O Congresso Nacional, na quarta-feira (10/3), aprovou emenda que retira do estado do Rio de Janeiro royalties do petróleo. No dia 11/3, manifestação contra emenda que retira royalties do petróleo do Rio de Janeiro bloqueou saída de Campos durante o dia inteiro. Delinquentes incendiaram pneus, poluíram o ar, colocaram em risco a incolumidade pública.
A prefeita de Campos e o presidente da Câmara de Vereadores (cunhado dela) apoiam, in loco, a prática de risco contra a incolumidade pública. Fico impedido por 24 horas de retornar a minha casa, preso em Campos. A manifestação é liderada pela presidente da Associação de Prefeitos dos Municípios Produtores de Petróleo e prefeitos da região. A líder alega que o objetivo é chamar a atenção da Justiça. A OAB de Campos, Câmara de Vereadores, Crea e Anfea apoiam a prefeita de Campos e ex-governadora do Estado do Rio. Um caminhão com logotipo da prefeitura, de cima do viaduto, lança vários troncos sobre a rodovia federal para aumentar o fogo dos pneus. A Polícia Rodoviária Federal e os Bombeiros permanecem de braços cruzados. Consentimento por omissão? O comandante da Polícia Rodoviária Federal fala à TV: não tem com quem negociar; não identificou o líder. O fogo coloca em risco a estrutura do viaduto. Lembro-me de ações do narcotráfico que bloqueiam rodovias com os mesmos métodos. A diferença é que em Campos não incendiaram ônibus nem mataram passageiros.
Com exceção da Rede Record, os órgãos de imprensa não trataram do aspecto ilegal e das conseqüências da baderna promovida pelo poder público. A imprensa não viu mulheres grávidas, crianças e idosos sendo impedidos de sair da cidade de Campos por 24 horas. No dia 12/3, o jornal O Diário tenta desmoralizar a ação de vereadora para abrir CPI dos desvios dos royalties em Campos. Detalhes da ação contra a segurança dos meios de transporte foram registrados pela InterTV e pelos jornais O Diário, Folha da Manhã e O Dia. OAB e Crea-RJ devem uma explicação.
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Acompanho frequentemente este Observatório e gostaria da opinião dos editores sobre o movimento em torno da PEC 300, emcampada pelas PMs dos estados em busca de equiparação de salários com os PMs do Distrito Federal. Nossas polícias, entre outras coisas, são mal preparadas, mal pagas e mal selecionadas. Havendo vencimentos maiores, o estado pode exigir mais rigor nos treinamentos e seleção de candidatos em concursos futuros. Percebo que há uma orquestração geral entre os veículos de informação com objetivo de abafar ao máximo tal empreitada. Não creio que o Observatório faça parte. Deixo aqui a sugestão para lerem uma reportagem da Veja sobre profundas mudanças nas polícias de Nova York e Los Angeles. Na mesma, cita-se o fator salário como fundamental na estratégia de revitalização das polícias. (Hernando Salazar Pacheco, técnico judiciário, Cuiabá, MT)
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Fico pasmo ao ver o péssimo jornalismo do Portal G1, que simplesmente ignora os eventos esportivos patrocinados pelos concorrentes. Onde estão as informações sobre a Fórmula Indy no G1? Outra coisa, por que a Globo insiste em dizer que o Flamengo é hexacampeão se na lista da CBF só aparece o São Paulo? Um órgão de imprensa não tem o direito de transformar uma mentira em verdade apenas repetindo-a incansavelmente. (Edmar Moretti, geógrafo, Brasília, DF)
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Voltava para casa quando vi vários telejornalistas e operadores de câmera e áudio na Delegacia Central de Osasco (SP). Estacionadas ao largo, unidades de transmissão de vários canais de TV aberta. Em dado momento, jornalistas e operadores saíram correndo atrás de um rapaz que desceu a escada do prédio. Ao chegar em casa, descobri que se tratava da cobertura do depoimento de testemunhas no caso do assassinato do cartunista Glauco (ver aqui).
Osasco faz parte da grande São Paulo. Os dados do IBGE revelam que a cidade é um importante centro industrial, comercial e de serviços (ver aqui). Apesar da recessão provocada pela crise financeira mundial, que acarretou uma queda na arrecadação de impostos em nível federal de 3,05%, em 2009 Osasco e região apresentara um aumento de 15% na arrecadação tributária (ver aqui).
Nos telejornais, entretanto, Osasco somente tem aparecido como palco de tragédias (explosão num shopping center em 1996, desabamento do teto da Igreja Universal em 1998 e inundações em 2009-2010), origem de escândalos (vazamento do gabarito da prova da OAB em 2010), local de ocorrências policiais (assassinato do cartunista Glauco e seu filho), lugar visitado pelo presidente Lula. Se não estou enganado, a única excessão a este padrão foi a cobertura do transporte do barco Paraty II, cujo casco foi fabricado em Osasco sob encomenda do navegador Amyr Klink.
De maneira geral, para os telejornais nada em Osasco é digno de ser noticiado a não ser que se refira ao trânsito na junção da Castelo Branco com Marginal, se relacione a sofrimento humano (tragédias e casos policiais) ou envolva personalidades estranhas à cidade (Lula e Amyr Klink). A importância econômica de Osasco (atestada até pelo IBGE e pelo aumento da arrecadação durante a crise) é ignorada. A vida cultural da cidade, desconhecida ou desprezada.
Enquanto meditava sobre esta maneira um tanto distorcida que o telejornalimo tem empregado para se apropriar de Osasco lembrei-me das palavras de Pierre Bourdieu: ‘A relação originária com o mundo social a que estamos acostumados, quer dizer, para o qual e pelo qual somos feitos, é uma relação de posse, que implica a posse do possuidor por aquilo que ele possui’ (O poder simbólico, Bertrand Brasil, 11ª edição, pág. 83).
Que imagem os telejornalistas possuem de Osasco? Tudo indica que é apenas uma imagem negativa ou pelo menos tão negativa quanto aquela que eles têm apresentado nos telejornais – e que eu resumi aqui.
Osasco, entretanto, tem outras imagens, imagens positivas (como o aumento de arrecadação durante a crise), imagens desconhecidas que podem ser mostradas até para desfazer a impressão que a cidade é apenas um palco de tragédias e ocorrências policiais. Mas os telejornalistas parecem estar possuídos por uma determinada imagem de Osasco. Eles conseguirão se libertar dos seus condicionamentos?
O homicídio do Glauco, por exemplo, poderia ajudar a desfazer a imagem telejornalística negativa de Osasco ao invés de apenas reforçá-la. Mas até o presente momento nenhum telejornalista perguntou porque Glauco escolheu morar justamente em Osasco. Para os telejornais o fato de ele ter vivido na cidade é menos importante do que a morte dele aqui. (Fábio de Oliveira Ribeiro, advogado, Osasco, SP)
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Arquiteto e urbanista, Rio de Janeiro, RJ