A divulgação dos resultados do Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC) em Paris, na última sexta-feira (02), abriu uma espécie de temporada do apocalipse na imprensa brasileira. Ninguém dúvida da gravidade da situação. A elevação de temperatura de 1,1º C a 6,4º C até 2100, uma das previsões do cientistas, deverá trazer impactos terríveis à vida no Planeta. Mas o mundo ainda não acabou, e a mídia precisa passar a cobrir esta área com mais competência e periodicidade. Até para ajudar a reverter a degradação do Planeta.
Nas questões ambientais, porém, a imprensa sempre oscilou entre o fim do mundo e a indiferença. Até a Eco-92, meio ambiente era considerado frescura de jornalista bicho-grilo.
No final dos anos 80, praticamente só o Jornal da Tarde mantinha um jornalista nesta área: Randau Marques. Tentei convencer o Estadão e depois a Folha da necessidade de se cobrir o setor ambiental. Mas não tive sucesso. Meio ambiente, na época, era considerada ‘coisa de Gabeira, de Fábio Feldman e de Chico Mendes’.
Ou seja, a mídia tem uma parcela de culpa pela degradação do Planeta. Em 1992, a imprensa brasileira investiu alto na área durante a realização da conferência ambiental no Rio de Janeiro. Puro modismo. Seguiu-se um período de ressaca, e o tema desapareceu novamente dos grandes jornais.
Protocolo de Kyoto, crédito de carbono, sustentabilidade, biotecnologia, transgênicos e mesmo o aquecimento global são temas pouco presentes nas páginas de jornais e revistas. Há pouquíssimos jornalistas especializados nesta área. E, entre estes, apenas meia dúzia conseguem analisar a questão ambiental sob o ponto de vista econômico, dentro de uma visão de sustentabilidade.
Jornais e revistas têm a mania de compartimentalizar os temas. Meio ambiente pertence a Ciências. Etanol sai no caderno agrícola. Clima tem uma coluna fixa em Cotidiano.
Fim do Mundo
Desde a divulgação do relatório sobre o clima, na última sexta-feira, a Folha faz a contagem regressiva para o fim do mundo. Neste domingo,chamada de alta de página anunciava o provável desaparecimento de 18 praias do litoral paulista. O tema é importante e deveria ser analisado com mais cuidado. Os dois repórteres (Cláudia Collucci e José Ernesto Credendio) são competentes e experientes, mas não tiveram espaço para desenvolver melhor a sua reportagem.
O gráfico publicado à página C-4, que indica as praias com classificação de muito alto risco, está confuso. Algumas praias citadas como risco muito alto, caso de São Lourenço e Itacolomi, na legenda constam como de médio risco.
Reportagem tão importante quanto esta, que tem implicações sociais, econômicas e ambientais, deveria ser feita com mais tempo e preferencialmente in loco, percorrendo-se todas as praias citadas. Em uma delas, o repórter poderia ter notado a construção de um grande empreendimento imobiliário com pé-na-areia!