Um canal de TV na Georgia causou pânico e confusão, na semana passada, ao
anunciar que a Rússia havia invadido o país. Tratava-se de um telejornal falso,
uma sátira política, mas sua apresentação foi realista o suficiente para
assustar os telespectadores. Muitos não esperaram o fim da reportagem: houve
quem saísse de casa correndo para comprar comida, houve quem ligasse para o
serviço de emergência reportando ataques cardíacos. A Rússia invadiu a Georgia,
de verdade, em 2008, depois do país entrar em conflito com a região separatista
da Ossétia do Sul.
O programa foi gravado em um estúdio normalmente usado para o telejornal da
emissora Imedi. O âncora também era um rosto conhecido do público. Aparentando
nervosismo, ele anunciava confusão nas ruas da capital, Tbilisi, e dizia que o
Exército russo já estava a caminho do país, por terra e ar. Imagens de tanques e
aviões foram mostradas para ilustrar o anúncio jornalístico.
Logo no início do programa, houve um aviso de que aquelas informações eram
falsas. Aparentemente, muitos telespectadores perderam esta parte. Assim que a
Imedi soube da confusão que havia causado, transmitiu um boletim deixando claro
que se tratava de uma simulação e pediu desculpas à população.
Estragos
O pânico maior teria durado cerca de 15 minutos. Foi o suficiente,
entretanto, para fazer estragos. Paramédicos relataram que as chamadas de
emergência na noite de sábado, após a exibição do programa, triplicaram; a
maioria das pessoas queixava-se de sintomas de ataques cardíacos. Filas enormes
se formaram nos postos de gasolina e mercados do país, e o serviço de telefonia
celular foi derrubado por conta do aumento no número de ligações. Em Gori,
cidade que durante a guerra de 2008 foi bombardeada, os habitantes deixaram seus
apartamentos e correram para as ruas assim que foi anunciada a aproximação dos
aviões russos.
A brincadeira que deu errado logo virou questão política. Líderes da oposição
acusaram a sátira de uma manobra do presidente Mikheil Saakashvili para
prejudicar seus opositores, pois a matéria mostrava a oposição política do país
colaborando com os invasores russos. O diretor da Imedi, que é uma emissora
privada, já trabalhou para o governo de Saakashvili.
Uma porta-voz do governo afirmou que o presidente não tem influência alguma
sobre a programação do canal. Saakashvili, por sua vez, criticou o programa por
assustar os telespectadores, mas ressaltou que as pessoas entraram em pânico
justamente porque a sátira mostrou um cenário realista caso a Rússia tente
invadir o país. Informações de Andrew E. Kramer [The New York Times,
14/3/10].