Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Título diz o que matéria não diz

Títulos que vão além do que dizem as matérias são uma praga do jornalismo. Às vezes, a distorção vai além, por sua vez, da irresponsabilidade. Bate na ética do ofício.

É o caso do título ‘Delúbio desviou R$ 15 mil da Saúde, sugerem grampos’, na Folha de hoje.

Na matéria, que ocupa quatro das seis colunas da página A 4 do jornal, o que se lê é que, segundo a Polícia Federal, o esquema de fraudes a licitações no Ministério da Saúde, investigado na Operação Vampiro, ‘era comandado por dois grandes grupos: um ligado ao ex-ministro Humberto Costa e outro ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares’.

Gravações autorizadas pela Justiça levaram a PF a concluir, diz a Folha, que o grupo de Delúbio ‘efetivamente alcançou, aproximadamente, R$ 15 milhões com o esquema’. O texto entre aspas consta do relatório da polícia.

É bem verdade que a PF incluiu Humberto e Delúbio entre os 42 indiciados nas fraudes em compras de hemoderivados – daí a palavra vampiro – na Saúde desde o governo Fernando Henrique. [O relatório não incrimina nenhum dos titulares da Pasta nessa administração.]

E não há por que descartar de antemão que R$ 15 milhões – ou R$ 120 mil, conforme o trecho do relatório que a matéria reproduz no seu antepenúltimo parágrafo, repassados ‘ao grupo ligado ao tesoureiro do Partido dos Trabalhadores’ – tenham ido parar efetivamente nas mãos de Delúbio.

Mas isso não está dito no relatório da PF em que se baseou a reportagem. O ‘sugerem’ do título é especulativo, uma ilação. Por que não escrever: ‘Grupo de Delúbio teria desviado R$ 15 mi da Saúde’?

Seria o certo. Tecnicamente e eticamente. Nesse tipo de matéria, todo cuidado é pouco.

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