Os deputados têm o seu Conselho de Ética. Só pelo que disse ontem ali Fernanda Karina, a ex-secretária do publicitário Marcos Valério, sobre o que lhe parecia apenas uma conversa com o editor de economia da Istoé Dinheiro, Leonardo Attuch – e não, como viria a descobrir, lendo a matéria, uma entrevista – seria o caso de convocar o Conselho de Ética dos Jornalistas. Se existisse um.
Na versão de Fernanda, que os deputados não se esforçaram para tirar a limpo, porque, compreensivelmente, o seu interesse era outro, foi ela quem tomou a iniciativa de procurar o repórter cujos “artigos” apreciava, para falar mal do seu ex-patrão.
Quando enfim deixaram de se comunicar por e-mail e conversaram face a face durante 40 minutos, em Belo Horizonte, será que ela não percebeu que aquilo era uma entrevista? Ou o repórter encobriu a situação, no que seria uma atitude eticamente duvidosa?
Mais. Fernanda contou ter dito por telefone a Attuch que não a procurasse pessoalmente. Ainda assim ele se plantou dentro de um táxi na porta do prédio do seu novo emprego. Nada de errado, necessariamente, nesse assédio jornalístico. A secretária poderia tê-lo ignorado ou mandado passear.
Em todo caso, considerando o resto – incluíndo o que ela disse ter falado “por impulso”, sobre origem “estatal” da dinheirama das agências de Valério, e o uso aparentemente impróprio da palavra “negociata” na entrevista – seria bom que um organismo com legitimidade para tal deixasse a história “em pratos limpos”, como o presidente Lula declarou querer que aconteça no caso das denúncias de corrupção.
O silêncio da Carta Capital
O conselho de ética que a meu ver faz tremenda falta ao jornalismo brasileiro teria que se ocupar ainda de outra questão, esta extremamente grave, relacionada com a matéria da IstoÉ Dinheiro.
Leia-se neste Observatório de Imprensa o texto “Uma farsa para abafar um furo”, de autoria do mesmo Attuch. É um canhonaço.
Ele acusa o jornalista Sérgio Lírio de tê-lo difamado ao escrever na presente edição da Carta Capital, que entrevistou Fernanda por instigação do controvertido banqueiro Daniel Dantas, interessado em vingar de Valério, com quem teria se desentendido. Ou seja, teria feito o jogo de Dantas, ou estaria a seu serviço.
A prova seria um e-mail, já citado na seção Radar da Veja, em que os dois combinam a entrega de uma encomenda. Attuch assegura – e parece demonstrar convincentemente – que o e-mail é uma “fraude grosseira”.
O pior é que, segundo ele, Sérgio não o procurou antes de mandar bala. E termina informando que pedirá a abertura de inquérito policial para apurar o crime de falsidade ideológica (a fabricação do falso e-mail) e de processo contra a Carta Capital.
O boletim eletrônico Jornalistas&Cia, na edição que começou a circular hoje, trata do caso e diz que Sérgio Lírio não quis fazer comentários. Nem ele, nem o redator-chefe da revista, Maurício Stycer.
Salvo melhor juízo, não soa a silêncio dos inocentes.