Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mídia abate nota oficial sobre o vôo carteirado

Ao reconstituir o episódio da carteirada do general Francisco Albuquerque, a imprensa derrubou a alegação da nota do Exército de que o seu comandante “em nenhum momento valeu-se das prerrogativas do cargo” e agiu “como qualquer cidadão ao sentir-se prejudicado após cumprir todas as exigências legais” para poder embarcar em um vôo comercial de Campinas para Brasília na Quarta-Feira de Cinzas.


A nota omite, primeiro, que o general descumpriu o prazo requerido para fazer o check-in – uma hora de antecedência. Segundo a Folha apurou, o sargento que tentou fazer o check-in do superior – por que ele mesmo não podia fazê-lo? – chegou ao balcão da TAM em Viracopos apenas a 15 ou 20 minutos do horário de partida do avião.


Tivesse ele sido pontual, decerto teria embarcado, apesar do overbooking do vôo.


Segundo, “qualquer cidadão prejudicado” não teria o poder de “recorrer ao órgão local do DAC, solicitando providências’. Ou melhor, ter, talvez até tivesse. Mas não passa pela cabeça de ninguém que o fiscal do DAC no aeroporto acionaria a torre para mandar o avião de volta ao portão de embarque, a fim de que o cidadão prejudicado pudesse embarcar, com o desembarque induzido de outros dois passageiros — se ele fosse apenas isso: um cidadão comum.


O Correio Braziliense localizou um passageiro do vôo carteirado. Em matéria transcrita no Estado de hoje, o comandante é citado como tendo-lhe dito que, ao mandar parar os procedimentos para a decolagem, a torre de Viracopos o informou que “um ministro precisava embarcar”.


Além do abuso de poder de um, abuso de ignorância de outro. Desde a criação do Ministério da Defesa, em 1995, as Três Armas deixaram de ter ministros. Têm comandantes, que respondem ao titular da Defesa, no caso, o também vice-presidente José Alencar.


Da mesma maneira como nos episódios de corrupção expostos ao sol por jornalistas – a história do general foi revelada pelo colunista Elio Gaspari, na Folha e no Globo – espera-se que a mídia não deixe a peteca cair e dê respaldo à Comissão de Ética do governo que investiga o procedimento do militar e à Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara, que pretende fazer o mesmo.


Pelo singelo motivo de que carteirada é também uma forma de corrupção. O abuso de poder corrompe o princípio de que os servidores públicos não podem tirar proveito pessoal das funções que ocupam no aparelho do Estado – que por sua vez deve dar aos cidadãos que nele trabalham o mesmo tratamento que a lei manda dar que os pagam.


O turbulento vôo dos tucanos


Pobre leitor. Na Folha de hoje ele verá escrito que “o prefeito de São Paulo, José Serra, deu ontem a seus interlocutores sinais de que pretende disputar a presidência da República.”

No Estado de hoje, além de um artigo na página de opinião, assinado por um editorialista do Jornal da Tarde, da mesma família, e, na página ao lado, de um editorial também propondo a candidatura Serra à sucessão do governador Geraldo Alckmin, o leitor encontrará na coluna Direto da Fonte, da jornalista econômica Sonia Racy, a seguinte afirmação:


“O mercado está prestes a ver a sua chapa-sonho concretizada. José Serra deve sair mesmo candidato para o governo do Estado e Geraldo Alckmin disputará a presidência da República.”


No mesmo clima de confusão geral, outra colunista do Estadão, Dora Kramer, informa que os tucanos consideram a possibilidade de lançar ao Planalto uma chapa puro-sangue: Alckmin para presidente, Serra para vice.


Existe, por sinal, uma vaga base para esse aparente balão-de-ensaio, que a colunista não mencionou. Se a verticalização continuar valendo este ano, o PFL – que ficaria com a vice, na aliança com o PSDB – não poderia participar de coligações diferentes nos Estados, a não ser com partidos sem candidatos ao Planalto.


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