Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Dilemas estratégicos afetam futuro dos jornais impressos


Os resultados financeiros positivos de algumas experiências de acesso pago à informações publicadas na Web reacenderam, paradoxalmente, a polêmica sobre a sobrevivência dos grandes grupos jornalísticos contemporâneos.

A retomada do debate surgiu nas últimas semanas quando a direção do The New York Times (exige cadastramento grátis) se dividiu a respeito da avaliação do faturamento recorde de 10 milhões de dólares em 2006, na área da versão online do jornal que é privativa de assinantes.


Um grupo, liderado pelo Diretor de Entretenimento, Nicholas Ascheim, acha que esta soma representa apenas uma fração do faturamento global das operações jornalísticas do grupo Times, e que o ganho em dinheiro não compensa a perda de leitores que não desejam pagar por artigos de opinião ou comentários de especialistas, especialmente os jovens entre 20 e 35 anos.


O outro grupo de executivos do NYT aposta no crescimento sustentável das receitas online como a única alternativa para compensar a queda do faturamento publicitário nas edições impressas, uma das principais responsáveis pela preocupação cada vez maior dos investidores e acionistas com o futuro da imprensa convencional.


O dilema é complicado porque, aparentemente, os dois lados tem razão. Mas não é só isto. A questão envolve também escolhas estratégicas de longo prazo, onde as opções são:


1) Ganhar dinheiro ou criar audiências como forma de garantir a transição para a hegemonia das operações online sobre a impressa?
2) A venda de audiência continuará sendo uma mercadoria atraente para os anunciantes nas versões online?


Os executivos tradicionais apostam no aumento do faturamento para cobrir a queda da publicidade impressa e manter a estratégia atual onde as edições impressas financiam as operações na internet. Isto significa ampliar as áreas de acesso pago e restrito na Web.


Este raciocínio lógico do ponto de vista contábil cai por terra, no entanto, na realidade da internet, onde está provado que as pessoas não gostam de pagar por acesso à informação não processada e que a formação de audiências através de serviços grátis é a fórmula mais segura para o sucesso financeiro (vide caso Google).


A resposta da segunda questão é mais delicada. O verdadeiro negócio dos jornais, rádios, revistas, televisões nunca foi vender informação ou entretenimento. O que os veículos convencionais de comunicação comercializam na verdade são audiências aos anunciantes.


Os jornais, por exemplo, conquistam leitores fornecendo informações, para depois vender a fidelidade do seu público para empresas interessadas em transformar este mesmo público em consumidor de seus produtos e serviços.


Na internet, o alvo continua sendo a formação de audiências, só que para chegar até elas o processo não é mais a venda de informações, porque há uma avalancha informativa e o produto perdeu valor comercial na sua forma bruta.


Nos seus 10 anos de existência, a Web deu dois tipos de respostas para a busca de audiências: oferta grátis de informação e as chamadas comunidades de informação (casos YouTube e Second Life).


O problema atual de grupos como o Times não é dinheiro ms sim estratégias futuras. As tres empresas online do NYT faturaram 85 milhões de dólares no último trimestre do ano passado, um crescimento da ordem de 30,2% em relação ao mesmo período em 2005. Mesmo assim as operações na Web representaram apenas 9% do faturamento global das empresas do grupo.


Em matéria de audiências a situação se inverte. Os projetos online to Time receberam em dezembro 44,2 milhões de visitantes únicos, quase 20% a mais do que o número de compradores de publicações impressas do grupo, segundo dados publicados pel site Follow The Media.


Conversa com os leitores:
Vocês podem estar se perguntando, porquê escrever sobre a situação interna de um jornal e ainda mais norte-americano?
Bom, em primeiro lugar porque estou convencido de que o público é um protagonista chave na definição do futuro da imprensa e para exercer este papel ele precisa saber mais a respeito desta mesma imprensa. Sem informações ele continuará um consumidor passivo de tudo o que for publicado.
Depois, há a questão da transparência informativa. Há mais informações sobre a imprensa dos Estados Unidos do que aqui, onde os grupos jornalísticos brasileiros mantém um férreo controle sobre tudo o que se passa dentro das respectivas empresas. O que os norte-americanos chamam de Media accountability , virou palavra proibida aqui.
Além disso, o The New York Times é, até agora, a mais bem sucedida experiência jornalística na internet. Os problemas que eles enfrentam são no mínimo um alerta para nós.