Dos jornais que li até agora, só o Globo de hoje dá uma notícia que aparentemente contraria as hipóteses de jornalistas como eu [ver ‘Na crise, pode sobrar para a credibilidade da mídia’, no Observatório da Imprensa] e a percepção de um número presumivelmente ponderável de leitores, a julgar por comentários enviados a este e outros blogs, com referências agressivas à imprensa.
A notícia, como diz o título da matéria do Globo, assinada por Alan Gripp, é que a ‘confiança na imprensa é recorde na crise’.
Foi o que constatou uma pesquisa do Vox Populi, feita por telefone com 7.500 brasileiros, entre 4 de outubro e 7 de novembro.
A pesquisa constatou que dos entrevistados que disseram acompanhar o noticiário sobre a crise (72% do total), nada menos de 70% também disseram acreditar no que lêem, ouvem e vêem.
O dono do Vox Populi, Milton Marques Nascimento Filho, garante que nunca se viu coisa igual no país.
Segundo ele, as pessoas acreditam na mídia porque as denúncias por ela divulgadas ‘se tornaram fatos’.
Confirmando a tendência, outra pesquisa do mesmo instituto, feita ao longo do ano, mostra que 46,2% respeitam a imprensa: em 2004, eram 42,4%.
Essa outra pesquisa mede a confiança dos brasileiros nas instituições. Os resultados mostram que nenhuma outra instituição subiu tanto, proporcionalmente, no conceito do povo. Por exemplo, a instituição mais bem avaliada de todas, a família, com 94,2% dos ‘votos’, ganhou 1 ponto percentual entre o ano passado e este – o que, do ponto de vista estatístico, é irrelevante.
O mesmo vale para as demais instituições em alta (os Correios – por causa da ‘figura simpática do carteiro’, dizem membros da CPI de mesmo nome ouvidos pelo repórter -, os bombeiros, a Igreja, os bancos e os concessionários de serviços públicos).
Na média, as instituições em baixa caíram mais do que aquelas que subiram. A Polícia lidera o ranking negativo, com menos 3,5% (de 37,3% para 33,8%). Fazem-lhe companhia as Forças Armadas (menos 2%), a Justiça (menos 1,8%)e o governo (idem).
O que demonstra a consistência da opinião pública em relação ao tema segurança, em sentido amplo.
A confiança nos partidos políticos ficou praticamente estável (queda de 0,3%). Mas, sendo já a instituição lanterninha (com apenas 7% de menções positivas), não têm mais muito a cair.
O resumo da ópera, em relação ao nosso pedaço, é claro como o dia – naturalmente, partindo do princípio de que a pesquisa do Vox é um retrato fiel da realidade:
A grande maioria das pessoas está muito longe de compartilhar da tese de que a mídia é parte integrante, alguns diriam essencial, do suposto movimento golpista da oposição contra o governo Lula, que o próprio presidente disse existir [ver nota abaixo].
A propósito. Os jornais de hoje noticiam que os petistas mais estrelados corroboraram as declarações de Lula. Dá a impressão de que repórteres e editores não entendem o politiquês.
Esse é o idioma que permite aos que por meio dele se exprimem dizer uma coisa e o seu contrário ao mesmo tempo.
Quem ler com atenção as observações dos petistas citados pelos grandes jornais verá que eles endossaram disciplinadamente a acusação de Lula [o senador Eduardo Suplicy, nem isso, ao rejeitar a sua comparação com a Venezuela] e ao mesmo tempo trataram de baixar a bola da investida presidencial.
Caso típico foi o senador Aloizio Mercadante. ‘É evidente que há setores golpistas [na oposição]’, afirmou. ‘Mas há setores da oposição que são responsáveis e democráticos’.
***
Serão desconsideradas as mensagens ofensivas, anônimas e aquelas cujos autores não possam ser contatados por terem fornecido e-mails falsos.