‘A Folha apurou’, como o jornal costuma escrever quando tem uma notícia provavelmente exclusiva, que o secretário de Segurança de São Paulo, Saulo de Castro, tentou evitar que a Rede Globo levasse ao ar o vídeo cuja exibição o PCC havia exigido em troca da liberação do repórter da emissora, Guilherme Portanova, sequestrado na manhã de sábado. O repórter foi solto no começo da madrugada de hoje.
O furo da Folha era o que faltava – se é que ainda faltava algo – para cobrir de razão todos quantos acham que já passou da hora de o governador Cláudio Lembo nomear um secretário de Segurança que pense antes de falar. Ou simplesmente pense.
Os jornais de hoje trazem uma pá de depoimentos sobre a decisão da Globo de atender à exigência dos sequestradores. Tirando alguns delegados – subordinados de Saulo, portanto – todos defenderam a decisão da Globo.
Guaracy Mingardi, o respeitado diretor-científico do Ilunad, instituto da ONU que estuda a violência, resumiu o problema numa pergunta singela: ‘E se a TV não mostra as imagens e ele morre?’
Policiais civis, segundo o Estado, dizem que a emissora ‘cedeu rápido’. Deveria ter negociado com os sequestradores, como se o preço do resgate fosse dinheiro.
Não foi, por sinal, o que a Globo ouviu de entidades internacionais especializadas em segurança jornalística e gestão de riscos, consultadas antes da decisão.
Ah, mas isso vai criar um precedente, argumenta a linha-dura, também conhecida como linha-burra, para a qual pimenta no olho dos outros é refresco.
De fato, em princípio ‘nada impede que outro jornalista seja sequestrado toda vez que o PCC quiser transmitir uma mensagem’, observa Guaracy. Mas é para evitar isso que existem, ou devem existir, polícias capazes de combater o terrorismo do crime organizado – em vez de demonstrar ‘muita retórica e pouca efetividade’, como faz dia sim, o outro também, o secretário Saulo.
O compromisso básico de um órgão de imprensa, especialmente em situações como essa, é com a vida dos seus jornalistas.
Jornalismo é uma profissão de risco. Mas o repórter Guilherme Portanova não foi sequestrado ao cobrir um confronto armado, mas quando tomava café numa padaria.
É absurdo, portanto, querer que a mídia faça o que a polícia não consegue fazer.
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