O Globo de hoje vale o ingresso por ter aparentemente capturado uma frase capaz de concorrer, pelo título de melhor do ano, com a do ainda deputado Roberto Jefferson, em 14 de junho: “Zé Dirceu, se você não sair daí rápido, você vai fazer réu um homem inocente, que é o presidente Lula. Rápido, sai daí rápido, Zé.”
A frase começa assim: “Não é nada de novo. É caixa 2”.
E termina assim: “Tem a ver com as práticas informais da gestão anterior”.
Reportagem assinada por Ricardo Galhardo e Jailton de Carvalho a atribui, de fio a pavio, a Paulo Ferreira, sucessor de Delúbio Soares na secretaria de Finanças do Partido dos Trabalhadores.
Teria sido dita a propósito da revelação da Folha de domingo de que, em maio passado, o PT pagou R$ 1 milhão em dinheiro à tecelagem Coteminas, da família do vice José Alencar.
Pela compra de 2.750.616 camisetas de propaganda eleitoral no ano passado, a sigla assumiu uma dívida de R$ 11.031.216,48 com a Coteminas. Segundo a empresa, a compra deveria ter sido paga em duas parcelas, em novembro de 2004 e janeiro de 2005.
A pedido do partido, os vencimentos foram renegociados para 15 de março, de abril e de maio. Com os encargos, a dívida àquela altura já estaria em R$11.948,673,12, e as prestações seriam pouco inferiores a R$ 4 milhões.
Dia 15 de março, nada. Dia 15 de abril, nada. Dia 15 de maio, nada. Dia 17, o PT pingou R$ 1 milhão nos cofres do credor. [Ele sabia que ia pingar?]
Pelas declarações do presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, filho de José Alencar, a coordenadora administrativa do PT, Marice Corrêa de Lima, entregou o dinheiro vivo, depositado em seguida numa conta da empresa no Bradesco.
O depósito foi feito com um dos CNPJs do partido.
Como dizia a oposição no caso Dirceu…
Ainda segundo O Globo, Ferreira negou que tenha procurado Delúbio para tratar do assunto. “Desde quando”, teria dito, “é preciso falar com alguém para descobrir isso?”.
Mais ou menos o que dizia a oposição para justificar a cassação de José Dirceu. Mas deixa pra lá.
Não se sabe se antes ou depois de ter dito o que o Globo lhe atribui, o mesmo Ferreira assinou ontem com o presidente petista Ricardo Berzoini uma nota sobre o que nela se chama “suposto pagamento que o PT teria efetuado à Coteminas”.
O seu ponto central é este: “Não há registro, em nossa contabilidade, do pagamento de R$ 1 milhão à Coteminas em maio deste ano ou de qualquer outro pagamento relativo ao abatimento da referida dívida” [citada no parágrafo precedente da nota].
Lembram-se dos “recursos não contabilizados” de que falava Delúbio para não falar “caixa 2”?
Seja como for, o PT não assume o pagamento por dentro nem por fora, ao usar duas vezes o adjetivo “suposto” para se referir a ele. Assume apenas que deve “R$ 11 milhões” à Coteminas.
Mas aí, em que Paulo Ferreira acreditar? No que assina em baixo do duplo “suposto pagamento”? Ou no que – segundo O Globo – deixou cristalinamente claro que o pagamento não apenas não era suposto, mas uma prática recorrente no PT: “Não é nada de novo. É caixa 2”.
Ou o jornal fabricou ou distorceu as suas palavras – o que não é impossível, mas é altamente improvável – ou o PT vai ter que fazer mágica para provar que não é nada de novo: apenas mais um capítulo da suposta novela “Conspiração da Mídia”.
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