Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Há cortina de fumaça nas eleições municipais?

Nas homes dos portais de notícia do Rio Grande do Sul, não é difícil visualizar menções à fumaça das queimadas que chegou ao estado nos últimos dias, mudando o horizonte de Porto Alegre. Por outro lado, quando se colocam em perspectiva as publicações destes veículos sobre as eleições que irão ditar os rumos da gestão ambiental no município nos próximos anos, a questão climática ainda é pouco abordada. Já a fumaça sequer existe.

Numa avaliação das publicações feitas por GZH em setembro, apenas quatro publicações abordaram a pauta eleitoral fazendo menção a qualquer tema relacionado ao meio ambiente. Nenhuma delas abordou as queimadas. Fizemos, então, um exercício contrário: o de observar como as publicações sobre as queimadas implicavam o ente público. O levantamento apontou 18 publicações sobre o assunto, dos quais três traziam fontes da administração pública, sendo estado e município.

Todas as inserções, cabe dizer, foram feitas no mesmo dia, 10/9. Citando a administração pública municipal no que concerne às queimadas, a primeira publicação afirma que “A instalação de medidores da qualidade do ar em Porto Alegre, prometida pela prefeitura na COP 28, não tem data para ocorrer”. A publicação contextualiza a situação, questionando a gestão municipal sobre o assunto. O órgão a se manifestar é a Secretaria de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), que explica sobre a etapa de aquisição do referido material – ainda sequer entrou em fase licitatória. O órgão, em nota, ainda transfere a responsabilidade pelo monitoramento do ar ao estado.

A resposta do estado é a mesma utilizada na notícia “Em dia com sol alaranjado, Porto Alegre tem qualidade do ar “insalubre”, segundo agência suíça”. Nesta, o repórter traz como uma das fontes a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Estado. Em nota, o órgão afirma que a qualidade do ar no município é boa, conforme monitoramento da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), informação que contrasta com a de outra fonte citada na matéria, a agência suíça IQ Air, segundo a qual “a qualidade do ar em Porto Alegre nesta terça-feira (10) está “insalubre””.

A terceira publicação está focada no município. Em “Secretaria da Saúde de Porto Alegre divulga orientações para população se proteger do efeito das fumaças no RS” , a administração municipal assume protagonismo, indicando como os afetados pela situação podem mitigar seus impactos. O comunicado filia-se ao Ministério da Saúde ao admitir condutas simples que podem proteger a população dos efeitos nocivos da fumaça. Percebemos, com esta análise, que, mesmo que se avalie a situação das queimadas como uma questão maior que o município, é também nele – e a partir dele – que as repercussões na saúde pública mais se manifestarão. Desta forma, ao jornalismo, quando atua no tema “Eleições”, caberia questionar os candidatos sobre problemas ambientais, não excluindo estes que já nos afetam de maneira urgente, permitindo, também, que a população entenda a quem e como se pode cobrar atenção a estes problemas.

Texto publicado originalmente em Observatório de Jornalismo Ambiental.

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Eutalita Bezerra é jornalista, doutora em Comunicação e Informação, membro do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental.