Nada menos que 63 responsáveis por sites de jornalismo colaborativo reuniram esta semana na City University of New York (CUNY) no primeiro grande evento destinado a avaliar os resultados das experiências recolhidas até agora nesta novíssima área da atividade jornalística na Web.
Jornalismo colaborativo é uma modalidade de jornalismo onde o público participa da coleta, processamento e publicação de notícias na Web. É uma modalidade que está provocando um apaixonado debate dentro das redações em todo mundo, porque altera alguns dos mais arraigados princípios do jornalismo convencional.
O encontro foi transmitido pela internet e por blogs de vários participantes, cujos depoimentos permitiram constatar que a modalidade está crescendo principalmente nas cidades médias e pequenas, bem como em bairros periféricos de grandes cidades.
O jornalismo colaborativo inclui também algumas experiências revolucionárias como o projeto da New York Public Radio (WNYC) que resolveu fazer um levantamento comparativo dos preços de alguns produtos como leite, alface e cerveja, usando informações fornecidas por 350 consumidores e publicadas pelo sistema mash-up, com base num mapa de Manhattan e bairros vizinhos.
O mapa permite saber onde estão sendo vendidos os produtos mais caros e os mais baratos. Clicando sobre a caixa de leite, garrafa de cerveja ou cabeça de alface pode se descobrir o nome da loja onde o produto é oferecido, o seu preço e comentários dos consumidores que participaram do trabalho. Sem a colaboração voluntária destes 350 participantes, o levantamento teria consumido muito mais tempo para ser feito.
Esta modalidade de jornalismo está ganhando adeptos em várias partes do mundo e já está na lista das prioridades de financiamento das principais fundações norte-americanas de apoio à pesquisas em comunicação. Só a Fundação Knight , dos Estados Unidos, separou US$ 5 milhões para projetos nesta área.
As iniciativas baseadas na colaboração de usuários na produção de conteúdos jornalísticos vão desde a cobertura de acidentes de trânsito em cidades pequenas até projetos mais ambiciosos como o NewsTrust, que procura avaliar a credibilidade de notícias com base no parecer de leitores, ou o NowPublic, que pretende ser uma agência de noticias com material fornecido por colaboradores voluntários.
Especialistas como o professor holandês Mark Deuze, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e autor do recém lançado livro Media Work (O Trabalho na Mídia) afirmam que o processo colaborativo vai se tornar obrigatório no jornalismo porque parece ser a grande alternativa para a participação dos leitores no processo de produção de notícias, bem como uma opção para os jornais oferecer noticiário local a custo baixo.
Esta possibilidade soa como música aos ouvidos dos executivos da grande imprensa, mas provoca arrepios nas redações porque muda os conceitos de certificação de credibilidade e acaba com o controle dos jornalistas profissionais sobre a agenda noticiosa e com a função de gatekeeper (porteiro da informação), responsável pela decisão do que será ou não publicado.
Como toda experiência nova, a participação do público gerou um grande fracasso e alguns resultados surpreendentes. O maior fiasco correu por conta do projeto BackFence, lançado em 2005 e que pretendia ser uma rede nacional de jornalismo participativo em 16 cidades norte-americanas mas que morreu na praia, no início de 2007, depois de queimar três milhões de dólares e instalar-se em apenas sete regiões metropolitanas, todas elas próximas à Washington D.C.
Em compensação, o projeto Baristanet é apontado como o grande caso de sucesso entre os sites de jornalismo local produzidos com a participação de leitores. Criado em maio de 2004, por um casal de ex-jornalistas, o site tem hoje uma media de cinco mil visitantes únicos diários e um faturamento de 100 mil dólares anuais.
Aqui no Brasil, a principal experiência de jornalismo participativo é o projeto Overmundo, criado em 2006 pelo antropólogo Hermano Vianna, também assessor informal do ministro Gilberto Gil. A iniciativa contou com um empurrão financeiro de dois milhões de reais fornecidos pela Petrobrás e se apresenta como um projeto participativo aberto a produtores culturais independentes.
A performance de Overmundo vem sendo monitorada com lupa para identificar se o site consegue sobreviver sem a ajuda governamental quando terminar o período de encubação de 18 meses, que acaba em novembro de 2007. A partir daí, o futuro do projeto depende do apoio que ele conseguir dos seus colaboradores.
Esta foi também a grande conclusão a que chegaram os participantes do workshop da CUNY, em Nova Iorque. Ficou claro que o processo colaborativo está reunindo um número crescente de adeptos (há quase 500 iniciativas listadas pelo Institute for Interactive Journalism nos EUA) mas todas elas estão longe de garantir o sustento total de seus organizadores.
Tudo indica que o êxito do processo de produção colaborativa de informações depende da capacidade do projeto conquistar a adesão dos participantes mais do que de financiamentos e receitas, segundo Jeff Jarvis, o organizador do workshop em Nova Iorque.
Aos leitores
Entre os dias 15 e 20 estarei fora do país para participar como convidado do III Congresso Latino-Americano e Caribenho da Organização Cristã de Comunicadores (OCLAC), no Equador. Minha intervenção será sobre a observação da mídia no contexto da comunicação digital.