Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Balizas contra a manipulação

No ano que vem haverá uma campanha eleitoral esquentada. Talvez certas revelações ou intrigas sejam refreadas porque os dois lados, ou os vários lados envolvidos, sabem demais uns sobre os outros. Até aqui tem havido nas campanhas uma espécie de “equilíbrio pelo terror”. As “bombas atômicas” ficam estocadas e cada grupo faz saber ao outro que as possui.


Esse sistema de dissuasão foi violado na campanha eleitoral de 1989, quando Fernando Collor usou o depoimento de uma ex-namorada de Luiz Inácio Lula da Silva, Miriam Cordeiro, mãe da menina Lurian, como arma suja de campanha. Collor foi desmascarado e cassado. O padrão não foi retomado, afora uma ou outra estocada em campanhas subseqüentes.


Mas haverá, com toda certeza, discursos manipulados. É um processo em que se estabelece uma meta ideológica, ou de agitação e propaganda política, e se amolda a realidade à meta. É tanto mais eficaz quanto mais aparência de verdade tem. Sempre usa o esquecimento do leitor ou ouvinte. O esquecimento é inevitável, é uma necessidade operacional do cérebro. Se as lembranças permanecessem ocupando muito tempo de uso consciente do cérebro seria impossível pensar cada momento novo e olhar para a frente.


Essas histórias partidárias manipuladas começam a nascer agora, com a interpretação que cada grupo dá aos fatos noticiados (há fatos que não são noticiados, não se tornam públicos, não podem ser objeto de comentários em público).


Isso faz crescer a responsabilidade de repórteres e de comentaristas da notícia. A cada momento eles precisam escrutinar e qualificar o que é noticiado. Sem temer os poderosos. Como se deixassem marcas no material que vai ser manipulado pelos redatores das futuras campanhas eleitorais. Com o advento do Google, na internet, aparece tudo que é colocado em texto digital.


Um bom exemplo de análise crítica do noticiário está no blog vizinho Verbo Solto, de Luiz Weis, no tópico Lula e Dirceu, ou ‘a gente se vê por aqui’. Mobiliza várias fontes em restabelecer algumas verdades.


Outro bom exemplo de análise na contramão de um discurso oficial está hoje na coluna de Rolf Kuntz, colaborador deste Observatório da Imprensa, no Estado de S. Paulo. Chama-se “Um passeio pela cabeça de Lula”. Comenta as manifestações sobre economia e política externa feitas ontem pelo presidente da República em entrevista de rádio. É tanto mais útil porque não toca em pontos óbvios, repisados diariamente. E duro: “Ele deve ter sido sincero. Nenhum presidente diria tantas barbaridades se quisesse ocultar seu pensamento”.