Leila Reis escreve a coluna Sintonia Fina no caderno de televisão do Estado de S. Paulo. No domingo passado (30/7) ela mostrou como a palavra de uma senhora de quase 70 anos suscitou uma onda de moralismo. Um trecho da entrevista de Leila foi usado hoje no programa de rádio do Observatório da Imprensa (clique aqui para ler). Eis os demais trechos:
Na cama sem vulgaridade
“Como o sexo é muito, digamos, pujante, de vez em quando as pessoas só se lembram que a televisão brasileira tem problemas quando ela extrapola nessa história de sexo. Mexe com as pessoas. Há casos emblemáticos. Quando o Faustão botou uma modelo nua para alguém comer sushi em cima do corpo dela, acharam que foi demais. Virou um grande problema. E toda vez que se fala em qualidade da televisão, em baixaria, pode-se perceber o discurso de quem não vê televisão. E são geralmente pessoas da classe política, que pegam esse filão para explorar. Dizem: ´O problema da tevê é o sexo e a violência´. E não é.
Onde, na televisão, se tem hoje mais sexo? Nas novelas, quando se conta uma história, uma história de ficção. E atualmente se fala muito das novelas Páginas da Vida, de Manoel Carlos, e Cobras & Lagartos. ´Estão exagerando no sexo´. Não há esse exagero que as pessoas dizem eventualmente que tem. Porque as cenas de cama são feitas com bom gosto não têm vulgaridade, são feitas de um jeito quente, mas a audiência comporta isso, o telespectador evoluiu.
Se isso afugentasse a audiência, a televisão não colocaria no ar. O objetivo final é o olhar do telespectador, esse olhar é vendido para os anunciantes pela televisão. Quando alguém procura algum patrocinador, alguma agência, diz: ´Esse programa é visto´ – é o nosso olhar que está lá – ´por X pessoas do sexo feminino, de tal faixa de idade, tal faixa de renda´. Esse olhar é vendido”.
Linha Direta
“É claro que [o Linha Direta] tem todo um jeito de oferecer isso [show policialesco] como serviço público: no final do programa mostram duas ou três figuras que foram tratadas lá e que foram presas”.
Dercy não atrai moralismo
“Tem uma irresponsabilidade da televisão em vários departamentos que não mobiliza as pessoas. O que mobiliza realmente é o sexo. Ao colocar o depoimento daquela mulher no final do capítulo [de Páginas da Vida, em 15/7] falando do seu primeiro orgasmo, chocou tanto, mobilizou tanta gente, esse vídeo foi colocado em sites. Mas na verdade não era o problema. Primeiro, ali era uma senhora dizendo alguma coisa. E não combinava com aquela mulher. Aí se mexeu com tabus mais profundos. Como é que uma mulher mais idosa se permite uma sexualidade feliz quase aos 70 anos? Ainda mais uma mulher do povo, não era uma atriz. Vê-se a Dercy Gonçalves falando coisas mais picantes, mas isso não choca. Mas ver uma mulher do povo dizendo: ´Eu posso ser feliz´ choca. E aparece o moralismo, o preconceito em relação à mulher idosa, à mulher do povo, e ao sexo”.
Telespectador não é passivo
“A televisão cuida muito bem desse terreno. Já tivemos coisas muito mais grotescas, que saíram do ar. Tinha um tal de Teste de Fidelidade quando o João Kleber estava no ar, que era a maior audiência dele, era grotesco. O Sérgio Mallandro tinha também na TV Gazeta. Saíram do ar. O público também seleciona, ao não dar mais bola para aquilo”.
Do PT ao PSOL
Num estilo que marcou décadas de atuação do PT, a candidata Heloísa Helena, hoje no PSOL, usou informações de correligionários para colocar sob suspeição os critérios de execução da Linha Quatro do metrô paulistano (ver ‘Munição que era do PT agora é do PSOL‘). Hoje o presidente do Metrô, Luiz Carlos David, rebate as acusações e diz em artigo na Folha, sob o título “Gato por lebre”, que ela foi mal informada.
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