Discutir a presença de afro-descendentes na mídia internacional, criar uma rede de intercâmbio midiático entre a diáspora africana e articular possibilidades de cooperação entre produtores. Estes foram alguns dos objetivos do Black Media Congress, que se realizou em novembro na cidade de Berlim, Alemanha. O evento foi promovido pelo grupo Cybernomads, que estimula a visibilidade dos afro-alemães na mídia e teve apoio da Agência Federal para Educação Civil do governo alemão e do Goethe Institut.
O congresso foi aberto com a cerimônia de entrega do Prêmio May Ayim de Literatura, dado aos melhores escritores afro-alemães de várias categorias. O prêmio é uma homenagem à poeta e militante afro-alemã May Ayim, que publicou vários artigos sobre a problemática racial na Alemanha e se debruçou sobre a contradição de ser negro/a naquele país. May Ayim cometeu suicídio em 1996 e é um dos ícones da comunidade negra-alemã.
O tema da conferência foi ‘Diáspora negra global: da Conferência de Berlim em 1884 ao afro-futurismo em 2004’. Para o evento foram convidados pesquisadores, ativistas, empresários e produtores de diversos países, como Namíbia, Nigéria, Gana, África do Sul, Estados Unidos, Inglaterra, França e Áustria.
O Brasil foi representado pela ONG Dombali e o Fórum Nacional de Comunicação Contra o Racismo. A Dombali, que trabalha há 14 anos pela inclusão de jovens afro-descendentes na mídia, foi a única ONG brasileira escolhida para participar do evento. Falou da experiência brasileira no campo da inclusão racial na imprensa, mostrando o trabalho de treinamento juvenil nas áreas de produção e filmagens para TV, rádio, dramaturgia e internet e o programa TV Afirmação, produzido para o canal comunitário de São Paulo. Para Regina dos Santos, presidente da Dombali, ‘esse evento permitiu a troca de experiências sobre inclusão racial na mídia e foi possível conhecer iniciativas de todo o mundo’.
No Brasil, invisibilidade
As palestras trataram da importância da diversidade racial na produção audiovisual, do processo legislativo e regulador da mídia e de cases de sucesso na área de mídia étnica. A comunidade negra na Alemanha, por exemplo, é extremante articulada e já tem até um programa em TV aberta, apesar de reunir apenas 3% de afro-descendentes.
Outro tema bastante discutido no congresso foi a necessidade da apropriação das tecnologias de informação e comunicação pelas comunidades negras. Para o pesquisador afro-americano Abdul Alkalimat, coordenador do E-Black Studies da Universidade de Toledo e autor do livro African American Experience in Cyberspace, ‘é preciso fazer a revolução dentro da revolução’. Ele acredita que é necessário que as comunidades negras em todo o mundo se apropriem das ferramentas tecnológicas para mudar a realidade. ‘Ou sempre seremos representados de forma estereotipada’.
Um exemplo de sucesso é a revista Mabe Ya Mbila, da República Democrática do Congo (http://www.mabeyambila.co.uk/), que traz informações sobre educação, saúde, imigração, e tenta promover a auto-estima dos leitores com assuntos de suas comunidades. A revista é produzida na língua lingala, preservando assim os valores culturais e lingüísticos da comunidade.
No Brasil, a invisibilidade do negro na mídia começou a ser discutida nos últimos anos, e o problema exige atenção do governo e de toda a sociedade. A televisão brasileira não mostra a diversidade racial de nosso país e estereotipa os valores e a estética negra. Os cursos de Comunicação Social e as linhas de pesquisa, a rigor, ignoram o tema. Em novembro de 2003, foram realizados seminários sobre o tema nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador e Brasília, em cooperação com o governo canadense e o gabinete do senador Paulo Paim. Para o Fórum Social Mundial de 2005, em Porto Alegre, estão sendo planejadas atividades que discutam a diversidade étnica e o multiculturalismo nos meios de comunicação.
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Coordenador do Fórum Nacional de Comunicação Contra o Racismo na Bahia; viajou a convite da organização do evento