornalista Elio Gaspari no domingo (7/3). Sob o titulo ‘As masmorras de Hartung’ [ver abaixo], Gaspari informa sobre um relatório que será levado a uma reunião da ONU em Genebra, no próximo dia 15 de março. É barra pesada: prisioneiros esquartejados, superlotação, presos em contêineres sem banheiro. Horror.


A coluna de Gaspari é publicada no Globo e Folha de S.Paulo, entre outros jornais. No Espírito Santo, A Tribuna republica, também aos domingos, a coluna do jornalista. Mas no domingo, 7 de março, A Tribuna não publicou o material. Isto tem nome: censura. Por que será? Será por quê?




As masmorras de Hartung aparecerão na ONU


Elio Gaspari # Folha de S.Paulo, 7/3/2010


Na próxima segunda-feira, dia 15, o governador Paulo Hartung (PMDB-ES) tem um encontro marcado com o infortúnio. Depois de anos de negaças, o caso das ‘masmorras capixabas’ será discutido em Genebra, num painel paralelo à reunião do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Hartung tem 52 anos, um diploma de economista e a biografia de um novo tipo de político. Esteve entre os reorganizadores do movimento estudantil no ocaso da ditadura. Filiou-se ao PSDB, ocupou uma diretoria do BNDES, elegeu-se deputado estadual, federal, e senador.


Na reunião de Genebra estará disponível um ‘dossiê sobre a situação prisional do Espírito Santo’. Tem umas 30 páginas e oito fotografias que ficarão cravadas na história da administração de Hartung. Elas mostram os corpos esquartejados de três presos. Um, numa lata. Outro em caixas e uma cabeça dentro de um saco de plástico. Todos esses crimes ocorreram durante sua administração. Desde a denúncia da fervura de presos no Uzbequistão o mundo não vê coisa parecida.


As ‘masmorras capixabas’ são antigas, mas a denúncia teve que ser levada à ONU porque as organizações de defesa dos direitos humanos não conseguem providências do governo do Espírito Santo, nem do comissariado de eventos de Nosso Guia. Sérgio Salomão Checaira, presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, demitiu-se em agosto do ano passado porque não teve apoio do Ministério da Justiça para reverter o quadro das prisões de Hartung. Há um mês, uma comitiva que visitava o presídio feminino de Tucum (630 presas numa instituição onde há 150 vagas) foi convidada a deixar o prédio. Se quisessem, poderiam conversar com as prisioneiras pelas janelas.


O Espírito Santo tem 7.000 presos espalhados em 26 cadeias, com uma superlotação de 1.800 pessoas. Há detentos guardados em contêineres sem banheiro (equipamento apelidado de ‘micro-ondas’). Celas projetadas para 36 presos são ocupadas por 235 desgraçados. Alguns deles ficam algemados pelos pés em salas e corredores.


Os governantes tendem a achar que os problemas vêm de seus antecessores, que as soluções demoram e que, em certos casos, não há o que fazer. Esquecem-se que têm biografias.


O relatório com fotos dos esquartejados está aqui.


Aviso: é barra muito, muito pesada.


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Emocionante o registro de Alfredo Sirkis no Observatório sobre Marcos Faerman (1944-1999) [ver ‘Obsessão repórter‘]. De repente, voltei aos anos 1980 e às emoções da leitura de Os Carbonários, desse homem sensível chamado Sirkis. Emoções que se repetiam à leitura de cada reportagem de Marcos Faerman. Estamos ficando sem nossos melhores homens. O Brasil está ficando cada vez mais pobre. Lamento por meu filho, jornalista e tantos outros que não conheceram jornais como Versus e Movimento. Que pena. (Katia Giulietti, jornalista, Praia Grande, SP)


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Hebe Camargo é, sem dúvida, a maior estrela da televisão brasileira. Como estrela, não precisa mais inovar, emitir luz a todo momento. Como estrela, com seus 81 anos de vida e mais de 50 de carreira televisiva, brilha por tudo que já fez. Hebe é como Roberto Carlos: já fez o suficiente para permanecer para sempre um ícone.


O programa Hebe Camargo, na segunda-feira (8/3), reuniu dezenas de nomes importantes da televisão, da Rede TV! à Globo. Quem mais conseguiria colocar Xuxa e Ana Maria Braga em sua platéia numa emissora que não a Globo? Quem mais poderia exibir uma entrevista exclusiva com Roberto Carlos no SBT? Hebe conseguiu. Não é pouca coisa. Significa que o meio artístico e todas as emissoras de televisão brasileiras respeitam, admiram e reconhecem o talento e a importância de Hebe Camargo na história dos meios de comunicação no Brasil.


O programa que marcou o retorno de Hebe já entrou para a história. É um exemplo de uma televisão mais madura, capaz de elogiar a beleza da vida, transmitir um sinal de esperança e dignificar o caráter de laço social deste que é o mais importante e influente meio de comunicação do Brasil: a televisão. (Alexander Goulart, jornalista, Porto Alegre, RS)


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Os Jogos Olímpicos de Inverno – Vancouver 2010 (Canadá) – foram realizados entre os dias 12 e 28 de fevereiro, com transmissão, pela primeira vez em TV aberta, da rede Record. Talvez isso explique o fato de muitos veículos de comunicação, como os grupos Folha (de birra com a Universal) e Globo (que perdeu a exclusividade dos jogos Olímpicos de verão de 2012), não comentarem quase nada sobre o evento.


Acredito que a TV Record tenha se esforçado e arriscado nas transmissões de jogos pouco conhecidos de nós, porém não menos interessantes. A emissora teve que fazer alguns reprises, por exemplo, da patinação artística, que é um esporte/atração que agrada mais ou é a mais difundida junto ao público brasileiro.


Espero que o projeto de transmissão continue e que outros veículos e emissoras possam parar com a dor de cotovelo quando não tiverem exclusividade, ou deixem de ter medo e arrisquem mais em projetos alternativos saindo da rotina de programas medíocres. (João M. A. da Silva, tecnólogo em informática, Lorena, SP)

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Jornalista, professor da Universidade Federal do Espírito Santo