Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Protestos estudantis na França servem como laboratório de ciber-política


O principal termômetro da crise política provocada pela rejeição estudantil do projeto governamental sobre primeiro emprego já não é apenas o resultado das pesquisas de opinião.


A divulgação dos números sobre acessos à blogs contra e a favor da medida, bem como as estatísticas sobre comentários e postings já provoca tanta polêmica quanto os relatórios periódicos da empresa Sofres , uma espécie de IBOPE francês.


A numerologia é no entato apenas a parte mais visível de uma questão que começa a mostrar até que ponto o exercício da política está sendo alterado pelo uso de ferramentas eletrônicas, como as mensagens instantâneas via celular e o podcasting (blogs com mensagens sonoras).


No caso francês os estudantes contrários ao chamado CPE (Contrato de Primeiro Emprego) sairam na frente lançando vários blogs já em fevereiro deste ano para divulgar suas posições e trocar informações entre seus membros, uma vez que o movimento não tinha líderes e nem estrutura hierárquica.


O primeiro a surgir foi o Stop CPE  , que se tornou o site oficial dos estudantes contrários à CPE e um grande quadro de avisos sobre horários, roteiros e palavras de ordem das manifestações em toda a França. Em fevereiro, houve uma média diária de 200 mensagens colocadas em weblogs franceses sobre o tema CPE. Em março, a média diária quadruplicou , com o pico de 1.200 só no dia 29, quando aconteceu o grande protesto nacional contra o governo do primeiro ministro Dominique de Villepin.


A blogosfera estudantil francesa já tem o seu guru na figura de Valério Motta (não foi possível descobrir se tem origens portuguesas ou brasileiras), que foi o fundador do site do Stop CPE. Em compensação, os defensores do governo criaram o site Facs Bloquées, que faz campanha pela reabertura das universidades cujas instalações estão bloqueadas por estudantes em greve contra o CPE.


A análise dos textos e comentários colocados nos quase 80 blogs franceses que tratam prioritariamente da crise do primeiro emprego mostra um pouco dos novos componentes online nas estratégias de luta política.


O movimento dos estudantes franceses obedece a uma tendência pendular, ou seja, tem altos e baixos em matéria de mobilização, mostrando que não existe um processo linear de acumulação de forças, o grande objetivo dos protestos baseados em organizações políticas convencionais.Este fenômeno pendular é uma das características do ativismo social na Web, seja ele político ou humanitário.


As mensagens de blogueiros frances mostram também que a maioria deles agiu sozinho e só veio a ter contato com outros manifestantes no dia e no local dos protestos, contrariando a tradição de que os grupos se reunem antes da ação.


Um dos grandes dilemas dos sindicatos franceses, que entraram também na crise, foi identificar os líderes estudantis. Na tradição sindicalista, um líder é eleito, mas os estudantes inverteram a regra. As grandes votações foram meramente simbólicas e a grande maioria das manifestações nas províncias foram organizadas sem a liderança da UNEF (União Nacional de Estudantes Franceses).


A política online ainda engatinha mas já se pode sentir que nela as causas são mais importantes que as lideranças, que a mobilidade é um dado estrutural e que as reivindicações pontuais são muitissimo mais importantes do que questões globais e genéricas. Quem desejar mais informações sobre política na Web, sugiro uma vista ao Web Politique.


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