Afirmar que o futuro dos jornais é sombrio já não equivale mais a um simples mau agouro ou profecia maldita. O tema deixou o limbo das preocupações longínquas para entrar na agenda obrigatória da mídia convencional. Prova disto é a sucessão de reportagens publicadas pela revista inglesa The Economist onde aparecem títulos como Who killed the newspapers? (Quem Matou os Jornais? ) e More Media Less News (Mais Mídia e Menos Notícias), e a reunião de diretores de jornais brasileiros em São Paulo, para discutir o futuro do setor no país. Acostumados durante décadas a lucros constantes e uma sólida proteção governamental, os donos de jornais demoraram a ver o que a internet tornou flagrante desde os anos 90: a mudança dos padrões de informação na sociedade contemporânea. Uma mudança que não se limitou a uma questão de gosto ou preferências pessoais mas alterou radicalmente todo o sistema de produção e distribuição de notícias. Durante década e meia, os jornais ignoraram olimpicamente o surgimento de canais alternativos de informação, principalmente os welbogs que deram ao cidadão comum a capacidade de publicar informações. A chamada blogosfera ( rede dos weblogs) aproveitou-se o fenômeno long tail e passou a ser um concorrente respeitável para os jornais. Individualmente os blogs podem ser considerados insignificantes, mas como alternativa de informação eles se tornaram poderosos e cada vez mais influentes. Só agora a grande imprensa começa a se dar conta que a soma dos pequenos pode ser igual à força dos grandes, seguindo uma lei que o varejo eletrônico através da internet já percebeu há algum tempo. Os grandes impérios jornalísticos tentaram usar a informatica e a internet em seu proveito mas o fizeram movidos pela preocupação atávica de cortar custos. Todas as grandes inovações da web, como jornalismo online, convergência, multimidia, narrativa não linear e interatividade foram transformadas em meros instrumentos de redução de despesas, principalmente de mão de obra. Esta preocupação foi duplamente prejudicial aos jornais. Por um lado eles conseguiram criar percepções equivocadas sobre o potencial das novas ferramentas de comunicação e por outro desenvolveram antagonismos trabalhistas cuja solução vai gerar prejuizos tanto para patrões como para empregados. No caso da multimídia, por exemplo, os jornais viram nela apenas a possibilidade de enxugar a folha de pessoal induzindo os profissionais a executar várias tarefas simultaneamente. O setor financeiro ficou feliz com a economia mas as redações logo verificaram a queda de qualidade na informação publicada porque os repórteres não conseguiam exibir o mesmo padrão de excelência no texto, fotografia, audio, filmagens e na interatividade. O leitor tmabém não demorou muito a perceber o engano. A multimidia acabou azedando também as relações entre patrões e sindicatos sem vantagem para nenhum lado. Os jornais deixaram de explorar as vantagens do uso combinado de vários canais de comunicação por conta da miopia contábil enquanto os sindicatos se agarraram à garantias efêmeras, numa era de tecnologias desestabilizadoras, para boicotar a introdução de novas modalidades de cobertura como o repórter abelha e o correspondente comunitário. No fundo ambos perderam uma excelente oportunidade de acompanhar a inovação através de uma atitude aberta. A mudança dos métodos de cobertura jornalística provocados pela internet e informática é tão inevitavel quanto foi a inexorável migração das câmeras filmadoras com celulóide para as câmeras de video, no início dos anos 80, na televisão. Hoje está ficando cada vez mais evidente que o jornalismo praticado na internet vai exigir um aumento no número de empregos em vez da atual obsessão em cortar pessoal. A produção online exige uma forte dose de especialização e portanto de divisão de tarefas. É impossível um mesmo jornalista conhecer e estar atualizado em matéria de montagem de uma página web, no manejo de câmeras digitais, no uso de softwares de acabamento de fotos, nos programas de edição e pós produção de vídeos, sem falar falar nas técnicas de buscas na Web, interação com o público e desenvolvimento de narrativas não lineares. Tudo isto forma o conjunto de exigências mínimas do jornalismo online multimídia em ambiente web. É utópico pensar que uma mesma pessoa pode executar metade das tarefas mencionadas acima, a maioria das quais está sujeita a atualizações constantes nos programas. Assim não há alternativas fora da formação de equipes multidisciplinares de trabalho no jornalismo online. Isto significa mais empregos, o que até agora provocava urticaria na maioria dos executivos de empresas jornalisticas. Mas com a intensificação da migração da publicidade para veículos online (nos EUA a industria automobilistica cortou em 60% a publicidade em jornais e revistas transferindo-a para a internet), o jornalismo online está deixando de ser visto como uma atividade deficitaria. Isto atenuou os temores dos donos de jornais e levou-os a repensar estratégias corporativas. A grande incógnita é saber se as empresas conseguirão reduzir o descredito do publico e reduzir a brecha criada pela acelerada adoção de novas tecnologias por parte do cidadão comum, o antigo leitor de jornais.