Folha já julgou dinheiro de Cuba
Na página 4 deste domingo (27/11), a Folha de S. Paulo faz um “infográfico” intitulado “Ligações perigosas”, a respeito do conteúdo de telefonemas entre Rogério Buratti e Vladimir Poleto, ex-assessores de Antonio Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto (em mandatos diferentes), gravados pelo Ministério Público. Buratti é apresentado de maneira neutra: “Foi demitido em 1994 por suspeita de distribuição prévia de obras públicas. Em 2004, quando trabalhava na Leão Leão, foi acusado de tentativa de extorsão pela Gtech, no caso Waldomiro Diniz”. Vladimir Poleto é apresentado assim: “Ex-assessor de Ralf Barquete, que era secretário da Fazenda na 2ª gestão de Palocci (2001-2002), foi o indicado por Barquete para transportar, de Brasília a São Paulo, caixas de bebida que continham dinheiro vindo de Cuba. O dinheiro seria entregue ao PT a partir de Ribeirão”.
Já transitou em julgado a vinda de dinheiro de Cuba para o PT.
Mas não há nenhuma autoridade no país que tenha manifestado oficialmente essa certeza. Nem a Veja, que fez a denúncia, tem certeza.
Folha faz agitação em manchete
Da coluna de hoje do ombudsman, Marcelo Beraba:
“O novo capítulo da crise do governo começou no dia 9, com uma entrevista da ministra para o Estado de S.Paulo: ´Dilma descarta ajuste fiscal defendido pelo Planejamento´. Com o agravamento da crise, passou-se a discutir concretamente a saída do ministro. No dia 13, a Folha publicou: ´Caso Palocci saia, Mercadante é a opção´.
A temperatura esquentou de vez na segunda-feira, dia 21. O jornal começou a rodar a edição de terça às 20h30 com a informação de que Palocci tinha pedido demissão na quinta (17) e condicionava sua permanência no governo a mais apoio de Lula. A manchete foi ´Lula elogia Palocci, que ainda avalia se continua no cargo´. Na edição das 23h, o jornal acrescentou uma nota no Painel informando que uma pessoa ouvira do presidente que Palocci ´está fora do governo´ e que iria depor naquele dia na Câmara ´apenas para cumprir o roteiro´. A manchete foi apimentada: ´Lula elogia Palocci, que já pediu para deixar o governo´, e o texto da primeira página deu uma informação que a nota do Painel não sustentava: ´ ´(…) Palocci (…) já avisou ao presidente que deixará o governo, informa o Painel´. Uma confusão. (….)
No caso da cobertura recente, os dois lados da disputa ministerial tentaram manipular a imprensa plantando informações desencontradas. É sempre assim. O que se espera dos meios é que tenham capacidade e independência para separar as especulações e publicar os fatos. A Folha procurou manter seus leitores bem informados depois que o Estado publicou a entrevista da ministra Rousseff que desencadeou a crise. É fato que o ministro Palocci pediu demissão em mais de uma ocasião e fez exigências para permanecer no cargo. Não estou seguro de que o presidente em algum momento tenha dado como irreversível a saída do ministro. É possível. A reconstituição posterior deste momento esclarecerá. De qualquer forma, a edição de terça da Folha foi confusa e errou ao atribuir ao Painel uma informação que a coluna não continha”.
Veja celebra desigualdade
Na Veja desta semana, abaixo do Radar, na coluna do “Sobe”, escreveu-se: “Internet no Brasil. Os brasileiros bateram em outubro novo recorde no tempo de uso residencial da internet”.
Palmas para o Brasil? Não. O tempo médio de uso residencial no Brasil é maior porque a internet é extremamente elitizada no país. Nos outros países, um número maior de pessoas com renda menor usa internet, e passa menos tempo conectado, para pagar menos, sobretudo porque a grande maioria, no mundo todo, ainda usa acesso discado. Nos Estados Unidos, por exemplo, a banda larga era usada por 20% dos usuários em novembro de 2004.
Nota de 28/11: O leitor João Paulo de Souza contesta: ‘Sinceramente, não sei de onde o colunista tirou a informação de que mundo afora o acesso na maioria se dá discado. A banda larga é extremamente popular em toda a Europa, só para começar. Um link de 2 MB para se ter em casa custa o equivalente a 80 reais. No Japão, então, nem se fala. Os EUA a banda larga avança todos os dias. De onde vem a informação que o acesso discado é o maior? Eu desconheço. E provo viajando muito por aí….’
Resposta:
A explicação sobre a liderança brasileira é do Ibope, segundo informação dada por Edson Soares em 30/8/2005 no IDG Now!:
“Apesar da internet no Brasil ainda ser algo restrito a uma minoria, a paixão que a Web causa por aqui só parece ser superada pelo futebol.
Os brasileiros estão entre os grupos de usuários com maior tempo de uso mensal da Web, segundo dados do Ibope/NetRatings, que aponta a adoção da banda larga como uma das causas para esse quadro. De um total de 11,55 milhões de usuários que internet de suas casas no Brasil, cerca de 6,35 milhões ou 55% usam conexão rápida.
Segundo a mesma pesquisa, divulgada em julho pelo Ibope, o usuário com banda larga navega em média 25 horas por mês. Graças ao grupo, a média geral de tempo de navegação mensal do brasileiro é de 16 horas e 54 minutos.
O que colocou o país, na análise do primeiro trimestre de 2005, na frente de potências econômicas onde o acesso é bem mais popularizado, como França (15 horas e 40 minutos), Japão (15h e 35 minutos), Estados Unidos (14 horas e 46 minutos) e Espanha (14 horas e 46 minutos)”.
Repito o que está no primeiro texto, acima: a conexão por banda larga nos Estados Unidos passa agora de 20% (ou seja, quase 80% dos usuários não usam banda larga, diferentemente do Brasil, onde, sendo a internet coisa de elite, mais da metade usam banda larga).
Quanto ao Japão, ver as estatísticas do governo japonês, em tradução livre:
“No final de 2004, usuários de internet com mais de 6 anos de idade chegaram a 79,48 milhões de pessoas, ou 62,% da população. Assinantes de serviços de conexão por banda larga chegaram em março de 2004 a 14,95 milhões” (18,8%).
Confere a informação de que o custo do acesso por banda larga no Japão é nominalmente quase metade do que se cobra no Brasil, o que significa dizer mais barato ainda quando se leva em conta o poder aquisitivo nos dois países.
Veja aqui as estatísticas japonesas. Se o leitor as tiver mais recentes, por favor avise.