Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
Ela já foi chamada de hidra, dragão, fantasma, pesadelo. A inflação é tudo isso e muito mais. Quando o dinheiro se desvaloriza, tudo se desvaloriza e a mídia pode ser decisiva para evitar que o espiral nos conduza ao ralo.
Dezesseis anos depois, ei-la de volta às manchetes. Nossa inflação está muito longe de ser classificada como galopante, no máximo vai num trote. Mas este trote pode desembestar.
Nossa mídia está muito atenta às ameaças inflacionárias, os mecanismos de acompanhamento criados pelo governo são muito precisos, confiáveis e sobretudo transparentes – ao contrário da Argentina – mas não adianta noticiar apenas o movimento dos índices e taxas. A inflação se processa no plano macroeconômico mas também no microeconômico. É justamente neste nível cotidiano que a mídia tem um importantíssimo papel educativo e cívico.
Governos, em geral, gostam do consumismo desenfreado, os bancos também, a inflação mais ainda. A imprensa tem condições de alertar o cidadão para os perigos de gastar mais do que ganha, apostar no crédito fácil e torrar poupanças. Mas para botar a boca no trombone a mídia fatalmente colidirá com os interesses da indústria, do comércio e dos serviços. "Pense antes de gastar" seria o mote de uma campanha que os anunciantes detestariam.
Em favor da nossa mídia é importante registrar o saudável ceticismo que os principais veículos do país exibiram nas edições de hoje. Ao invés de rejubilar-se com a melhoria da nota concedida pela agência de classificação de riscos Fitch, mostraram-se preocupados com os efeitos perversos desta, que em tempos normais, seria uma boa notícia.
Se a mídia americana tivesse sido mais sensível à exuberância do mercado imobiliário, o mundo não teria passado por tantos sobressaltos desde 2008.