No Jornal Nacional (24/1), o governador de São Paulo, José Serra, diz que não vai revelar o valor da indenização recebida pela família da advogada Valéria Alves Marmit, vítima da obra desabada do Metrô paulista: ‘A família pediu que isso não seja divulgado’. O JN segue o mesmo critério. O Estadão de hoje (25/1) põe a cifra na primeira página. Dane-se a família.
No mesmo JN, no site de notícias da Globo e no Estadão, as turistas holandesas que fizeram patetadas com PMs em Paraty aparecem em fotos onde seus rostos estão borrados. [Esclarecimento dado pelo diretor-executivo de jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel, em 26/1: nenhum noticiário da Globo borrou o rosto das turistas; devo ter visto em outra emissora.]. Na Folha, são publicadas sem retoques as mesmas fotos que haviam aparecido na internet e foram retiradas. Quem entende os critérios dos editores?
No JN, o repórter que noticia a confirmação de que um contínuo morreu no buraco do Metrô dá a notícia com um semi-sorriso nos lábios. Qual é a graça? Na TV Cultura, a apresentadora de uma versão brasileira de documentário da BBC sobre o campo de extermínio de Auschwitz também não consegue domar o sorriso. Ou será que sua expressão fisionômica é sempre essa? Sendo ou não, qual é graça?
O Globo põe na primeira página, ao alto, foto em toda a largura de magrelos mal-vestidos presos na Vila do Cruzeiro numa operação policial que deixou a população em pânico (pânico devidamente mostrado no JN). O título traduz a mentalidade torta de filme de mocinho e bandido: ‘Cerco aos bandidos que incendiaram ônibus’. Aiôôô, Silver! Será que não percebem que isso nunca vai dar certo? E onde foram parar os direitos dos cidadãos? São ‘bandidos’ ou são ‘suspeitos’?
A ciranda se alimenta: bandido-polícia-imprensa-polícia-bandido. Ou qualquer outra ordem que o leitor prefira, desde que não se retire o traço de união entre essas forças que trabalham tão intimamente próximas.