Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Conexões e desconexões

A revolução da tecnologia da informação e a reestruturação do capitalismo introduziram uma nova forma de sociedade, a sociedade em rede.‘ (M. Castells).

A existência social e suas segmentações no mundo pós-moderno dependem de nossa conexão em uma determinada rede. Existem inúmeras redes, e estas, por sua vez, resultam de uma rede intrincada de relações. Sejam estas relações de natureza biológica, social, política, econômica ou tecnológica, as mesmas apresentam algumas características comuns e seu estudo faz parte da chamada ‘ciência da rede’.

Esta ciência está associada à idéia de ciência pós-moderna, pois seu objetivo é o estudo das relações e não o aprofundamento de partes isoladas. Um mundo em rede (http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/mundorede.html) é complexo, por isso gera vidas e relações complexas. Na verdade a máxima que acompanha a noção de rede é: ‘complexidade gera mais complexidade’.

Os novos sistemas empresariais estão organizando-se a partir de diferentes formas de rede, e como exemplos marcantes M. Castells cita as empresas do Japão, da China e da Coréia. Assim, os trabalhadores hoje se classificam em ‘ativos na rede’, ‘passivos na rede’ e os ‘desconectados’, e o tripé do sistema econômico global (produtividade, competitividade e lucratividade) depende de como as unidades econômicas estão conectadas nas redes da economia pós-moderna (http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/index.economia.html) e de como elas administram a relação com os fluxos de informação.

Rede de fluxos

A política pós-moderna (http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/politica1.html) tem suas estratégias organizadas em rede. De um lado, positivamente desterritorializados (http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/index.gdesterrito.html), temos a ação em rede dos novos movimentos sociais, políticos e culturais (http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/roberta.html), os quais cada vez mais estão se constituindo como poder de oposição ao instituído, e possibilitam que as vozes anteriormente caladas, sejam ouvidas e suas concepções compreendidas. Destaco aqui R. Cardoso, ao afirmar que ‘a criatividade, a negociação e a capacidade de mobilização serão os mais importantes instrumentos para conquistar um lugar na sociedade em rede’.

De outro lado, também com uma estrutura em rede, porém negativamente desterritorializados, temos, ‘os traficantes de armas, os sonegadores de impostos, os terroristas’ (H. Enzensberger), e acho impossível esquecer os traficantes de seres humanos (depois do tráfico de drogas e de armas, o tráfico de pessoas movimenta bilhões de dólares por ano e em aproximadamente 80% dos casos no mundo envolve mulheres).

Redes interativas de comunicação (http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/informa.html) estruturam uma nova geografia de conexões e sistemas. Delas resulta o mundo ‘virtual’ e o que hoje chamamos de cibercultura. Por elas correm os fluxos (http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/fluxos.html), sendo que a rede de fluxos financeiros é uma das bases do capitalismo global e, interagindo com as outras redes de fluxos, faz das cidades pós-modernas (http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/cidade.html) extensas teias de telecomunicações avançadas, ou seja, além de centros da vida política, econômica e sociocultural, tornaram-se verdadeiros sistemas eletrônicos.

Tempo-espaço

A predominância das redes no mundo pós-moderno coloca em xeque categorias e conceitos tradicionais (dentre os quais destaco o de individualismo e o de relações de poder). Dimensões básicas da vida (como tempo e espaço) são desconstruídas, e a interação local-regional-global expressa um mundo globalizado (http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/globoautonomia.html) no qual, seguindo M. Castells, ‘todos os processos se somam num só processo, em tempo real no planeta inteiro’.

Penso que se estar-em-rede associa-se à existência social, política e econômica assim como à riqueza, o não-estar-em-rede associa-se a antigas e novas formas de exclusão (http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/pos-modernidade.html), de miséria e de violência.

No mundo em rede, somos forçados a enfrentar o desafio de reconstruir nosso ‘ser’ e ‘estar-no-mundo’, e digo isto lembrando-me e concordando com Heiddeger que não somos seres finalizados, mas sim um leque de possibilidades inesgotáveis. Afinal, nossa identidade sofre as influências de novos códigos cotidianamente e a vida como resultado de uma rede de interações de naturezas diversas (http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/interdiscip4.html), é um fluxo que corre numa velocidade sem precedentes num tempo-espaço altamente tecnológico e ‘quem seremos no futuro dependerá de nós mesmos’ (M. Castells).

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Professor do Departamento de Sociologia e Política da Universidade Federal de Santa Maria, RS