A pesquisa foi feita na Europa mas seus resultados bem que poderiam incluir o caso brasileiro. Ainda não temos dados exatos porque não foi feito nenhum estudo específico nesta área, mas é forte a impressão de que, também aqui, os jornalistas profissionais contaram com um apoio mínimo ou até nulo das empresas jornalísticas para assimilarem as ferramentas digitais para publicação de noticias e reportagens na Web.
O estudo feito pela empresa européia Oriella Public Relations começou, em meados de 2008, com dados fornecidos por 350 jornalistas da Inglaterra, Espanha, Bélgica, França, Alemanha, Holanda e Suécia sobre o índice de informatização e uso da Web nas respectivas redações.
Em junho de 2009, o mesmo grupo foi entrevistado para que os pesquisadores avaliassem o que mudou e o que não mudou na atividade dos profissionais. O resumo do informe acaba de ser publicado no site da Oriella, que exige cadastramento grátis para obter versão em PDF.
A comparação dos resultados de 2008 e 2009 mostra um agravamento do pessimismo dos jornalistas destes sete países europeus em relação ao futuro das empresas em que trabalham. Um terço deles acha que os jornais, emissoras de rádio ou televisão onde trabalham acabarão fechando dentro de cinco anos, por conta de uma queda continuada de 10% nas receitas publicitárias.
Um em cada cinco dos entrevistados já enfrentou o desemprego em conseqüência da quebra das empresas onde trabalhavam. O pessimismo é maior entre os jornalistas ingleses e menor entre os belgas e holandeses.
A outra cara da moeda está na aceleração do uso da internet e dos computadores pelos jornalistas consultados. Entre as ferramentas online, a que mais ganhou adeptos entre os profissionais foi o Twitter que hoje é usado por 70% dos jornais ingleses, enquanto no outro extremo, estão os jornais espanhóis, com apenas 12,1% dedicando algum tipo de atenção ao programa.
Mas o que mais surpreendeu na pesquisa da Oriella foi a revelação de 43% dos entrevistados segundo os quais 60% das notícias e reportagens publicadas, em 2009, pelas empresas onde trabalham foram produzidas originalmente para a Web. Em 2008, a proporção não passava de 40%.
Isto contraria a idéia generalizada de que o jornalismo na Web ainda estaria a reboque das redações de jornais. Confirmou no entanto a percepção de quase 40% dos consultados de que eles hoje trabalham bem mais do que há cinco anos.
Esta sobrecarga de trabalho está sendo parcialmente compensada pelo aumento do uso de Conteúdos Gerados pelo Usuário (CGU) , na forma de comentários, enquetes, produção colaborativa e fóruns. Nada menos que 68% da imprensa dos sete países incluídos na pesquisa, usam rotineiramente as ferramentas de CGU, especialmente os comentários postados em reportagens e notícias.
A utilização do mesmo material jornalístico em diferentes canais de informação (impresso, rádio, TV e internet) também cresceu fortemente na Europa. Passou de 23% para 47% no caso do material visual. Pouco mais de 46% dos jornalistas contratados pela imprensa européia publicam também blogs e 1/5 deles mantém também podcasts e videologs.
O que impressiona na pesquisa é o fato de 67% dos jornalistas entrevistados admitirem que aprenderam por conta própria a usar as ferramentas digitais na produção de noticias reportagens. Isto pode ser comprovado pela avalancha de pedidos de inscrição no curso do Centro Knight, da Universidade do Texas, para jornalistas que desejam entrar na Web. O curso de 50 vagas, já na sua quinta edição, recebeu 174 inscrições em apenas três dias agora em outubro.
O empenho em assumir o custo da formação digital mostra que:
a) Os profissionais estão bem à frente das empresas em matéria de alfabetização digital e de compreensão do potencial da Web na comunicação;
b) As empresas resolveram preocupar-se apenas com o negócio da notícia, deixando de lado o conteúdo e a forma no jornalismo.
c) Além de exigirem mais trabalho, pagando menos, elas também se aproveitam do investimento feito pelos jornalistas na própria formação.
As mudanças registradas na pesquisa apontam também que os jornalistas europeus se mostram indiferentes quanto aos padrões de qualidade informativa nas empresas onde trabalham. A soma dos percentuais dos que admitiram um grande progresso e o dos que apontaram apenas uma modesta melhora, é quase igual ao dos que não perceberam mudança alguma ( 39,4% contra 39,7% respectivamente).
Moral da história: pelo menos na Europa, os jornalistas sabem que estão levando a imprensa nas costas, mesmo reconhecendo que muitos jornais, revistas, rádios e emissoras de TV podem não sobreviver à recessão econômica e à crise no modelo de negócios na mídia.