A grande imprensa norte-americana ainda não deu a devida importância, mas a
julgar pelo que já foi publicado por sites como o MixedInk, a revista
online Slate e a página acadêmica Poynter Online, Barack Obama
não terá uma vida fácil – tanto que os internautas já
escreveram, por conta própria, centenas de versões para o discurso de posse do
novo presidente norte-americano.
A revista Slate
lançou, no dia 2 de janeiro, um desafio aos seus leitores para que eles
escrevessem o discurso que gostariam de ouvir na boca de Obama, na terça-feira
(20/1), na cerimônia de posse, em frente ao Capitólio. Duzentos e quarenta e
seis colaboradores apresentaram 226 versões diferentes para o texto, até a noite
do dia 16. A assessoria do presidente eleito não confirmou se ele vai usar parte
dos textos produzidos por voluntários, mas admitiu que Obama está acompanhando a
experiência.
O projeto foi desenvolvido em conjunto pela Slate e pelo site MixedInk, uma
das mais recentes e revolucionárias experiências de produção
colaborativa de informações surgidas na web. O sistema combina
programas como o wiki com fóruns online, editor de texto e pesquisa de opiniões
em tempo real.
O que impressiona na observação das contribuições é a qualidade dos
textos publicados. O texto mais votado até agora começa assim:
‘Dois séculos atrás, um general do estado da Virginia foi o primeiro a fazer
o juramento que eu tenho a honra de repetir hoje, prometer fidelidade à nação
recém nascida.
Quase um século depois, um advogado de Illinois fez o mesmo juramento e ele,
também, teve que lutar. Desta vez para preservar a unidade do país, para
aperfeiçoá-la reconhecendo como cidadãos, muitos dos que foram excluídos apenas
por causa da cor de sua pele.’
A página disponibiliza também os discursos de posse dos 43 presidentes que
antecederam Obama, dando aos internautas a possibilidade de remixar
partes dos textos. Os mais céticos esperavam uma avalancha de diatribes
e uma catarse política impublicável, mas, duas semanas depois, os textos
mostram-se surpreendentemente equilibrados.
Outros sites se especializaram na cobrança das promessas
feitas por Barack Obama durante a campanha eleitoral. Há mais de 50 iniciativas
do gênero e, segundo o site Poynter
Online, elas vão se multiplicar depois da posse. O site PolitiFact, por
exemplo, criou o Obameter
para checar a credibilidade de todos os pronunciamentos presidenciais e cobrar o
cumprimento de 510 promessas eleitorais.
E a revista Congressional
Quarterly está patrulhando as nomeações feitas por Obama para checar
currículos e ligações político/empresariais.
O monitoramento das ações governamentais na gestão George W. Bush já era
intenso, mas estava basicamente limitado às organizações não governamentais e
grupos políticos. Agora o patrulhamento desceu ao nível do usuário comum graças
a programas de produção coletiva e colaborativa de informações
como o MixedInk.
Este tipo de uso político da internet pode ser reproduzido em qualquer outro
país, inclusive o Brasil, porque são tecnologias de fácil acesso e em sua
maioria disponíveis no sistema de código aberto.