Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Jornalista de assessoria e de redação: juntos por uma comunicação eficaz

(Imagem: Flo Dahm/Pexels)

Jornalistas que navegam pelas redes sociais, especialmente pelo LinkedIn, certamente já se depararam com postagens e algumas discussões acerca do trabalho da assessoria de imprensa e sua relação com quem está na redação. Pontos de vistas variados, opiniões diversas, cutucadas aqui e outras acolá, mas, geralmente, boas trocas podem ser encontradas.

Acompanho, com particular curiosidade e interesse, esse movimento de debater a relação entre profissionais da área, que atuam em frentes distintas, mas todos em prol de um grande objetivo: fazer uma comunicação eficaz, oferecendo aos leitores informação verdadeira e de qualidade. Algo cada vez mais difícil, diga-se, por conta da infinidade de meios pelos quais as notícias chegam até nós e, principalmente, do alto índice de desinformação e fake news.

A principal diferença entre o jornalista de assessoria e o de redação é simples. Enquanto um oferece seus serviços a um veículo, outro o faz para empresas e/ou pessoas. Mas as bases teóricas, de trabalhar com a verdade, e a prática, com apuração, checagem, entrevista, escrita, edição, são as mesmas.

O bom assessor de imprensa faz o trabalho de repórter, identificando o que é interesse público e quais histórias de seu cliente fazem sentido para os veículos de comunicação. Inúmeros são os casos de assessores que produzem toda a pauta, com dados, fontes e personagens, deixando tudo bem redondo para os colegas de redação.

Outro ponto importante a ser destacado é a construção do relacionamento. Nenhuma troca pode ser feita da maneira ideal sem que ambas as partes sejam transparentes, éticas, com um diálogo constante e aberto, e, claro, pautando-se pela verdade. Essa é a base para qualquer tipo de relação, seja ela pessoal ou profissional, como a que estamos falando.

Em um cenário onde 52% dos assessores de imprensa avaliam que o relacionamento com a redação pode ser melhorado, conforme pesquisa de Leandro Sobral (a ser publicada em breve), é animador ver a disposição da maioria dos profissionais da área em fazer melhor, para todos.

Jornalistas assessores geralmente atendem mais de um cliente e possuem rápido acesso a porta-vozes experientes, que podem ajudar na construção das reportagens dos jornalistas de redação. Ambos conhecem os deadlines, entendem da pressa no fechamento da pauta e podem colaborar mutuamente, respeitando os cenários de cada um.

Já os jornalistas de redação trazem um olhar apurado e crítico para as notícias, um faro para encontrar e contar boas histórias, sabem identificar temas relevantes, analisando dados com precisão e contribuindo com discussões mais aprofundadas e importantes para a opinião pública.

Precisamos falar também sobre empatia. Se colocar no lugar do outro é uma das partes mais relevantes da equação. Com demissões em massa em redações cada vez mais frequentes e num menor intervalo, quem fica tem de lidar, naturalmente, com mais pautas e maior abrangência de cobertura. Ou seja, mais trabalho e menos tempo.

Por outro lado, a pressão do cliente (e dos gestores) por ver as pautas publicadas na imprensa, a grande quantidade de demandas e, por vezes, o desconhecimento de como funciona um veículo de comunicação fazem com que os assessores se sintam correndo o tempo todo em busca dos resultados.

O efeito é claro: jornalistas de assessoria e de redação cheios de tarefas, com prazos apertados e cobranças constantes. E, novamente, este e aquele em prol de um caminho apenas: a informação de qualidade ao público leitor.

E não entremos no mérito dos maus profissionais, que atuam sem transparência, estimulando o ‘nós contra eles’, de forma prejudicial à profissão. Aqui, falo com quem entende a atividade nas suas diversas configurações, valoriza e sabe que os percalços podem ser vencidos mais facilmente quando divididos e compartilhados.

Num momento no qual 47% das pessoas evitam notícias, precisamos buscar caminhos para melhorar a comunicação, de uma maneira geral, com conversas e debates honestos, abertura de espaços de diálogos e busca por soluções. Enquanto não nos vermos como parceiros no dia a dia, estaremos puxando a mesma corda, cada um para seu próprio lado, girando em círculos, sem sair do lugar. E aí, quem perde é a profissão de jornalista.

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Tadeu Nunes é ​​jornalista formado, com mais de 10 anos de experiência em agências, como Vira Comunicação, e em grandes redações, como Veja, g1 e Agora SP.