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História e memória não são apenas palavras assemelhadas, são afins, seus sentidos estão entrelaçados. Uma nação que não cultiva sua memória dificilmente desenvolverá o gosto pela história. A fama de desmemoriada é a pior que uma sociedade pode ostentar. Equivale a ser considerada fútil, complacente, injusta.
As duas grandes ditaduras do século 20 diferenciam-se no tocante à sua revisão. A memória dos 15 anos do período Vargas foi sutilmente desbotada por uma série de circunstâncias, ao longo de mais de seis décadas. Sobrevive apenas no âmbito do passado, é história.
A memória dos 21 anos do regime militar corre o mesmo risco de descoloração, mas ainda pode ser resgatada, ainda está quente: três décadas é ontem, a verdade está ao nosso alcance – não pode ser desperdiçada.
Uma telenovela do SBT, Amor e Revolução, pela primeira vez tenta levar a sociedade brasileira a reencontrar-se e encarar o seu passado. É ficção mas também é verdade porque cada capítulo encerra-se com um depoimento de alguém que foi torturado ou violentado em seus direitos. A Odisséia é ficção, Guerra e Paz é ficção, Dr. Jivago é ficção: na história da literatura mundial há milhares, senão milhões, de outras obras ficcionais que, não obstante, converteram-se em poderosas alavancas de recuperação histórica.
Não tenhamos medo da arte, nem da verdade – são essenciais para construir o futuro.